- Está me convidando para sair, Sabrina?
- Não... Estou convidando para tomar um sorvete comigo e minha filha, Guilherme.
- Pode me chamar de Gui... Não estamos na escola.
Melody chegou com a mochila nas costas. Eu abri os braços para ela vir no meu colo, no entanto ela foi para o colo do garoto, que disse:
- Você é pesada, Medy. Não sei como sua mãe carrega você como se fosse uma pena.
Ela gargalhou:
- É que eu como muita pizza.
- A parte boa é que perde calorias no futebol – ele acenou para a professora – Foi um privilégio acompanhá-la junto de sua turma, senhora Ducan.
- O privilégio foi nosso, Gui. – Ela abriu um sorriso, completamente derretida pelo garoto.
Ele fechou a porta e eu observei:
- Preferia levar Medy do que o hamster. Este bicho parece um rato.
- Mas não é. – Melody garantiu.
- Eu já expliquei tudo para ela, Medy. – Gui garantiu.
- Mamãe, ele não pode pegar sol.
- Gui já me falou isso também. O hamster não vai nem ver a luz do dia, eu prometo.
- Não é para tanto. – Gui começou a rir.
Quando chegamos no carro, Melody abraçou Gui e disse:
- Nunca mais vamos nos ver, Gui?
- Talvez isso aconteça... Mas não hoje. Porque sua mamãe me convidou para tomar sorvete.
Ela deu um gritinho histérico:
- Oba! Eu gosto de baunilha.
- Jura? É meu preferido também. Vai querer quantas bolas?
- Três.
- Três – confirmei – Porque não sei se sabe, Gui, mas eu sou mãe de uma formiguinha.
- Eu ouvi a respeito. – Ele abriu a porta e a pôs na cadeira, trancando o cinto, sem que eu precisasse explicar como fazia.
Conferi se estava bem preso e quando retirei meu corpo de dentro do carro, ele estava com os braços cruzados, rindo:
- Eu sei fechar o cinto, senhorita Rockfeller.
- Só fui me certificar. – Me dirigi até o outro lado do carro e abri a porta, pondo o animalzinho ao lado de Melody, no banco traseiro.
Sentei no banco do motorista e ele abriu a porta, sentando ao meu lado, sem rodeios:
- Quer apertar meu cinto? – Olhou-me de forma irônica, aguardando qualquer reação, fazendo meu estômago retrair.
Puxei o cinto sobre o corpo dele e afivelei. Quando fui retirar a mão, ele pôs a dele sobre a minha. Nos olhamos e Guilherme disse:
- Faz bem, Sabrina. Já que estou no seu carro, é responsável por mim.
- Eu...
Eu não consegui terminar a frases, porque nem tinha mais certeza do que ia dizer. Ele pegou minha mão e pôs sobre o volante, fazendo-me voltar do transe.
- Podemos ir na sorveteria perto da praça... O sorvete lá é ótimo. – Ele disse de forma tranquila, como se nada tivesse acontecido minutos atrás.
- Não... Eu conheço outra.
Mentira, eu não conhecia. Mas não iria com ele para a praça, exibi-lo em público ao lado da minha filha, num dia de semana, como se fôssemos íntimos.
Encontrei uma sorveteria aleatoriamente e estacionei o carro. Vi que tinha mesas na rua e desta forma poderíamos levar o hamster junto.
Sentamos numa das mesas na área externa. Estava anoitecendo e tinha bastante pessoas no local.
- Eu vou buscar os sorvetes. – Disse Gui, levantando.
- Não precisa, eu pego. – Levantei também.
- Nem pensar.
- Eu convidei.
- Faço questão, por favor... – Ele me encarou seriamente.
Sentei, sem contestar. O deixaria pagar os sorvetes.
Enquanto ele estava no interior da sorveteria, fazendo os pedidos, eu e Melody observávamos um garoto de no máximo quinze anos se exibindo com manobras de skate na calçada.
Guilherme retornou acompanhado de uma atendente, que trouxe as taças com os sorvetes.
- Três bolas de baunilha com confeitos coloridos. – Medy falou quase sem acreditar.
- Gostou?
Ela assentiu com a cabeça antes de provar uma farta colherada.
Na minha taça tinha três bolas também: duas de chocolate e uma de baunilha.
- Como sabe que eu gosto de chocolate?
- Posso ter dado uma espionada na sua vida, “professora”.
- Hum, isso não é legal, “aluno”. Aliás, acabou o seu voto de silêncio contra mim?
- Contra a professora não.
- Mas está falando comigo.
- Não... Aqui você é a Sabrina, mãe da Medy, minha garotinha preferida no mundo inteiro. – Ele tocou o nariz de Melody, que tentou piscar um olho, nos fazendo rir.
- Gui, aquele menino é bom no skate – Melody observou, com a boquinha suja de sorvete.
Guilherme pegou um guardanapo e limpou-a. Provou uma colherada do meu sorvete e disse:
- Seu chocolate é melhor do que o meu... Não entendo.
Pus a colher na taça dele e peguei sorvete, provando:
- Hum... Não me parece. – Comecei a rir.
Melody ainda estava encantada com o menino e o skate:
- Eu posso ter um skate?
- Isso é perigoso, Medy. – Observei.
- Não é não. E eu vou provar.
Dizendo isso, Guilherme levantou e foi até o garoto, pedindo o skate. Subiu sobre a tábua de rodinhas estilizada e começou a fazer várias manobras, deixando eu e minha filha sem piscar, completamente admiradas pela habilidade dele.
Quando terminou de se exibir, fazendo o skate girar várias vezes sob seus pés, ele recebeu aplausos dos presentes.
Assim que Guilherme sentou, perguntei:
- Mais alguma habilidade sua que eu deva saber?
- Sim... Tem uma que você precisa muito ver. Nesta eu sou bem melhor que no skate... E do que na Matemática. – Ele sorriu, sarcástico.
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