Roubaram o celular e a carteira de Charles dias atrás e agora levaram meu carro... E o celular contendo o número dele atrás, na capa.
Tirando a casa de praia, aquele lugar era horrível e extremamente perigoso. Fui andando, sentindo meus pés doerem nas fissuras da calçada.
Não encontrava ninguém para pedir ajuda. Até que, duas quadras adiante, vi o posto de combustível, sentindo-me mais tranquila.
Quase corri até chegar lá. Assim que vi o frentista, que coincidentemente era o mesmo que havia me atendido quando queimei a perna na moto, falei:
- Senhor, eu fui assaltada. Acabaram de levar meu carro... Bolsa e celular.
- Isso é bem comum por aqui.
- Infelizmente eu soube tarde demais. Não sei se lembra de mim... – levantei parte da calça e mostrei a queimadura recente – Você me ajudou com este ferimento dias atrás.
- Eu... Talvez lembre. – Ele disse, incerto.
- Poderia chamar a Polícia para mim?
- Não tem polícia aqui na cidade... Mas pode ligar para a cidade vizinha.
- Como assim não tem Polícia?
- Temos menos de três mil habitantes...
- E quantos roubos por dia?
- Creio que exatamente pelo fato de não haver policiamento aconteçam os roubos e furtos.
- Eu... Não achei que fosse tão perigoso... Um lugar lindo, com uma praia perfeita...
- Para os lados da praia não tem isso... Não se preocupe. Geralmente seguranças privados fazem vigilância em tempo integral.
- Pode me emprestar um telefone?
Ele apontou para a loja de conveniência. Fui me encaminhando para lá:
- Obrigada!
Peguei o telefone na mão e olhei-o. Eu só sabia dois números de cabeça: os do meu pai e de Colin. Neste caso, não sabia para quem era pior ligar naquele momento.
- Sabrina? – Ouvi a voz masculina do outro lado da linha.
- Pai... Como sabe que sou eu?
- Porque registrei o número do qual você me ligou da outra vez. O que faz ai, garota?
- Pai... Eu fui roubada.
- Roubada? Como assim? – Percebi o nervosismo dele.
- Roubaram meu carro... E levaram junto a bolsa e o celular. Eu preciso de você.
- Estou indo... Fique onde está... Tente manter a calma. Chego o mais rápido que puder.
Pus o fone no gancho e olhei para o atendente, creio que mais jovem do que eu, prestando atenção no que passava na televisão ligada e não em mim. Talvez tenha sido daquela forma que o casal levou a carteira e o celular de Charles naquela noite, sem que ele percebesse.
Recostei a cabeça na parede e senti meu coração bater mais forte. J.R faria picadinho de mim... Não tinha dúvidas.
Peguei uma água gelada com gás e sentei num canto da loja, no chão. Quando o rapaz olhou para mim, finalmente, eu disse:
- Fui assaltada. Não tenho dinheiro para pagar a água... Mas meu pai está vindo. Então... Talvez ele queira pagar a água. Ou tirar esta porra de cidade do mapa. – Ri, nervosamente.
Meu pai chegou mais rápido do que o tempo que levei para encontrar a cidade. Estava no carro com o motorista, dois seguranças no outro carro e acompanhado de um homem, que eu não conhecia.
Assim que o avistei, levantei, amedrontada. Mas ele abriu os braços e corri até ele, sentindo o abraço forte:
- Não fizeram nada com você? – Ele me afastou, olhando meu rosto e corpo.
- Não... – Senti as lágrimas novamente.
Ele me abraçou de novo. Envolvi os braços no seu corpo magro, sentindo a maciez de sua roupa.
Por um tempo, chorei e ele não fez perguntas. Esperou eu me acalmar. E quando isso aconteceu, perguntou, os olhos dentro dos meus:
- O que você faz de novo neste lugar?
Havia explicação? Não, não havia. Como dizer que eu conheci um homem na noite antes do casamento, deixei meu ex noivo traidor no altar e corri para os braços do desconhecido, que me trouxe para uma casa naquela cidade onde vivi as horas mais felizes da minha vida? Então tive que voltar para casa... E o número que dei do meu telefone para ele ficou na jaqueta, que por azar parou no meu próprio corpo. E que ele não trabalhava mais no bar... Mas havia me deixado um bilhete com seu número. E agora eu havia perdido tudo... Tanto o bilhete quanto número... E ele... Para sempre.
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