- Não lhe devo satisfações do que vou fazer depois que sair daqui. – Foram as palavras duras dele ao me encarar.
Alguns riram do comentário dele e outros me observaram, com um olhar de dó. Aquele garoto conseguia ser bem cruel quando queria.
Quando a aula acabou e todos se retiravam, chamei-o novamente:
- Guilherme, poderia vir até aqui, por favor?
Ele veio na minha direção, não demonstrando nada. Nossos olhos se encontraram e eu desviei, guardando meu material:
- Posso saber o que está acontecendo? Você está com algum problema? Posso ajudá-lo em algo?
- Não. Só estou fazendo o que você pediu: me mantendo afastado.
- Eu falei com relação a minha vida pessoal... Não de outra forma.
- Estou me mantendo longe, professora, exatamente como pediu. Caso mude de ideia com relação a isso, precisa me avisar.
- Como assim?
- Se o fato de eu estar afastado lhe incomoda, diga que quer que eu me aproxime – ele foi saindo vagarosamente. Antes de fechar a porta, concluiu: - Mas quando me pedir, não será só como aluno, pode ter certeza.
A porta se fechou e eu fiquei ali, olhando para ela, sem conseguiu me mover. Garoto atrevido... E lindo.
Eu pensava nele algumas vezes. E já o imaginei me tocando. O olhar de Guilherme era de completa luxúria. Mas eu era sua professora. E tínhamos cinco anos de diferença. Talvez agora representasse muito. Futuramente não.
Sério que eu estava pensando no futuro ao lado daquele garoto? Ele era inteligente, debochado, líder, popular, bem quisto por todos, fazia trabalho voluntário com crianças, jogava futebol muito bem... Mas tinha dezoito aninhos.
Com dezoito anos eu estava parindo a minha filha. E tinha sido fodida de todas as formas por um desconhecido numa casa de praia, depois de ter deixado meu noivo traidor no altar.
Yuna e Melody estavam certas. Talvez fosse hora de eu virar a página e esquecer Charles. Me convencer de que foi um final de semana perfeito e jamais voltaria a se repetir. Nunca mais o encontraria.
Estava na sala dos professores quando vi Sibila e a professora de Português falando sobre Guilherme. Me aproximei delas e ouvi a outra professora dizendo:
- Ele é inteligente, mas finge não ser. Eu sei que ele sabe, entende? Mas não sei como tirar isso dele.
- Com licença... Mas estão falando de Guilherme Bailey? – Me intrometi na conversa, recebendo os olhares das duas na minha direção.
- Sim. – Sibila confirmou.
- Ele vai muito bem na Matemática. Acerta tudo. Mas tem estado muito calado nas últimas aulas. Ainda assim não deixa nada por fazer. Mas não participa mais oralmente, como fazia.
- Gui é um menino com inúmeros problemas – Sibila nos explicou – Ele tenta chamar a atenção... Só não sei exatamente de quem. Há um tempo atrás ele fazia acompanhamento na escola com a Psicóloga, pois vivia metido em encrencas, tanto com os alunos quanto com os professores.
- E ele parou o acompanhamento? – Perguntei, interessada.
- Sim. A avó achou melhor ele fazer isso fora da escola. Ele faz terapia, atividade física...
- Futebol. – Lembrei imediatamente.
- Sim... Por ordem da Psicóloga, que solicitou que ele encontrasse coisas que gostasse de fazer e ocupassem seu tempo.
- Eu soube que ele faz voluntariado também. – A outra professora comentou.
- Sim... Então ele não é de um todo ruim, entendem? – Sibila tentou defendê-lo.
- Ele definitivamente não é um garoto ruim. Mas o que o perturba? Por que você só menciona a avó quando fala dele? E os pais?
- Ele foi criado pela avó. São só os dois. Ela tem boas condições financeiras, mas ouvi dizer que a filha gastou boa parte das economias da família.
- A filha... Seria a mãe de Guilherme?
- Sim... Mas isso são boatos. A avó é bem discreta e nunca comentou nada sobre isso. Mas só conhecemos ela aqui na Escola Progresso. A mãe nunca apareceu. E a avó é superprotetora.
- E o pai?
- Eis a questão. O garoto passou a vida sendo disputado pelos pais na Justiça. Ano passado o pai e a mãe perderam definitivamente a guarda, que ficou com a avó, por escolha dele próprio.
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