Eu poderia me entregar àquele beijo, mesmo sabendo o quanto era arriscado. Mas não consegui. Porque eu não sentia Guilherme e sim Charles naquele momento. Minha mente enganava-me tanto que até o perfume barato de “el cantante” tomou conta do lugar.
Empurrei-o com certa dificuldade, os lábios dele me deixando vagarosamente, a sensação de querer seguir, mas o medo de as lembranças me deixarem ainda mais vulnerável.
- Não podemos, Gui... Não!
- Não me deixe assim... Eu estou completamente louco por você. – Os olhos dele brilhavam e meu coração parecia que sairia de dentro do corpo.
Desvencilhei-me dele e peguei minha bolsa, indo até a porta e abrindo-a, enquanto saía pelo corredor. Não havia nenhum estudante naquele andar. Desci as escadas sentindo o suor escorrendo pelas minhas costas enquanto ouvia os passos dele atrás de mim.
Assim que cheguei ao último degrau, ele pegou-me pelo braço:
- Você não pode negar que também me quer, Sabrina.
- Fale baixo, porra! – Olhei para os lados, temendo ser observada.
- A professora fala “porra” – ele sorriu de forma debochada, daquele jeito que me encantava e deixa-me sem chão – Eu gosto disso... Gosto muito.
- Deve ter câmeras por aqui, meu Deus!
- Não há, eu garanto. Tentaram colocar há um tempo atrás, mas os estudantes foram contra.
- Mas... E a segurança que elas trariam?
- Isso tira toda privacidade.
- E o que os pais acharam disso?
- Os pais fazem o que os filhos querem.
- Que mundo estamos vivendo! – Puxei meu braço e segui, com ele ainda atrás de mim.
- Um mundo onde o aluno se apaixona loucamente pela professora.
- Guilherme, tire isso da sua cabeça.
- Eu estou apaixonado por você, Sabrina.
- Por Deus, fala baixo.
- Então diz que vamos continuar o que começamos, em outro lugar.
- Não!
- Se não disser que nos encontraremos de novo, fora daqui, eu vou gritar para toda a escola que estou louco por você.
- Não... Você não faria isso. – Fiquei amedrontada.
- Eu faria qualquer coisa por você, Sabrina.
- Seu doido.
- Doido por você.
- Guilherme, por favor, me deixe em paz. Foi um erro... Um terrível erro.
Enquanto falávamos baixo, Sibila estava saindo da sua sala, encaminhando-se para o espaço onde os professores ficavam no intervalo.
Nos observou curiosamente, vindo em nossa direção:
- Tudo bem por aqui? – Sorriu.
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