Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 99

- E eu vou te dar um conselho como... Bem, acho que como ex namorada ciumenta e vingativa: deixe Gui em paz ou vou postar o vídeo na internet.

- Você não pode fazer isso. Eu a processaria.

- Eu sou de menor.

- Seus pais pagariam por seus atos.

- Eles têm dinheiro.

- Eu acabaria com você e o nome da sua família para sempre.

- Tem noção que se eu abrir a minha boca, você vai ser demitida e nunca mais conseguirá um emprego na sua vida? Você é uma professora vagabunda que deu para seu aluno gostoso.

Não, aquilo não estava acontecendo. Como me deixei ser filmada? Como fui tão idiota e ingênua? Eu demorei anos para me reerguer e agora via tudo ruir novamente, por conta de alguns minutos de inconsequência, que pensei com a boceta e não com o cérebro.

- O que você quer?

- Diga para Gui que não o quer mais. O deixe em paz.

- Eu já fiz isso.

- Saia da escola.

- Eu... Não posso sair. É o meu emprego. Corri atrás disso a vida inteira.

- Eu não tenho nada a ver com isso.

- Rachel, você quer Gui. Eu quero o meu emprego. Embora não ache que ele seja uma moeda de troca, aceito.

- Saia da Escola Progresso, Sabrina.

- Não vou fazer isso. – Fui firme, mesmo me sentindo amedrontada e sem alternativas frente ao que ela tinha contra mim.

Ela riu:

- Vamos ver quem vence.

- Gui jamais vai perdoá-la se me prejudicar. E me pergunto: você vai chantagear as pessoas a vida toda por ele? Sabe que haverá outras garotas... E vai enfrentar cada uma delas?

- Sim, eu vou. E destruirei uma a uma, como fiz a vida inteira.

Ela virou as costas e saiu. Corri atrás dela e segurei-a pelo braço, fazendo-a me encarar:

- Por favor, eu não vou mais aceitar que ele se aproxime de mim. Deixe-me provar que estou disposta a me afastar completamente. Mas eu preciso do emprego.

- Eu vou pensar. Podemos negociar, afinal, minhas notas não estão muito boas. Quem sabe você pode mudar isso? E conversar com alguns professores sobre mim, dizendo o quanto sou esforçada e dedicada?

- Mas você não é...

- Mas eles não sabem. – Ela sorriu sarcasticamente.

Soltei o braço dela, que virou as costas e se foi, entrando num carro com motorista que a esperava.

Sim, uma menina mimada e cheia de vontades, que não aceitava perder nada. Se achava dona de tudo e todos, inclusive pessoas. Eu conhecia alguém assim... E ele chegou tão longe que expulsou a própria filha de casa, por status e dinheiro.

Sentei-me no chão, olhando as estrelas no céu, deixando as lágrimas escorrerem, tentando acalmar meu coração. Estaria Charles olhando o mesmo céu que eu naquele momento? Por que eu estava pensando nele, quando novamente o mundo estava desabando na minha cabeça?

- Eu sou uma idiota... Mil vezes idiota. E ainda por cima, assassina de animais fofinhos. – Deitei no chão, em frente ao quintal de minha casa, quando passava da meia noite, parecendo uma louca.

E quem não era um pouco louco na vida? Afinal, era possível não enlouquecer quando se trabalhava um dia inteiro para aproveitar a vida algumas horas antes de dormir? Porque sempre que amanhecia, era preciso trabalhar... E era um círculo vicioso.

Era possível não enlouquecer quando você passou quatro anos da vida ao lado de uma pessoa que um dia antes do casamento dormiu com sua irmã?

Era possível não enlouquecer quando você foi multimilionária e hoje estava nas mãos de uma adolescente sem vergonha e doente que me chantageava da pior forma possível e eu me via obrigada a ceder porque precisava de dinheiro?

Era possível não enlouquecer quando você conheceu o amor da sua vida e o perdeu, porque era uma azarada sem nenhuma explicação da vida?

Era possível não enlouquecer quando seu corpo cedeu a excitação momentânea e você foi burra o suficiente para deixar um aluno tocá-la dentro da sala de aula?

Era possível não enlouquecer quando você matou uma tartaruga, um hamster e viu um peixe ser assassinado à sangue frio na sua frente, partindo o coração da pessoa que você mais amava no mundo?

- Ok, eu vou no Psiquiatra. Ele certamente vai atestar que sou louca e me medicará. Então eu vou voltar a ser normal.

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