Ponto de vista da Kaia
Já estávamos no hospital, depois de um café da manhã bem estranho entre a gente, até o Samson e a Freya estavam calados.
Freya não parava de lançar olhares na direção da Alora, e dava para perceber que elas estavam se comunicando pela conexão mental de vez em quando.
Até eu estava mais quieta do que o normal. Geralmente, nas refeições, a conversa com meu pai fluía solta, mas eu ainda estava meio em choque.
O pai parecia alheio à tensão ao redor, até mesmo ao olhar insistente do Samson, que tentava entender o que estava acontecendo. Eu não tinha tido tempo de puxar ele de lado para explicar tudo. Tudo o que ele sabia era que a Alora era minha irmã gêmea, que tinha aparecido de volta de forma milagrosa.
Uma irmã da qual ele nem sequer sabia da existência.
Minha mente estava a mil, cheia de lembranças da infância e uma culpa estranha por ter vivido momentos com meu pai que a Alora não teve. Memórias que ela não podia compartilhar.
E por quê? Por que alguém mentiria para o meu pai no parto? A não ser que achassem que ela também tinha morrido, como aconteceu com a mamãe... E aí talvez rolou alguma confusão.
Naquele momento, no hospital, meu pai queria logo fazer os exames de sangue antes de anunciar à matilha o retorno da sua filha perdida.
— Isso vai doer! — Disse o médico, me arrancando dos meus pensamentos.
A única forma de tirar sangue de um lobisomem era usando instrumentos com prata.
E ele estava certo, dói para caramba, e não consegui evitar a careta.
Quando ele terminou comigo, saí da sala e encontrei meu pai e a Alora esperando do lado de fora.
Ele estava falando sobre a mamãe, sobre como ela era, como nós duas parecíamos mais com ela do que com ele, que tínhamos herdado a beleza dela.
Preferi sentar em frente aos dois, sem interromper. Alora parecia estar gostando de ouvir sobre a mãe, eu não queria estragar aquilo para ela. Mesmo que fosse desconfortável para mim.
Doía compartilhar uma mãe que eu nunca conheci, saber que ela também era da Alora.
Eu estava pensando de forma egoísta, enquanto a Alora provavelmente estava questionando cada detalhe da própria infância e os pais que a criaram. Pais que ela nem sabia que eram adotivos até pouco tempo atrás.
Eu precisava sair da minha bolha de dor. Se os exames de sangue confirmassem o parentesco, eu teria que ser mais aberta. Teria que começar a aceitar a Alora.
Independentemente do que aconteceu entre nós, ela fazia parte de mim. E eu precisava aceitar aquilo.
— Eles estão prontos para você... — Falei quando a conversa deles chegou a um fim natural. Meu pai só então percebeu que eu tinha voltado.
Ele se levantou e veio até mim para olhar meu braço, um rosnado baixo escapou da garganta dele.
Eu estava bem machucado, a prata tinha deixado marcas fortes na pele.
— Estou bem, pai... Eles precisaram usar prata para conseguir tirar o sangue. Alora, vai doer um pouco, mas passa rápido. — Sorri para ela, sendo honesta, mas sem querer deixar ela preocupada.
— Quer que eu vá com você? — Ofereci, vendo que ela olhava fixamente para o meu braço.
— Não, obrigada. Eu vou ficar bem.



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