Amanda
Pareceu um longo caminho, foram apenas algumas quadras, mas realmente foi interminável para mim. Eu já estava até contando as casas que passávamos em frente.
Quando finalmente chegamos no "hospital", percebi uma pequena movimentação de mães com crianças no colo chorando, revelando o ambiente doloroso que é um hospital. Detesto hospitais.
Passamos pelos corredores e ninguém perguntou nada, foi como se tivéssemos passagem livre. Percebo. O quanto esse lugar é precário, eu vim aqui só algumas vezes quando o meu irmão era bebê, por sorte ninguém fica doente lá em casa.
Só não entendo o porquê o Felipe veio nesse lugar, se ele tem dinheiro pra ir se tratar na Espanha se ele quiser.
— Tudo tranquilo até agora? — o sapo perguntou pro nenão.
Que merda o nenão está fazendo aqui? Se o Felipe fica doente todos vem ao hospital com ele?
— Tudo de boa por enquanto, — o nenão respondeu me olhando com simpatia, — fala patroa, — me cumprimentou com um sorriso divertido.
— Patroa? — questionei sem entender, ambos riram.
Ignorei e segui o sapo até uma porta aberta. Ele me deu sinal, dando a entender que o Felipe está ali dentro.
Ficamos parados na porta, logo vi o Felipe encarando o teto. Com certeza está viajando na maionese.
O quarto é pequeno, tem só a cama, um pequeno armário do lado e um suporte de soro.
— Ela está aqui, mano — o Sapo avisou.
O Felipe me deu uma breve olhada, analisando o meu corpo.
Ele tem saúde pra isso?
— Valeu, mano, — Felipe respondeu.
Sapo saiu e fechou a porta do quarto, aproveitei para me aproximar do Felipe pra constatar o quão grave ele está.
Não vejo hematomas, mas ele está tomando soro. Certamente é pra cuidar de alguma dor interna.
— Você deve estar mal mesmo, está até tomando soro.
Meu sangue está gelado dentro de mim, este não é um ambiente que me deixa confortável.
— Amanda, eu... — ele começou a dizer, mas se perdeu em seus próprios pensamentos.
Isso está me assustando.
— Você o que? — encorajei-o a me dizer, seja o que for.
— Eu tenho uma fita pra lhe desenrolar.
Por quê ele simplesmente não diz? Essa enrolação me deixa agoniada.
— O que está acontecendo com você?
Levei a minha mão na testa dele pra ver se ele está com febre.
Sinto uma necessidade profunda de cuidar dele e não deixar ele sozinho.
— Uhrg, — ele resmungou, só então percebi que estou praticamente em cima dele.
— O que foi? Está doendo? — me afastei preocupada, procurando por alguma possível ferida que eu não tenha visto.
Será que ele vê em mim o mesmo que eu vejo nele? Por qual outro motivo ele me chamaria até aqui?
Eu me odeio muito por pensar nele mesmo quando não quero pensar. É mais forte do que eu.
— Eu preciso de uma acompanhante e não me veio ninguém à cabeça além de você, — ele disse confirmando as minhas suspeitas.
Mordo oa lábios revelando o meu nervosismo. Ele faz ideia do quanto isso pode me iludir? Eu posso pensar que realmente sou importante pra ele, por mais que ele negue. Posso pensar que ele me ama e só tem medo de assumir.
— Felipe, você não tem amigos? Estou cheia de trabalho... O que aconteceu? Pode me dizer por que você está no hospital? — tenho que ser forte e não demonstrar o quanto eu ficaria aqui com ele.
— Eu não quero morrer — ele disse me olhando de uma forma estranha.
Eu diria que ele está me encarando de uma forma diferente de alguém que está morrendo.
— Você não vai morrer — afirmei revirando os olhos.
— Vou sim.
Meu Deus. Como homem é dramático.
— O que o médico disse? Você bateu a cabeça? Mas por que não está enfaixada? — questionei intrigada.
— São problemas dentro do corpo.
— Eu não quero que você morra, — desabafo um pouco assustada com esse drama dele.
E se ele realmente morrer?
Eu não sei o que ele é pra mim, mas só sei que ele não pode morrer, ou eu vou sofrer demais.
— Por que? — como assom? O que ele quer ouvir?
Trato de explicar o que deveria ser o único motivo:
— Você é tão jovem, cheio de vida, — levei a minha mão no cabelo dele, — você tem tudo pela frente, — falei sek conseguir afastar os meus olhos do olhar perturbador dele.
Ele está olhando pra minha boca. Vejo faíscas nos olhos dele e isso arrepia todos os meus pelos.
— Eu quero que você fique perto de mim até o meu último suspiro, quero que você seja a última coisa que eu vou ver.
Eu acho que estou começando a entender... Na verdade estou vendo um pequeno volume revelando a vontade que ele esta de transar.
— Que dó de você, deve ter batido muito forte com a cabeça — falei com ironia, ele está gozando com a minha cara, sou muito idiota.
— Me ouça, infelizmente eu estou consciente das minhas ações, eu preferia estar alucinando, pelo menos eu não sofreria com a tortura descoberta de que posso morrer a qualquer momento — falou tão sério, me olhando de um jeito tão intenso.
Como ele pode ser tão frio assim? É óbvio que ele não está morrendo. Com o dinheiro que ele tem com certeza ele não estaria jogado em uma cama de hospital da favela, ele estaria sendo tratado por algum especialista, ligado em várias máquinas em um quarto de UTI.
— Pare de dizer isso, é uma pegadinha? Está me pregando uma peça? — questionei um pouco furiosa.
— Amanda, fique comigo? Não saia de perto de mim, por favor, não quero morrer sozinho.
Até que me veio uma ideia na cabeça...
— Tá, ficarei com você até que melhore, — toquei a sua mão, para que ele se sinta acolhido, pro caso de eu estar enganada.
Mas dentro de mim eu sinto a verdade, estou aqui por uma piada. Ele pisa em mim toda vez.
Não consigo evitar uma pequena lágrima que se forma nos meus olhos, disfarço-as, isso é idiotice.
— Amanda?
— Sim?
— Você não quer se despedir de mim de uma maneira mais feliz? — ele segurou o meu braço e me puxou para cima de si.
— O que você está fazendo? — perguntei percebendo muito bem a sua intenção de me beijar.
Sinto uma vibração em minha calcinha que distribui tremores para todo o resto do corpo.
— Eu quero te deixar boas lembranças de mim, mas você terá que fazer todo o trabalho já que eu estou quase impossibilitado, — disse suspirando, avançando em mim pra me beijar, eu quero tanto.
Me afastei com todas as forças que eu consegui.
Não tenho mais dúvidas, ele está literalmente mentindo que está morrendo só pra conseguir sexo comigo. Arg.
Menos mal.
Quero dizer, por que eu não posso usar essa situação ao meu favor?
Não é só ele que gosta de sexo, eu também gosto.
Caminho até a porta e passo a chave.
Divertindo-me com essa situação.
Caminho até ele, andando de uma forma inocentemente sensual. O tesão estampado na cara dele é quase palpável.
Cachorro.
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