Benjamim segurou nos ombros de Fred e olhou para o rosto do rapaz, que estava coberto por lágrimas. Calmamente, sentou Fred em uma das poltronas que havia no escritório e chamou a secretária para resolver aquilo.
Ela lhe trouxe uma jarra com água, mas Fred se recusou a tomar qualquer coisa. Pensou que assim ele logo ficaria desidratado porque as lagrimas não paravam de escorrer pelo seu rosto cansado.
— Lamento muito a sua perda – sentou-se na frente dele e lhe faltaram palavras para tentar consolar o rapaz – tentamos salvá-la, siga sua vida sabendo que você deu o seu melhor.
Fred levantou o olhar até ele e imaginou o quanto devia aquele homem. Benjamim não somente o tirou da prisão, como também pagou todas as despesas médicas que sua mãe precisava para ter chance de sobreviver.
Mas não foi o suficiente. Agora ele só não estava desempregado, como também havia perdido a razão do qual lutara por tantos anos.
— O hospital me demitiu – ele disse isso passando a mão sobre o rosto e enxugando as lagrimas – e disseram que vão me processar e me colocar de volta na cadeia. Talvez esse seja o melhor fim para mim.
— Não diga bobagens – Benjamim se afastou para olhá-lo melhor – você pode trabalhar para mim e eu posso arrumar os melhores advogados para defender sua causa.
Fred levantou o olhar para ele e um constrangimento enorme caiu sobre sua cabeça. Por que, afinal, Benjamim o ajudaria depois do crime que ele cometeu? Benjamim já havia respondido à pergunta, mas a resposta parecia fraca demais para Fred.
— E antes que me pergunte por que faço isso, pode considerar que me sinto em favor com você – Benjamim disse, como se lesse os pensamentos mais íntimos de Fred – eu não queria me casar com aquela mulher e você de alguma forma me livrou desse pesadelo.
— Eu quase o coloquei nele, senhor Benjamim – voltou a abaixar a cabeça se lamentando – não mereço nem mesmo sua compaixão.
O sentimento de inferioridade dominava Fred. Ele não conseguia pensar direito quando tinha uma mãe para velar e sem nenhum dinheiro no bolso.
Por outro lado, Benjamim preferiu não alongar aquele assunto. Fred estava ali para resolver um problema e buscar consolo em alguém e embora Benjamim também tivesse seus próprios problemas, ele resolveu ajudar Fred primeiro, antes de qualquer outra coisa.
Antes de Benjamim ter a oportunidade de dizer a ele que resolveria tudo, Alessia entrou no escritório com a secretária gesticulando que ela não poderia entrar ali sem autorização.
Os olhos de Benjamim recaíram sobre ela. Vestia uma fina camisola e tinha os cabelos despenteados. Seu semblante era o mesmo da noite passada, quando ele chegou em casa e a viu vestida de noiva, expressando seu descontentamento por ser abandonada no altar.
Alessia segurava uma mala e tinha os pés descalços.
Quando os olhos de Fred recaíram sobre ela, tudo o que ele havia sentido ao longo do dia retornou como enxurrada. A mistura de fúria, medo e frustração ampliou o seu sentimento de perda, até que Fred não suportou. Alessia era a culpada por tudo aquilo ter acontecido.
Ele levantou-se em uma velocidade anormal e avançou em cima dela. Por poucos centímetros, Fred não cometeu uma loucura. Benjamim o agarrou, afastando-o, enquanto Alessia tremia diante da reação dele.
— O que você faz aqui? – Fred gritava – veio debochar da minha dor após brincar com a vida da minha mãe?
Alessia se encolheu, enquanto Fred a fitava com raiva. Ele precisava culpar alguém e encontrou a vítima perfeita.
— Saia daqui, Alessia – Benjamim disse com dificuldade, sentindo que não conseguiria segurar Fred por mais tempo – me espere do lado de fora e depois conversamos.
Ele precisou gritar para que ela saísse. Benjamim detestava ter que fazer aquilo e somente quando ela saiu, ele teve confiança em soltar Fred.
Benjamim demorou um tempo para se recompor quando lançou um olhar de incredulidade a Fred.
— Você quer voltar a ser preso? – perguntou – quer ser indiciado por violência doméstica e não ver sua mãe ser enterrada?
Benjamim, em um gesto rápido, mostrou a ela o jornal. Os olhos de Alessia encheram-se de lágrimas.
— Você veio pedir ajuda para o homem que você ferrou a vida? - ele se levantou lentamente e a fuzilou com o olhar – você tem ideia do que essa mentira causou nos meus negócios e na minha reputação?
Alessia parecia chocada e Benjamim balançou a cabeça rapidamente.
— Você não sabe – ele disse, travando o maxilar, enquanto ela mantinha o olhar longe do dele – o que você quer de mim dessa vez, Alessia?
No fundo, ele sentiu pena dela, por vê-la frágil e perdida nos próprios erros.
— Convença o meu pai a me aceitar de volta – as palavras soaram ridículas – e eu retiro tudo o que disse contra você.
Benjamim teve que usar todo o seu autocontrole para não perder a compostura.
— Recuso a sua oferta – disse ele, oferecendo um sorriso falso a ela – agora, por favor, se retire da minha sala, nós não temos mais nada para falar um com o outro.
Alessia pigarreou, levantando o olhar até ele, sem acreditar que aquilo estava acontecendo. Suas palavras eram secas e seu olhar frio. Benjamim a odiava, Alessia sabia disso e não suportaria conviver com aquela rejeição. Já não havia mais saída para ela. Nada que ela dissesse parecia capaz de convencer Benjamim. Ela engoliu todo o choro preso na garganta e se arrastou com a mala para fora do escritório.
Quando finalmente se viu sozinho, Benjamim pensou que, se Alessia não tivesse o chantageado, ele a ajudaria. Mesmo que ela não merecesse, ele faria.
Agora, era tarde demais.

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