Assim que entrei na sala do terceiro ano, tentei transparecer segurança... Uma segurança que eu estava longe de sentir.
Esperava uma algazarra e crianças. Mas me deparei com rostos sérios e garotos e garotas que não pareciam ser tão mais velhos do que eu.
- Bom dia. – Cumprimentei.
- Você pode sentar aqui do meu lado. – Ouvi a voz do garoto com olhos cor de mel, cabelos castanhos e um sorriso simplesmente incrível.
Nos encaramos um tempo. Meu coração bateu tão forte que senti que todos perceberam. Eu só tive aquela conexão uma vez na minha vida, com um olhar que parecia desvendar não só meu corpo, mas também a alma. Depois de anos eu consegui ver “El cantante” na minha frente e toda sua alegria e sarcasmo. Flashes do passado me tomaram de surpresa, trazendo a moto, a praia, o sexo sobre a mesa, no corredor do Cálice Efervescente, o olhar verde esmeralda nos meus, a música do reencontro, o estranho na “nossa” casa, a jaqueta de couro, o papel dentro do bolso...
- Ninguém avisou que tinha aluna nova. – Falou a garota sentada próxima do menino.
- Eu... Não sou a aluna nova. Sou a professora de Matemática de vocês. – Falei, tentando voltar do passado, sentindo meu corpo trêmulo e a vontade de sair correndo dali, procurando novamente por um homem que sumiu, desapareceu, sem deixar rastros.
- Seja bem-vinda, professora! – O garoto disse surpreso, com um sorriso sarcástico, os olhos me desnudando sem tentar disfarçar.
Todos começaram a rir da forma como ele falou, percebendo a luxúria nos seus olhos. Tentei fingir que não estava me importando:
- Sou Sabrina... Rockfeller. – Me apresentei.
- Sou Gui Bailey. – Ele levantou a mão, fazendo uma contingência, debochado, o meio sorriso dissimulado.
- É um prazer conhecê-lo, Guilherme Bailey. Se gosta de Matemática, creio que vamos nos dar bem.
- Não gosto de Matemática. Na verdade, detesto. Mas confesso que posso começar a gostar a partir de agora... A professora me agrada... Muito.
- Fico feliz em saber. – Fingi não perceber o tom das palavras dele.
Sim, eu tentei dar aula. Mas não houve uma vez sequer que não me senti observada por ele, os olhos me comendo viva. E das vezes que olhei em sua direção, os olhos mel estavam sobre mim. Quase seis anos depois do meu relacionamento de amor conturbado com “el cantante” e meu coração voltava a bater de novo, de um jeito diferente.
Quando deu o sinal, estava a guardar meu material enquanto os alunos iam saindo da sala. Fingi não ver quando ele pôs as duas mãos sobre a minha mesa, mostrando a altura exagerada, os braços fortes demais para o corpo magro, mas bem definido.
Fechei a bolsa e o encarei:
- Precisa de algo, senhor Bailey?
- Senhora Rockfeller, eu não entendi a matéria.
Suspirei, pensando no que dizer:
- Posso revisar na próxima aula... Está bom para você?
- Pode me chamar de Gui. Não sou um “senhor”.
- E você siga me chamando de senhora Rockfeller, por favor.
- Mesmo não sendo uma senhora?
- Eu sou uma senhora. – Afirmei.
- Não, não é... Você é uma gostosa. – Ele disse saindo, sorrindo, os lábios carnudos debochados, as sobrancelhas grossas e bem definidas.
Respirei fundo e disse para o meu coração não me trair. “É só um garoto, Sabrina. Isso deve ser a sua falta de sexo gritando.” Sim, senti minha intimidade encharcar-se enquanto olhava a bunda dele. Era redonda como a de Charles. Dava vontade de apertar.
Ah, Deus, eu sou uma tarada. Uma pedófila. Uma...
- Ele é meu. – Ouvi alto e claro a voz da garota loira, de olhos claros.
- Senhorita Roberts, exijo respeito.
- Então se dê ao respeito. – Ela foi enfática.
A encarei e ela foi firme:
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