O escritório permaneceu no mais absoluto silencio com exceção do som da respiração do casal. Emma ainda mantinha os seus olhos entreabertos ao olhar para o homem a sua frente, enquanto em sua mente tudo não passava de um sonho. Raoul permanecia sério, a encarando. Ao mesmo tempo em que o silencio seria considerado uma dádiva podia ser dito como um tormento. Na face da jovem um sorriso singelo brotava, o seu olhar brilhava em expectativa.
–Seu olhar frio é agradável quando me olhar com ternura – ela murmurou ao fechar os olhos e erguer a sua mão, tocando em seu rosto – em meus sonhos... não faz diferença em estar tocando o seu rosto em meus sonhos ou na vida real.. em todos.. consigo sentir o seu calor.
Raoul segurou em sua mão, ainda mantendo em sua face, fechou os olhos e um leve sorriso brotou em seus lábios.
–Eu também sinto o seu... – murmurou ao abrir os olhos, aproximar os seus rostos e a beijar delicadamente, afastando-se em seguida – será que vai se lembrar disso? – indagou-se ao sussurrar em seu ouvido – O que sinto por você.. nem o inverno mais rigoroso do mundo conseguiria congelar. Meu coração... bate forte sempre que lhe vejo, pequena Emma. – afastou-se depositando um beijo em sua testa.
***
Enzo passou pela secretaria de Raoul com o semblante divertido. Ele segurou os balancetes a medida que avançava para a sala de seu primo, mas ao abrir a porta, parou abruptamente. Viu Emma acariciando o rosto de Raoul e a expressão de felicidade em seu rosto. Tentou fechar a porta e ir embora, mas não conseguiu. Escutou a voz de Emma e em seguida a de Raoul. Com o coração partido deu as costas e saiu fechando a porta atrás de si.
–Senhor Belinni? – a secretaria de Raoul disse ao ver Enzo parado de costas para a porta da sala de Raoul – precisa de algo? O senhor Belinni está ocupado, mas...
–Não. Não preciso mais de nada – murmurou pensativo ao ir embora.
***
Emma sentiu algo sobre o seu corpo ao abrir os olhos, após se espreguiçar. Olhou em volta e suspirou frustrada ao perceber ter adormecido. Olhou para o seu corpo e sorriu ao ver o paletó de Raoul sobre o seu corpo.
–Ele consegue ser gentil quando quer.. – murmurou para si mesma. Aos poucos algumas cenas lhe vieram a mente – só poderia ser um sonho de qualquer forma... – levantou-se, abraçando o paletó dele e olhou em volta. Se viu sozinha no escritório. Viu o horário no relógio e suspirou. Parou em frente as grandes janelas ficando parada apreciando a vista. Estava tão absorta em seus pensamentos que não escutou o barulho da porta, minutos depois.
–Vejo que acordou – Raoul falou ao entrar em sua sala segurando algumas sacolas. A observou virar-se e o encarar com as faces levemente avermelhadas – é a única pessoa que conheço que vem falar comigo e adormece.
–Eu.. não foi minha intenção.
–Eu sei – depositou as sacolas em cima de sua mesa com o semblante relaxado – quer comer agora?
–Comer?
–Imagino que esteja com fome.
–Bem... um pouco – ela não havia percebido, mas ao sentir o aroma lhe preencher as narinas o seu estomago roncou em resposta. – eu.. vim falar uma coisa importante.. na verdade vim perguntar algo e...
–Não prefere esperar ate acabar de comer? – “Então ela não se lembra” pensou.
Emma estranhou o seu modo gentil, mas optou por aproveitá-lo. Ela não imaginava o tipo de reação que ele poderia ter ao confessar o seu amor. Sentou-se na cadeira indicada por ele e o viu a servir. Ficou surpresa ao vê-lo depositar pratos de porcelana em sua frente.
–Espero que goste – Raoul tornou delicado ao servi-la com o que havia escolhido no restaurante. Viu o olhar da jovem brilhar e sorrir para ele. Raoul sentou-se em sua frente, servindo-se e logo comiam em silencio.
–Estava muito bom – Emma falou minutos depois ao depositar os talheres em cima do prato. Ficou observando Raoul terminar de comer e sorriu. – “Ele parece bem calmo.. a sua boca me parece mesmo perfeita” pensou ao fitá-lo. – Sente... algo por mim? – perguntou sem perceber envolvida pelo momento.
Raoul a olhou fixamente por alguns segundos, sorrindo levemente em seguida.
–Sentir... – repetiu pensativo – sabes que a sua pergunta abrange muita coisa, não é? Posso responder que sim por inúmeros sentimentos desde compaixão a ódio.
–Verdade – murmurou frustrada – Raoul.. o que quero saber é...
–Porque está insistindo tanto nisso?
–Hã
–És a primeira vez que vem aqui e me espera. Agora vem fazer perguntas como esta.. está querendo saber se a amo, é isso? – ele a viu ruborizar e assentir em seguida com o olhar perdido – bem como devo responder esta pergunta? – indagou-se ao se levantar da cadeira onde estava. Parou ao lado dela e ofereceu a sua mão. Ela o olhou apreensiva, mas segurou em sua mão. Logo foi puxada em direção aos seus braços. Ficaram abraçados sentindo o calor do corpo um do outro – espero que isto responda a sua pergunta – murmurou antes de beijar os seus lábios.
Emma sentiu as suas mãos percorrerem o seu corpo, sentiu a sua mão segurar sua nuca e aprofundar o beijo. Aquela não era a resposta que desejava, mas para ela bastava por aquele momento.
“Não é o bastante, mas... por algum motivo isso me faz feliz. Vou aceitar isso como uma chance. Eu ainda tenho chance de fazer você se apaixonar por mim” pensou.
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