Suspirei e esperei.
Ouvimos batidas leve na porta e duas enfermeiras entraram:
- Com licença. Vamos levar a futura mamãe até a sala para a ultrassonografia.
Sentei imediatamente na cadeira de rodas, antes que elas me ajudassem. Tudo que eu queria era sair correndo dali.
- Quem gostaria de acompanhá-la? – uma delas perguntou, com um sorriso no rosto. – Caso queiram ir os três, o doutor pode trocar a sala, por uma maior.
Olhei na direção deles e ninguém se manifestou. J.R olhava para a janela, sem expressão. Calissa seguia com o telefone na mão, sem dizer nada. Mariane já estava sentada novamente, indecisa sobre ir ou ficar desde que havia chegado.
- Eu... Vou sozinha. – Falei, quebrando o silêncio constrangedor.
Limpei as lágrimas e deixei que uma delas me conduzisse pelo corredor completamente branco e limpo, quase como se estivesse chegando ao céu.
Quando entrei na sala, elas me ajudaram a deitar na maca e passaram um gel sobre a minha barriga. Estava gelado. Eu ainda não conseguia parar de chorar e não sabia se era pela verdade que eu havia contado ou por saber que estava grávida. Sequer tinha chegado à conclusão se era bom ou ruim o que estava acontecendo comigo.
A sala ficou à meia-luz e um médico entrou:
- Bom dia, senhorita Rockfeller. Vou fazer sua ecografia e também serei o seu obstetra, caso não se importe e ainda não tenha alguém em mente.
- Não tenho ninguém em mente, doutor.
Ele sorriu e sentou-se de frente ao equipamento:
- Será um prazer atendê-la.
- Obrigada. – Limpei as lágrimas.
- É normal se emocionar assim – ele tentou me tranquilizar – Além das tonturas, enjoos, você realmente fica mais emotiva. Então chorar não é incomum. E todas as pacientes dizem que a primeira ecografia é a mais interessante.
Olhei na tela, que estava completamente nítida em função da quase escuridão. Assim que ele pôs o aparelho no meu ventre, vi o feto tão pequenino que certamente cabia na palma da minha mão.
- Este é o coração – mostrou-me com uma pequena seta na tela – Pernas e braços começando a despontar. Estamos certamente na sexta semana de gestação.
Exatamente naquele momento, eu conheci o meu amor verdadeiro. E sabia que seria capaz de qualquer coisa por aquele serzinho que começava a se formar dentro de mim.
- Vamos ouvir o coração?
- É possível?
- Sim, é possível. – Ele sorriu e me mostrou os batimentos, fortes e intensos.
“É assim que eu fico quando penso no seu pai, bebê.” Foi o que passou pela minha cabeça.
Eu já estava completamente apaixonada por aquela criança; o meu bebê.
Fechei os olhos e fiquei ouvindo a melodia própria que ele produzia, seu som único, tocando exclusivamente para mim.
- Vai ser uma menina. – Falei imediatamente, quando abri os olhos novamente.
Ele riu:
- Em duas semanas é possível fazer um exame de sexagem fetal. Então poderá saber se é menino ou menina. O certo é que não são dois.
- Melody... – Falei, com a voz fraca, sorrindo em meio às lágrimas.
O médico arqueou a sobrancelha, confuso.
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