- Venha! – Ele me pegou pelo braço, sem muita gentileza, encaminhando-me para o carro, onde estavam minha mãe e Mariane esperando.
O ar condicionado estava ligado e cheguei a arrepiar quando entrei na temperatura gelada, que contrastava com o calor da rua.
- Para casa. – Meu pai falou ao motorista.
Seguimos para casa, em silêncio. J.R sequer olhou na minha direção. Mariane ficou compenetrada no celular e minha mãe vez ou outra me olhava, com o rosto baixo.
Assim que chegamos em casa e descemos, meu pai retirou um lenço de pano do bolso e disse autoritariamente:
- Limpe seu rosto.
Limpei o rosto e estava subindo as escadas quando ele falou, em tom de voz alto:
- Onde você vai?
- Eu... Vou tomar um banho e sair.
- Sair? Onde?
- Eu... Vou contar a “ele”. Preciso dizer que vai ser pai.
Mariane sentou no sofá da sala principal, me olhando confusa.
- Me diga o nome dele. – J.R foi enfático.
Dizer o nome de Charles era acabar com a vida de “el cantante”. Eu poderia morrer, mas jamais entregaria ele ao meu pai. Sabia que a possibilidade de J.R aceitar nosso relacionamento era nula, ainda mais agora com a gravidez. Ele iria encontrar Charles onde quer que fosse e acabaria com sua possível carreira, com a chance de ele ver o filho e destruiria até a possibilidade de ele ser um barman.
Porque eu conhecia Jordan Rockfeller e sabia que ele já havia destruído pessoas ricas, famosas e bem amparadas financeira e emocionalmente por motivos fúteis. Charles era simplesmente um nada para ele.
- Não. – Fui firme.
- Se não quer dizer, é porque ele não é como nós. Você me conhece e sabe que eu não aceitaria uma de minhas filhas com um ninguém. Sempre deixei isso bem claro para vocês, desde que nasceram. Jamais permitirei que um homem entre na minha família para tomar conta do que é nosso, brincar com os sentimentos de quem eu mais amo...
- Pai, Colin brincou com os meus sentimentos. Ele me traiu... – E desta vez eu nem olhei na direção de Mariane, porque não precisava.
- Sabrina, você é jovem. Tem certas situações que ainda não entende... Mas o tempo fará com que mude seus pensamentos com relação a muitas coisas.
- Pai, eu não sei como será o dia de amanhã ao lado do pai da minha filha. E sinceramente, eu não quero saber. Porque planejei uma vida inteira ao lado de Colin e ela não se concretizou. Eu só tenho 18 anos... Me deixei viver o restante da minha vida da forma que eu quero.
- E o que você quer?
- Quero encontrar o pai da minha filha e contar a verdade. Ele precisa saber... Ele merece saber. E isso não foi acaso ou leviandade. Eu me apaixonei.
- Não! Você está proibida de sair desta casa.
- Vai me prender agora, pai? Já não basta todos os castigos? Sabe que não pode me impedir para sempre de sair.
- Eu lhe dou uma escolha, Sabrina. Tira esta criança e fica nesta casa, vivendo a vida que sempre levou. Ou se quiser seguir adiante com esta gravidez, terá que deixar este lugar.
Encarei-o e senti as lágrimas me traírem:
- Isso não pode ser verdade... Porque... Você é meu pai. Não teria coragem de me obrigar a fazer esta escolha.
- Jordan, isso não... Por favor. Não vou aceitar que mande minha filha embora deste jeito.
- Pai, ela está grávida! – Mariane interviu.
- Vocês podem ir com ela se quiserem... Mas terão que abrir mão do seu nome, da herança e tudo que tem, assim como Sabrina.
- Mãe... – Pedi ajuda dela.
- Jordan, não...
- Falei com o médico. A gravidez é recente. O aborto oferece pouco risco para ela. Conforme o feto vai crescendo, se torna mais perigoso. Sem contar o fato de ela poder se apegar à criança.
- Eu já me apeguei... Ela tem um coração... Que bate forte, como uma melodia... Única. Eu ouvi. Ela cabe... Na palma da minha mão. Ela é uma Rockfeller, tem seu sangue.
- Ela? Como sabe que é uma menina? – Ele perguntou, confuso.
- Eu sei... Eu sinto.
- Você tem cinco minutos para fazer sua escolha, Sabrina. – Ele olhou no relógio.
Eu já havia escolhido, creio que na hora que decidi contar a verdade e não fingir que Colin era o pai.
- Deixe-me falar com “ele”... Eu o trago aqui e... Você pode conhecê-lo. Ele é uma boa pessoa... – Era minha última tentativa, em sinal de desespero.
- Não quero um neto bastardo, Sabrina. Todo mundo vai falar... Não basta a porra do casamento que você destruiu. Este homem vai usar você... E a criança para conseguir a única coisa que quer de nós: dinheiro.
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