Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 77

Eu havia adquirido um carro há uns dois anos atrás. Ele vivia dando problemas e era velho. Mas ainda assim era melhor que usar o transporte público com Melody e as várias bolsas que eu carregava, junto com a mochila dela.

Melody passava o dia na escola e Yuna ou Do-Yoon a pegavam no final do dia. A partir de agora eu teria que buscá-la na casa deles, pois tínhamos nosso lar, finalmente.

A vida era uma correria sem fim. E eu não tinha tempo de pensar em nada a não ser trabalho e minha filha.

Charles se tornou um borrão nas minhas lembranças. Eu já não conseguia vê-lo quando fechava meus olhos... Nem sentia mais o seu cheiro. Só tinha certeza de que não era um sonho porque eu tinha uma filha que levava só meu sobrenome. E eu sequer tinha autorização para usá-lo, visto que um dia meu próprio pai me expulsou de casa, com a roupa do corpo, certamente na torcida de que eu me desse mal e voltasse, disposta a abortar o que hoje eu tinha de mais precioso na vida.

Eu era uma boa mãe. Eu superei cada percalço que a vida pôs no meu caminho, em nome da minha filha. Não tinha vontade de rever ninguém da minha família. Também não me importava em saber como estavam. E Min-Ji respeitava minha decisão. A parte boa é que os Rockfeller não sabiam que eu tinha qualquer tipo de relação com a funcionária da mansão. Eu fugia das notícias de Noriah Norte e jamais procurei na internet qualquer coisa que envolvesse o nome Rockfeller.

Sim, eu poderia ir atrás de mais notícias sobre Charles, já que ele tinha simplesmente sumido da internet. Mas estávamos tão distantes, certamente em países diferentes. E eu tinha tanta coisa para fazer, que quando deitava minha cabeça no travesseiro, simplesmente adormecia imediatamente.

Amor jamais foi um sentimento existente entre os Rockfeller. J.R foi capaz de fazer o que fez porque não sabia o que era amar um filho e ser capaz de tudo por ele. Eu vivi dezoito anos numa vida de luxo, onde dinheiro nunca foi problema, tendo tudo que queria, com pessoas me bajulando em tempo integral. E cinco anos da minha vida foram de choque de realidade, especialmente o primeiro deles. Eu fui jogada num mundo completamente diferente do meu, num país que nunca sonhei pisar, no centro de uma família que seguia tradições orientais. Misturamos nossas culturas e nos tornamos um trio cúmplice. Com Yuna e Do-Yoon eu aprendi a ser forte. Eu ouvi verdades que jamais ouviria da boca de outras pessoas, porque o mundo Rockfeller não era real, tampouco leal... Lá eu só ouvia o que eu queria. Ninguém me contestava, ninguém me dizia não, a não ser meu pai, é claro. Porque ninguém contestava ele, o todo poderoso CEO e dono da J.R Recording.

Sofri a dor de não saber trabalhar para arranjar dinheiro. Tive que dividir um quarto minúsculo com Yuna e depois ainda levar Melody para junto de nós. Recebi apoio financeiro e emocional dos meus dois novos amigos. E o que lhes ensinei foi que a vida não era feita só de trabalho e que poderiam ter momentos de lazer. O problema é que acabei me adaptando facilmente à vida deles: mergulhada no trabalho. E eles na minha: se dando ao luxo de se divertirem vez ou outra, fosse passeando num parque numa tarde de final de semana com nossa bebê, ou jantarmos fora, com direito a muita sobremesa.

Do-Yoon e Yuna receberam a minha menina como se fosse deles. E foi ali que criei uma gratidão e um amor sem tamanho por ambos. Ensinei a Yuna segredos sobre tornar o sexo mais prazerosos, mesmo ela tendo poucos parceiros. E quando me refiro a poucos, quero dizer quase nenhum. Mas ela não era virgem, o que já era um bom começo. E ensinei na prática beijo de língua em Do-Yoon, ainda que ele não tivesse coragem para beijar Lianna depois de tantos encontros.

E enquanto o tempo passava, Sabrina Rockfeller foi desaparecendo completamente e uma outra mulher foi surgindo. E ela era Sabrina... Só Sabrina... Simplesmente Sabrina.

Os cinco anos que vivi longe dos Rockfeller foram os melhores da minha vida. Mesmo eu tendo que tomar Vueve Cliqcuot escondido nas casas que limpava e dependendo de meus amigos até para comprar o leite da minha filha.

Melody me fortaleceu. Por ela eu fiz tudo. Por minha filha eu cresci e amadureci e me tornei a mulher que sempre desejei ser: independente e segura.

Descobri que para ser feliz eu não precisava de um carro de milhões, ou uma casa com mais de trinta cômodos. Eu não precisava de uma mesa onde houvesse tanta comida que eu não conseguia provar nem a metade. Eu não precisava de um closet cheio de coisas que eu não usaria nem que vivesse três vidas. Tampouco ir a eventos que eu não gostava para agradar aos outros.

Eu era feliz tomando chocolate quente todas as manhãs, olhando o sol brilhar pela janela, ao lado da garotinha mais linda do mundo inteiro.

Eu era feliz ensinando crianças e adolescentes que tinham dificuldades a entenderem que os números e as fórmulas não eram monstros de sete cabeças.

Eu era feliz tendo um carro velho, mas que me levasse onde eu precisasse.

Eu era feliz quando estava na cama brincando de fazer cócegas com minha filha.

Eu era feliz porque era dona do aroma mais perfeito do mundo e que não tinha preço: o cheiro de Medy.

Eu era feliz porque pela primeira vez tinha amigos de verdade. E eles não falavam o que eu queria ouvir. Ambos diziam verdades e me impulsionavam para frente.

Eu era feliz porque um dia conheci uma mulher forte e ao mesmo tempo dócil e gentil, chamada Min-Ji. E graças a ela eu conheci outra vida... E nesta vida que me encontrei.

Eu era feliz porque era capaz de não odiar todos que me magoaram. Eu sentia pena... E dó por eles não conhecerem tudo que eu conheci quando abandonei aquela vida falsa e de aparências.

E finalmente, eu era feliz porque sabia que um dia, não importava quanto tempo passasse, encontraria um certo cantor que cruzou meu caminho e me deixou a chave da felicidade, que se chamava MELODY.

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