Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 96

Se Yuna disse que não poderia contar, Melody realmente não contaria, pois levava muito a sério o que a “tia emprestada” falava.

- Eu... Vou indo. – Gui tentou me entregá-la, sem sucesso.

Melody grudou-se nele, as pernas enroladas em seu corpo:

- Gui, vamos tomar chocolate quente todos juntos? Eu, você e minha mamãe. – Ela pegou a minha mão, fazendo-me aproximar-se deles.

A respiração de Guilherme ainda estava ofegante. Eu tentava me recompor e pôr os pensamentos em ordem.

- Filha, é tarde, muito tarde. Gui tem aula amanhã e precisa dormir e descansar.

- Mas amanhã é sábado. – Ela lembrou.

Revirei os olhos e sentei no sofá. Guilherme sentou ao nosso lado, com ela ainda no colo.

- Mamãe, eu quero um copo bem cheio de chocolate quente.

Peguei a térmica que ele havia trazido e fui até a cozinha, enchendo as canecas. O cheiro estava bom.

Me vi pondo água atrás do pescoço, tentando apagar completamente o fogo que me consumia há minutos atrás.

Respirei fundo, apoiando-me no balcão da pia e segui, com as canecas de chocolate fumegantes.

Sentei-me no sofá e eles estavam com a televisão ligada, olhando um filme infantil, que Melody já havia assistido no mínimo umas vinte vezes, só naquele mês.

Melody estava sentada no sofá e Gui ao lado dela. A pus no meu colo e assoprei o líquido da caneca dela, tentando esfriar seu chocolate.

Os olhinhos dela estavam vidrados no filme, mas vez ou outra ela contava para Gui o que iria acontecer, ou falava junto do personagem, já tendo decorado exatamente todo o diálogo.

Bebeu seu chocolate, sem dizer nada, pois estava muito concentrada.

Vi a caneca de chocolate na altura da minha boca. Gui a segurava, para eu conseguir beber:

- Prove enquanto está quente. – Ele disse.

Aceitei o gole do líquido escuro, cremoso e doce. Estava maravilhoso. Encontrei seus olhos, que estavam fixos nos meus, esperando por um veredito.

- Obrigada... Está muito bom.

- Fico feliz que tenha gostado. – Sorriu, de uma forma tão natural, ficando ainda mais lindo, em nada parecendo aquele garoto forçado da escola.

Enquanto Melody repousava sobre meu colo, Guilherme segurava a caneca para eu beber. Aquilo me deixou encantada e sentindo-me segura e acolhida, depois de tantos anos.

Sim, ele era um garoto de 18 anos. Eu com 18 anos fui mãe. E a maternidade, que veio junto com a expulsão de casa, me pondo num choque de realidade, me fez amadurecer e crescer.

Eu fui acolhida por Yuna e Do-Yoon. E se não fosse os dois, jamais teria conseguido. Me ajudaram financeiramente e me ensinaram a ser uma pessoa melhor. Cuidaram da minha filha e acreditaram que eu superaria todos os obstáculos.

Mas sempre me senti solitária. E talvez por este motivo fiz uma espécie de bolha ao redor de mim e Melody. E decidi que viveria com e para ela. E me pus de lado... Esqueci que eu não era só Sabrina Mamãe... Eu era Sabrina mulher. E me anulei completamente. Por cinco anos eu não saí, não bebi, não fiz nada do que uma pessoa normal da minha idade faria.

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