- Eu também. – Confessei.
- Porque ele pode estar diferente das fotos que temos, não é mesmo?
- Você... Olha as fotos?
- Às vezes eu pego no seu celular. Eu acho que sinto saudade dele.
Deu um nó na minha garganta. Segurei as lágrimas antes de dizer:
- Eu não sabia que era possível sentir saudades de alguém que a gente não conhece.
- Mas é, mamãe. – Ela disse seriamente.
- Eu já lhe disse que a gente ainda vai encontrá-lo, não é mesmo?
- Já... Mas eu não vou me importar se você arranjar um namorado antes de nós o encontramos.
- Mas o que eu vou fazer com o namorado, se isso acontecer? – Comecei a rir, limpando disfarçadamente a lágrima que caiu.
- Você vai dizer para ele que o amor da sua vida apareceu. E que ele precisa ir embora.
- Mas isso vai magoá-lo.
- Mas você pode dizer para ele quando começarem a namorar que vão ficar juntos só até meu pai aparecer.
- Eu acho que daí ele não vai querer me namorar.
- Mãe, acho que não vamos mais falar sobre isso.
- Ah... Ótimo. – Balancei a cabeça.
- Mãe, o que é gás?
Como assim? Depois de me fazer chorar falando sobre Charles agora Melody queria saber sobre gás?
- Quer falar sobre gás? – Arqueei a sobrancelha, encarando-a pelo espelho.
- Sim... O que é?
- Gás... É um estado físico da matéria. Ele existe em vários tipos... Mas eu confesso que não sei muito sobre isso. Um exemplo é o gás de cozinha... Usamos no fogão para cozinhar. E ele é extremamente inflamável. Se, por exemplo, riscarmos um fósforo nele, explode.
- Eu nunca mais vou beber água com gás na minha vida.
Sim, aquela era a minha menina, cheia de dúvidas dentro da cabecinha, com tantos “porquês” que chegavam a me tirar da realidade. Melody era gentil, carinhosa, inteligente, ativa e se preocupava com todos ao seu redor. Ela herdou não só os meus ensinamentos, mas também os de Yuna e Do-Yoon. E assim se tornou aquela criança com cinco anos de idade que algumas vezes parecia ser a minha mãe e outras ser só mesmo uma menina de cinco anos, que não sabia o que era gás no contexto da água gaseificada.
Deixei-a na escola, recebendo um beijo gostoso que me faria aguentar até o final do dia, torcendo para chegar a noite e nosso reencontro, onde poderia ter mais outros deles, que me impulsionavam a ser quem eu era e onde eu queria chegar.
Quando estacionei na estrada, em frente à Escola Progresso, senti meu coração bater mais forte. Embora tentasse me convencer de que era só mais uma entrevista e que não daria certo, porque eu era péssima nisso, no fundo tinha sim um pingo de esperanças, pois aquele emprego mudaria minha vida... Para melhor.
A Escola Progresso tomava conta de um bom espaço da quadra, ficando numa esquina. Não havia estacionamento interno, nem muros ou grades que a cercassem. O prédio era de dois andares e o terreno mais alto que a rua, o que a deixava ainda mais imponente e levemente assustadora.
Com a fachada externa pintada de claro, que eu não identificava se era um branco/gelo, ao mesmo tempo lembrando um leve amarelo, podendo também ser um bege maltratado pelo tempo, tinha janelas em vidro quadriculados por todos os lugares. A porta principal era enorme e abria como uma veneziana.
A aparência era de um prédio histórico, tamanhos detalhes mínimos que não passavam despercebidos, muitos deles parecendo antigos e restaurados, como a estátua na frente ou os detalhes em torno das portas e janelas.
Olhei para cima, respirando fundo, ouvindo o agito das crianças e adolescentes, já no período de aula.
Passei pelo zelador, que ficava à porta e fui encaminhada para a Secretaria, que seguia por um longo corredor, onde ficava toda a área Pedagógica e da Direção.
Da Secretaria, me levaram para a sala da Diretora, que me recebeu imediatamente, já que eu tinha horário agendado e havia chegado no tempo exato que ela marcou.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Lembranças das noites quentes de verão