Ponto de Vista do Hector
A velocidade com que eu dirigia na volta para a Matilha Fantasma das Trevas não era nem de perto a mesma de quando saí. Eu precisava de tempo para esfriar a cabeça, e o trajeto de volta parecia ter o tempo exato para isso.
Não queria que a Kaia se envolvesse. A reação dela ao convite foi a prova de que ela não queria ter mais nada a ver com o Than. E eu não ia permitir que ela continuasse sendo arrastada pro meu passado distorcido com ele e com a Alora.
A Kaia já tinha passado por coisa demais.
Durante todo o trajeto, fui seguido. Alguns guerreiros escolhidos da Matilha Deserto de Âmbar tinham recebido a missão de garantir que eu voltasse para minha matilha. Eles não tiraram os olhos de mim em nenhum momento.
Foi de partir o coração ter que deixar a Alora justo depois de ver ela. Eu não queria ir embora, queria pular aquele portão e abraçar ela, tirar ela daquele ambiente tóxico.
Deixá-la para trás causava uma dor sufocante no meu peito... Algo estava errado, mas eu não conseguia identificar o quê.
Foram quatro anos em coma e ele ainda assim não me deixou nem falar com ela, nem segurar ela. Segurar o que deveria ser minha.
De repente, aquela dor no peito ficou ainda mais forte, me fazendo desviar bruscamente o carro da estrada.
Pisei no freio com força e o carro derrapou na lama. Olhei pelo retrovisor e vi que os veículos que estavam me seguindo também pararam de repente.
Minhas mãos se esfregaram contra o peito enquanto meu rosto se contorcia de dor, até que tudo parou tão de repente quanto começou.
Eu conseguia sentir que a Alora não tinha sido marcada, então o que era aquilo? O que estava me causando aquela dor?
Assim que entrei pelos portões da Matilha Fantasma das Trevas, os guerreiros que me seguiam aceleraram e desapareceram. Eu sabia que eles não iam interferir, estavam claramente ali só para vigiar a mando do Than.
Fiquei surpreso ao perceber que a música do aniversário já não ecoava mais pelos arredores da matilha. Eles não podiam ter encerrado a noite tão cedo. A festa do ano passado só terminou lá pelas quatro da manhã. Me lembrava do estado deplorável da maioria dos guerreiros no treino, só duas horas depois.
Só quando entrei no santuário seguro e privado do meu escritório é que as emoções começaram a me dominar. Uma raiva tão intensa que parecia que minha pele deveria estar ficando vermelha e quente ao toque.
A dor no peito ficou em segundo plano enquanto a fúria tomava conta.
Eu tinha sido obrigado a deixar ela lá. Precisava ser mais criativo para conseguir chegar até ela sem que o Than estivesse por perto.
Sentei-me à minha mesa e me servi um copo de uísque e encostei o copo na têmpora, tentando acalmar a fúria dentro de mim.
Bebi devagar, saboreando cada gole, e me servi mais um quando Ezra entrou no meu escritório sem bater.
— Onde você estava? — Perguntou ele, sem fôlego.
— Tive que resolver um assunto fora. Por que você não está na festa? Aliás, já que está aqui, pode pedir para Kaia vir até aqui?
— Isso não vai dar, Alfa.
— Ela não foi para festa quando eu saí? Não me diga que voltou para casa sozinha...
Merda, provavelmente foi isso mesmo. Fui um idiota. Como se descobrir que o ex-marido dela ia marcar outra fosse deixar ela com vontade de festejar.
Fiquei tão cego pela minha própria raiva que deixei de apoiar Kaia. Falhei com ela como Alfa... e como amigo.
— Sim, ela foi para casa... sozinha. Alfa...
— Eu sei que está tarde. Vou deixar ela dormir e esperar até de manhã. Se você passar pela casa dela hoje à noite, pode deixar esse bilhete embaixo da porta?
Peguei um pedaço de papel e uma caneta e comecei a escrever.

Verifique o captcha para ler o conteúdo
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Negada pelo Destino: Presa nas Sombras do Vínculo de Companheirismo