Ponto de Vista da Kaia
Depois do jantar, meu pai chamou o Samson para uma conversa particular no escritório. Era algo que, aparentemente, só dizia respeito aos dois.
De qualquer forma, eu queria conferir a troca de turno dos guardas noturnos, então fui até lá. Estava tudo tranquilo na fronteira naquela noite, mas não podíamos nos dar ao luxo de relaxar. Os ataques podiam acontecer a qualquer momento e sempre eram planejados para nos pegar de surpresa. Até naquele momento, ninguém tinha conseguido romper nossas defesas.
Eu estava em uma das colinas de onde dava para ver todo o território da matilha, mais para o interior do que perto das falésias costeira. Dali, conseguia observar tudo, até o momento em que vi o Samson saindo da casa do alfa e vindo na minha direção.
— Aí está você. — Disse ele, subindo o último trecho da colina antes de parar para recuperar o fôlego. A inclinação era bem puxada, e demorava algumas subidas até o corpo se acostumar.
— Queria conferir as fronteiras... E olha só essa vista — Comentei.
— Com certeza é um lugar que pode competir com Águas Claras. — Disse Samson, admirando a paisagem. A lua brilhava sobre o oceano ao longe, e o território da matilha estava bem iluminado, mesmo para olhos de lobisomem. Imaginei que o pai tivesse mandado reforçar a iluminação na área interna da matilha para garantir uma sensação maior de segurança pros membros.
As fronteiras continuavam firmes. Não havia outra opção... Precisavam resistir. Mas, com a ameaça constante à nossa porta, era natural que os membros da matilha ficassem mais cautelosos à noite.
— Fico feliz que você tenha conseguido sair a tempo. — Disse ele. Assenti com a cabeça enquanto ainda olhávamos o horizonte. Pelo canto do olho, percebi que Samson naquele momento olhava diretamente para mim. Devia ser um momento agridoce para ele, estar de novo ao lado do seu Alfa.
O pai do Samson tinha sido o Beta da nossa antiga matilha e não sobreviveu ao ataque. Samson era dois anos mais velho do que eu, e aos dezoito, saiu para iniciar seu treinamento como Beta.
Ele não estava lá quando tudo aconteceu. Meu coração doía só de imaginar o que foi para ele receber a notícia à distância, apenas por rumores.
— Deve ter sido horrível estar tão longe. — Murmurei, soltando um suspiro enquanto meus olhos encontravam os dele.
— Foi sim... O Alfa Beckett disse que está procurando um novo Beta, e que talvez eu possa tentar. Ele acha que meu sangue de Beta ainda é forte.
— Você deveria... — Sorri para ele. Pensei que ele daria um ótimo Beta. — Quer dizer, só se estiver pensando em ficar. Onde você se meteu todo esse tempo?
— Depois do ataque, acabei indo parar numa matilha pequena. Não tinham muita coisa, mas me ofereceram abrigo, e em troca, eu treinava os guerreiros deles. Já tinha alguns meses de treinamento como Beta...
— Você não terminou o treinamento? — Perguntei, surpresa.
— Sem matilha, sem Beta. — Respondeu ele com um tom resignado.
Eu nunca tinha pensado naquilo. Sem uma matilha, Samson não poderia ter completado o treinamento. Por padrão, teria virado um renegado.
— E você? Nunca contou pro seu pai que ficou na Matilha Fantasma das Trevas, que deixou a Matilha Deserto de Âmbar?


Verifique o captcha para ler o conteúdo
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Negada pelo Destino: Presa nas Sombras do Vínculo de Companheirismo