Olhei-o, incrédula com a agressividade nas palavras dele. Meu pai sabia que eu não tinha escolha. Não tinha para onde ir, nem como viver. Precisava dele... Ou melhor, do seu dinheiro. E se saísse de casa, ficaria sem nada.
Assim que chegamos em casa, desci do carro e fui para o meu quarto. Quando entrei, minha mãe estava sentada na poltrona, de frente para a cama, me esperando.
Calissa Rockfeller usava uma camisola vermelha e um robe longo por cima, um chinelo de plumas branco, comprado na última viagem à França, completava o look dela de dormir.
Eu estava confusa. Parecia que tudo estava errado naquele lugar e nada fazia sentido.
- Como está? Tentei ir junto, mas seu pai...
- Não deixou – completei – Porque é ele que manda... Na casa, na empresa, nas mulheres Rockfeller, incluindo as filhas e a esposa. Porque é só isso que ele sabe fazer: mandar e dar ordens.
- Por Deus, o que houve com você?
- Roubaram meu carro... E antes tivessem me roubado junto. Estou farta disso tudo.
- O que este desgraçado fez com você, Sabrina?
A encarei, com desdém:
- Até você, mamãe? Como pode chamá-lo assim se nem o conhece?
- Nem você o conhece... Sabe que não. Este envolvimento não é de longa data... É recente. Porque eu sei que você gostava de Colin.
- Colin, Colin... Tudo gira em torno da porra do meu relacionamento morno com Colin Monaghan.
- Se seu pai encontrar este rapaz, vai destruí-lo e você sabe disto.
- Ele já está destruído, mamãe... Ele nasceu destruído. Papai não pode fazer mais...
O passado de Charles era mesmo destruído... Ainda assim ele tentava se levantar no presente e o futuro... Ah, o futuro dele era promissor. Eu não o via sendo um cantor de bar noturno. Ele era muito bom para aquilo. Charles brilharia um dia... Como o bom músico que era.
- Querida, você precisa se acalmar. E parar de falar besteiras. Quero que fale com Colin de uma vez. E lhe tire as esperanças que ele ainda tem.
- Esperanças? – Olhei-a, atônita.
- Segurei-o o máximo que consegui. Mas agora não há mais como impedi-lo. Vocês precisam conversar. Não pode fugir disso.
- Mãe, vocês estão querendo me enlouquecer... É isso?
Calissa me deu um beijo na testa e disse:
- Estou tranquila, pois sei que você está bem. Felizmente levaram só o carro e isso pouco importa. Tome um banho e descanse. Procure dormir.
Olhei-a, sem dizer nada.
- Quero minha doce e sensata filha Sabrina Rockfeller de volta. – Ela sorriu tristemente e saiu, fechando a porta.
Aquela Sabrina não existia mais. Ela foi traída... E conheceu um homem que virou seu mundo de cabeça para baixo. E ela não tinha como voltar... Sabrina Rockfeller estava em construção.
Na manhã seguinte, finalmente decidi descer para o café da manhã em família. Há dias que eu não fazia aquilo e que ninguém se preocupava ou tentava me convencer a participa da refeição de forma conjunta.
Quando sentei, meus pais e Mariane já estavam à mesa.
- Bom dia, filha. – Minha mãe sorriu, satisfeita.
- Bom dia, família! – Não consegui conter o tom de deboche.
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