Negada pelo Destino: Presa nas Sombras do Vínculo de Companheirismo romance Capítulo 90

Ponto de Vista da Alora

Eu estava vivendo duas vidas. Numa delas, eu era feliz na frente do Than. Ele nem desconfiava.

Na outra, quando eu ficava sozinha, começava a me consumir pensando naquilo que li nos meus prontuários no consultório médico.

Sem o Than por perto, eu não conseguia parar de pensar naquilo.

Eu precisava de uma segunda opinião, de um médico que não fosse da Matilha Deserto de Âmbar, alguém que me dissesse a verdade. Naquele momento estava claro que estavam escondendo coisas de mim.

Uma parte de mim ainda negava, mas a outra começava a ligar os pontos. O fato de eu nunca ter ficado realmente sozinha desde que acordei do coma. O motivo pelo qual minha loba não tinha força para se transformar. As dores na barriga que andava sentindo.

Than ia sair da matilha por alguns dias, levando o Beta Zane com ele. Aquela era a minha chance, a oportunidade de descobrir por conta própria o que estava acontecendo de verdade.

Com Medea ainda fora da matilha, Freya viria morar comigo por uns dias para me fazer companhia. Ela já estava envolvida demais comigo para não me ajudar com aquilo.

— Para onde você vai mesmo? — Perguntei ao Than enquanto o acompanhava até a porta.

— Só vou visitar algumas matilhas... Coisa de relações entre Alfa. Fazer contatos e fortalecer os laços com outros Alfa... — Respondeu ele, colocando sua bolsa de viagem no porta-malas antes de voltar até mim.

Ele passou o braço pelas minhas costas e me puxou para um beijo. Senti os arrepios percorrerem meu corpo com o toque suave dos seus lábios.

— Não vou demorar, prometo.

— Eu vou ficar bem. Só seja você mesmo, eles vão gostar de você... Como eu gosto. — Falei, sorrindo de leve.

...

Com Than e Zane fora do território, aquele era o momento perfeito para eu visitar um novo médico. Freya, como sempre, foi contra a ideia, mas preferia ir comigo a me deixar ir sozinha.

Íamos dirigir até a cidade próxima, já que Freya tinha encontrado um médico discreto, sem nenhum vínculo com a nossa matilha.

Eu estava confiante de que não seríamos descobertas por Than ou Zane, afinal, eu mal saía da casa do alfa... Então, minha ausência provavelmente não seria notada.

Exceto pelos guardas no portão. A gente já tinha uma desculpa pronta para passar por eles. Dissemos que estávamos indo buscar mantimentos para matilha, presentes para enfermaria de maternidade.

No caminho até a cidade, o nervosismo começou a me dominar. Afinal, meu plano era ousado, eu estava indo em busca da verdade. Freya devia ter percebido como eu estava tensa, porque colocou a mão sobre minha coxa, que tremia sem parar.

— Os resultados indicam falência de órgãos... Isso deve estar errado... — Ela murmurou, sem acreditar nos próprios documentos que tinha diante de si, folheando-os uma e outra vez. Chegou até a pegar os óculos na gaveta da mesa, como se duvidasse da própria visão.

— Não está errado. Eu bebi acônito... Uma quantidade considerável. Depois disso, entrei em coma e fiquei assim por dois anos.

— Isso explicaria por que você estava com falência dos órgãos. As máquinas às quais você ficou ligada durante o coma mantiveram você viva. Sinto muito, minha querida, mas parece que não há volta para isso.

Saí do consultório da médica, me sentindo leve, sem peso algum, como se flutuasse em vez de andar. A Freya tentava me perguntar o que tinha acontecido, mas a voz dela soava distante, quase como se viesse de muito longe.

Pobre Than... Naquele momento entendi por que ele tinha sido tão possessivo... Ele já sabia o destino que acabei selando para nós dois, e o pouco tempo que ainda me restava.

Eu não podia deixar ele me marcar. Seria cruel demais permitir que ele me marcasse, apenas para depois ser arrancada dele.

Empurrei as portas do prédio com descuido, sem nem olhar para onde ia, me misturando à multidão de humanos que saía pro almoço. Podia ouvir a Freya pedindo para eu diminuir o passo, mas sua voz era como um eco distante.

O lugar estava lotado. Eu só queria ficar sozinha. Esbarrei no ombro de alguém e virei de leve para me desculpar antes de seguir andando...

— Kaia... Kaia, é você?