Quando cheguei perto, ela já havia sido socorrida.
- Mamãe! – Ela sorriu e me estendeu os braços.
Peguei-a no colo e a enchi de beijos, me certificando de que ela estava bem.
- Obrigada. – Agradeci ao homem, que levantou.
- Sabrina?
- Guilherme?
- Mãe, você conhece o Gui? – Melody perguntou.
Olhei para os dois, confusa.
- Medy é sua filha?
- De onde... Você a conhece?
- Eu sou voluntário na escola dela... Ensino futebol.
- Gui me ensinou a jogar bola.
- Não tão bem pelo visto... Você caiu. – Observei.
Ele riu:
- Eu ensinei também como cair, não é mesmo, Medy?
- Sim... – ela riu – Eu caí bem?
- Muito bem. – Ele disse.
Segui andando com Melody no colo. Ele seguiu ao meu lado.
- Está monitorando minha vida? – Perguntei.
- Não. É coincidência, acredite.
- Bem estranha.
- Conheci Medy antes de imaginar que você existia.
- Mamãe, você conhece Gui de onde?
- Ele... É meu aluno.
Paramos em frente à Yuna, que ficou a me observar.
- Yuna, este é Guilherme... Meu aluno da Escola Progresso.
- Olá. – Ela cumprimentou-o.
- Oi.
- Vamos continuar o jogo, garotinha? – Ele olhou para Melody.
Garotinha? Não!
Minhas pernas fraquejarem e sentei no banco, sentindo o sangue subir ao meu rosto. Cada ato daquele garoto me levava ao passado de forma cruel, fazendo-me lembrar de detalhes que até então estavam adormecidos dentro de mim. E por estarem tão escondidos, eles não doíam tanto.
Mas agora estavam aflorando... Na concha, na pronúncia da palavra “garotinha”...
Charles, onde você está? O que houve com você, “el cantante”? Chegou a me passar pela cabeça que ele pudesse ter morrido, pois nunca mais, em todos aqueles anos, eu vi sequer uma notícia sobre ele. O mais estranho é que ele era conhecido no Cálice Efervescente, tinha inclusive fãs de outros países. Embora seu nome na internet fosse pouco conhecido e tivesse quase nada de conteúdo, de uma hora para outro nada mais apareceu. Ele cantava bem. Eu apostei que não demoraria muito para ele ser encontrado e explodir nas mídias digitais. No entanto foi exatamente ao contrário: ele se apagou por completo. A luz dele simplesmente se apagou, assim como a minha, quando a dele parou de brilhar.
- Mamãe, eu posso ir? – Melody me olhou.
- Não... Precisamos ir embora. Já é tarde.
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