- Vinte e dois? – Ele perguntou.
Enruguei a testa, não entendendo.
- Ou vinte e três?
- Vinte e três. Completados há pouco. – Me ouvi dizendo, como se os meses fizessem toda a diferença.
- Tenho dezoito. Mas pode considerar 19 no ano novo chinês. – Sorriu de forma encantadora.
Eu ri e ele tocou meu colo, pegando a concha que adornava meu pescoço. Leu as iniciais e disse:
- O que quer dizer?
Eu retirei a concha dos dedos dele e dei um passo para trás, arredia. Ele havia tocado num assunto extremamente proibido e que me deixava fora daquele mundo, longe do presente.
Eu pude ver Charles na minha frente, as mãos fechadas, me mandando escolher.
Pus a mão direita para frente, não encontrando as dele. Fechei os olhos e balancei a cabeça, tentando dissipar aquela lembrança que me consumia e acabava comigo. Senti a mão quente na minha, que já não tocava mais o ar.
Abri os olhos e me deparei com os olhos cor de mel e não aqueles de um verde indescritível.
- Você é linda! – Guilherme disse seriamente.
Eu deveria me afastar e dizer qualquer coisa. No entanto eu aceitei as mãos dele na minha. O que aquele garoto tinha que me deixava tão confusa física e emocionalmente? Eu não era assim.
Fiquei por mais de cinco anos sem sequer olhar na direção de nenhum homem. E agora encontrava um aluno, de dezoito anos, que me fazia desejá-lo ardentemente, como aconteceu no passado com “el cantante”, onde fui tomada de um sentimento indescritível, tão forte que foi capaz de me fazer abandonar tudo.
A porta se abriu e Do-Yoon apareceu. Eu e Guilherme afastamos nossas mãos imediatamente. Senti o rubor tomando conta do meu rosto enquanto o olhar do meu amigo era sério e confuso:
- Rachel já está na sala. Os pais dela foram avisados. E a vó de Guilherme também.
- Não precisava avisar minha avó, professor. Se bem conheço ela...
- Sim, está vindo para cá. – Do-Yoon confirmou.
- Eu quero permanecer na aula. – Ele disse firmemente.
- Eu... Passei um antisséptico, mas ainda está sangrando... – Falei.
- Pode ir para sua sala, senhorita Rockfeller. Eu termino por aqui. – Do-Yoon foi na direção do garoto.
Quando voltei para a sala, o silêncio reinava entre os alunos. Rachel parecia querer me matar com os olhos e por incrível que pareça, não era bom dar aulas para o terceiro ano sem Guilherme Bailey presente.
Quando deu o sinal, antes de eu descer, fui interceptada por Rachel:
- Acha mesmo que ele pode se interessar por você?
- Garota, você me respeite. Eu fui legal com você hoje, pois poderia ter exigido que seus pais fossem chamados na escola e ter feito algo a respeito do que houve. Você agrediu um colega, dentro de sala. Poderia tê-lo deixado cego se a régua tivesse pego mais abaixo.
- Gui gosta disso. Ele sempre achou legal nossa relação exatamente como é.
- Não acho o que você chama de “relação” algo saudável. E quer saber? Se você fizesse isso com a minha filha na escola, eu não aceitaria de forma alguma.
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