Benjamim esperou mais do que deveria pela chegada de Henrico até a empresa. Ele estava mais de uma hora atrasado para o compromisso.
Quando acreditou que o velho falharia e não apareceria, viu-o entrar pela porta, com o seu velho chapéu nas mãos, enquanto enxugava o suor do rosto constantemente.
Era nítido nas feições de Henrico o quanto ele temia por aquele encontro. Henrico ficou olhando para ele a vários passos de distância e não se atreveu a chegar mais perto, apenas lhe disse.
— Sinto muito pelo meu atraso – apertou a aba desgastada do chapéu e abaixou o olhar – tive que resolver um problema com a Alessia.
Seria uma conversa normal, assim desejava Benjamim, mas ele sabia que lidar com Alessia e as atitudes dela tornava tudo mais difícil do que deveria ser.
— É sobre ela que quero falar – ele deu passo à frente, fazendo Henrico levantar o olhar imediatamente – você viu as notícias nos jornais hoje?
Henrico sentiu o peito se apertar de angústia ao ouvi-lo perguntar aquilo. Era claro que ele sabia das notícias, tanto que precisou tomar decisões difíceis para tentar consertar aquele erro. Depois que colocara Alessia para fora de casa, saiu pelas portas do fundo, para não ter que encontrá-la e se arrepender do que havia feito.
— Sei o que aconteceu – Henrico soltou o chapéu sobre a cadeira e olhou nos olhos de Benjamim, transparecendo toda a sinceridade – e eu expulsei a Alessia de casa. Ela terá que arcar com as consequências de suas decisões sozinha, a partir de agora.
A notícia deixou Benjamim surpreso. Ele sabia o apresso que Henrico tinha pela filha mais nova, tanto que muitas vezes só teve olhos para ela. Era estranho vê-lo agir tão duramente com Alessia.
— Eu tentei fazê-la reverter a situação, indo ao jornal e desmentindo toda a história - sua voz tornou-se apressada de repente – mas ela se recusou e a única saída que encontrei foi a expulsando.
— Eu não sei se a sua atitude vai reverter as coisas, Henrico – a preocupação de Benjamim se alargou – em menos de uma hora, eu perdi mais de vinte investidores devido à mentira da Alessia. Chamei você aqui, para que juntos pudéssemos encontrar uma saída.
Henrico o olhou assustado.
— Você não vai tirar o investimento da fábrica?
O questionamento de Henrico surpreendeu Benjamim pela segunda vez.
— E por qual motivo eu faria isso?
— Não me faça lembrar do acordo que tínhamos – ele disse, dessa vez se aproximando de Benjamim – você se casaria com uma das minhas filhas e eu receberia um enorme investimento para recuperar o meu negócio da falência.
— Eu me lembro perfeitamente disso – disse Benjamim, enfiando as mãos no bolso – mas eu não costumo retroceder na minha palavra. O investimento já foi feito e, além disso, que culpa você tem de a Alessia ter mentido para mim?
O rosto de Henrico encheu-se de vergonha. Novamente, ele abaixou o olhar quando sentiu a dor invadir seu coração pela segunda vez naquele dia. Lembrou-se da falecida mulher e do quanto ela sofreria ao vivenciar tal coisa. Era um alívio para Henrico saber que Francesca não estava ali para sentir o mesmo que ele.
— Ela mentiu para todos nós – ele sentiu necessidade de sentar-se. Henrico sentia até mesmo as pernas fraquejarem – falhei como pai. Falhei com as minhas duas filhas.
— Devo discordar do senhor – o olhar complacente de Benjamim abaixou – A Antonela é uma boa mulher. E eu sou o culpado por Antonela ir embora da cidade.
As palavras de Benjamim assustaram Henrico, que levantou o olhar tentando decifrar se ele sabia da verdade. Antonela teria contado a ele sobre Adam? Ele não agia como um homem que sabia que tinha um filho.
Henrico soltou um longo suspiro, como se ouvir aquilo o destruísse por dentro. Eles estavam falando da reputação de sua família, que seria destruída quando todos soubessem da verdade.
Mas Henrico devia aquilo a Benjamim. Era o mínimo que poderia fazer por ele.
— Faça como achar que tem que fazer – disse, levando a mão até o chapéu e o pegando novamente – é o correto a se fazer. Eu não vou me opor a isso.
Benjamim balançou a cabeça em concordância e não conseguiu dizer mais nada. Sempre enxergou Henrico como um homem arrogante e frio. Jamais imaginou vê-lo tão abatido como naquele momento.
— Sei as consequências que isso trará sobre minha família – ele pigarreou e se silenciou logo em seguida.
Aquilo era tudo o que Benjamim precisava ouvir.
Henrico sentia que já não suportava ficar ali. Colocou o chapéu de volta na cabeça e lançou um último olhar a Benjamim, o cumprimentando, dessa vez como uma despedida. Ele não fazia ideia de como as coisas aconteceriam dali para frente, mas precisava ter coragem de seguir em frente.
Benjamim o observou partir, cruzando a porta em seguida. Ela mal havia se fechado quando uma segunda pessoa entrou em seu escritório e, caminhando desnorteado na sua direção, lhe disse com os olhos cheios de lágrimas.
— A minha mãe morreu, senhor Benjamim – Fred lhe agarrou, dando-lhe um abraço desesperado – ela não resistiu à cirurgia e partiu.
Benjamim não soube o que fazer, apenas ficou parado ouvindo o choro intenso de Fred, enquanto ele o apertava cada vez mais.

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