Do retrovisor do lado de fora eu os via gritando enquanto eu gritava mais alto, não conseguindo ouvir nada do que eles tentavam gritar. O motorista tentava me alcançar pela lateral.
Olhei para o lado direito e me dei em conta de que podia puxar o freio de mão. E assim o fiz. O carro parou. E ouvi o estrondo dos dois homens batendo na lataria.
- Sua louca. – O motorista abriu a porta e me puxou para o lado de fora, de forma agressiva.
Fui até os outros homens, para me certificar de que estavam bem.
- Você... Não sabe dirigir? Por que não avisou? – Um deles perguntou, tocando o peito, com o semblante de dor.
O outro me fuzilou com o olhar. Ambos entraram no carro no qual estavam e foram embora.
- Eu preciso do seu celular. – Falei para o motorista.
Ele nem olhou na minha direção. Fez uma ligação e parecia ter entrado em contato com algum guincho.
- Senhor, eu preciso mesmo do celular.
- Estou com pouca bateria e o guincho vai demorar. Não vou deixar você usar.
Eu ri, incrédula:
- Eu não tenho que ficar aqui com o senhor. Me deve a corrida. Encontre outro taxista agora.
- Você é uma atrevida. Eu lhe fiz um favor vindo até aqui. Avisei que o carro estava ruim.
- Poderia não ter aceitado a corrida. É seu dever me fazer chegar no destino.
- Sim, se você não tivesse quase ido embora com o meu carro e não fosse tão arrogante.
- Arrogante, eu? Onde estão meus direitos?
- Direitos? – ele gargalhou, indo para dentro do carro e fingindo que eu não estava ali – Em que mundo você vive?
- Eu sou advogada.
- Só se for na sua terra, porque você tem no máximo dezoito anos, menina.
- Sou filha de J.Rockfeller.
Ele riu:
- Jura? Por isso está num táxi, no meio do nada, usando estas roupas? Use seu celular então, madame. Se não bastasse ser louca, ainda é mentirosa.
Naquele momento eu percebi que meu pai havia me deixado exatamente como planejou: sem nada, nem a possibilidade de poder usar meu nome, pois não tinha nada que comprovasse quem eu era.
Não me achei arrogante. Mas se o motorista mencionou aquilo, eu tinha que mudar a tática. Eu dependia daquele homem. Quase que minha vida dependia do celular dele.
Peguei o bolo de dinheiro de bolso e mostrei para ele, que arregalou os olhos:
- Eu preciso chegar na praia...
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Lembranças das noites quentes de verão