O único motivo para Emma ter aceitado ir com Raoul foi para provar a si mesma que ele estava enganado e que seus pais nunca teriam a vendido para ele. O caminho foi feito no mais absoluto silencio. Raoul mal olhava para a jovem sentada ao seu lado no carro, enquanto ela mantinha-se impassível com a mente dispersa.
Assim que o carro dele, um jaguar preto, parou em frente a um condomínio, Emma olhou em volta e percebeu ele não ter mentido sobre o dinheiro.
“Isso não quer dizer nada” pensou ao começar a sentir duvidas. Raoul estacionou o carro em sua vaga, saiu e esperou por ela impaciente. No fundo ele não pretendia levá-la consigo, mas deu-se conta que aquela seria a melhor forma, pois dali há um ano se divorciaria dela e tudo voltaria a ser como antes. E para isto pretendia ficar de olho nela.
Entraram juntos no elevador. O espelho refletia um homem frio e uma jovem temerosa. Emma segurava com força a alça de sua mochila tentando não transparecer o medo que começava a tomar conta de seu corpo. As portas pesadas se abriram, ele saiu retirando uma chave do bolso. A jovem Emma olhava tudo com curiosidade. Surpreendeu-se mais uma vez ao dar-se conta que encontrava-se na cobertura de um rico edifício. Raoul se caminhou para uma porta, a abriu e olhou para Emma, a qual estava parada.
–Entre – disse frio a olhando duramente. Ela passou por ele de cabeça erguida, ao adentrar o apartamento sentiu uma aura fria e superficial emanar dele.
Observou cada móvel da sala, cada detalhe estranhando não haver porta-retratos com a foto de ninguém.
“Este apartamento mais parece uma casa de comercial. Não há calor e nem amor, há apenas frio e solidão” pensou.
–É hora de esclarecermos algumas coisas – Raoul falou autoritário ao trancar a porta atrás de si encarando a jovem deslumbrada a sua frente. – Tem um quarto para você nesta casa, mas haverá regras. Não poderá fazer nada sem me falar antes, pode pensar em mim como.... um tio ou algo similar. Não serei seu marido fique tranquila, pretendo apenas a manter ao meu lado durante um tempo e em seguida cada um irá seguir o seu caminho, sem interferir na vida um do outro, é claro. Não deverá dizer a ninguém que está casada comigo. Voltará para o colégio esta semana e....
–Um momento – o interrompeu séria – só vim com o senhor para descobrir a sua mentira. Assim que tudo estiver resolvido voltarei para o abrigo. Não ficarei ao lado de alguém que não conheço.
–Preferes morar em um lugar daquele do que aqui? – esboçou um sorriso irônico ao prosseguir – sinceramente creio que em sua mente o mundo é perfeito, cor de rosa e o príncipe irá buscá-la galopando em seu alazão branco, estou certo?
–Qualquer lugar me parece ser mais adequado do que morar com o senhor.
–Que seja – disse por fim – amanhã irei levá-la aquele mesmo advogado com quem foi com seus pais. Ele é o advogado da minha família, ele irá lhe informar de tudo e mostrar qualquer documento que informa a minha... Inocência. – sorriu – irei mostrar o seu quarto enquanto isso. Venha comigo.
Ela não queria acreditar nele. O seguiu a contragosto e ao vê-lo abrir uma porta surpreendeu-se ao ver a decoração do quarto. As paredes possuíam um tom de gelo, uma pequena varanda era escondida por uma cortina branca. Uma cama de casal preenchia um lado do quarto onde na parede podia-se ver um adesivo na cor preta em formato de flores. O guarda-roupa era de porta de correr na cor marrom claro. Um tapete felpudo branco cobria o chão havendo ainda uma poltrona azul clara e duas mesinhas ao lado da cama e uma em um canto do quarto onde tinha um notebook.
–Há algumas roupas guardadas, só não sei se serão seu numero. Qualquer problema basta me avisar – falou antes de dar as costas a ela e sair do quarto com um sorriso no rosto – “Ficou tão deslumbrada com tão pouco. Imagino quando descobrir que herdaria metade de uma grande empresa se eu não tivesse feito este casamento ridículo” pensou ao ir para o seu quarto, o qual ficava ao lado do dela.
***
Lemos tentou sorrir simpaticamente para a jovem sentada a sua frente, sem sucesso. Raoul havia ligado para ele e informado, com sarcasmo, que levaria a sua esposa em seu escritório para que ele esclarecesse toda a situação a ela, mas simplesmente não conseguia. O olhar dela o deixava desnorteado. A ultima coisa que pretendia era acabar com a confiança dela nas pessoas.
–Lemos, não tenho todo o tempo do mundo – Raoul disse ao revirar os olhos sem paciência. Ele estava sentado há dez minutos sem que ninguém falasse nada, apenas olhavam um para o outro.
–Senhor... – Emma começou insegura apertando uma mão contra a outra – poderia me dizer se é verdade que estou casada com este senhor? – apontou para Raoul esperando ver um sorriso na face do homem mais velho, mas ao vê-lo olhar sem graça para ela, percebeu que Raoul estava certo.
–Infelizmente sim. Seus pais.... Eles...
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Lição de Amor