Antonela olhava pelo vidro embaçado da velha fábrica, quando viu Fabrício chegar com Alessia. Minutos antes, ela estava submersa em suas lembranças de horas atrás, quando Benjamim a beijou e confessou que desejava tê-la por perto.
Ela não conseguia parar de pensar no que aconteceu. O gosto do beijo dele ainda estava em sua boca. O cheiro dele impregnado nela, fazendo-a não conseguir parar de pensar nele nem mesmo por um segundo.
Se antes o amor já era visível, agora era impossível evitar sentir algo a mais por ele.
Mas a cena que seguiu fez seus pensamentos se dissiparem e ela se concentrar em apenas um fato: O que Alessia estaria fazendo na fábrica?
Saiu da sala rapidamente, sabendo que era um erro reencontrar Alessia horas após tê-la enfrentado. Sua cabeça ainda doía dos puxões de cabelo a qual fora cometida. Ela desceu as escadas de ferro apressadamente, na esperança de vê-los, mas quando saiu era tarde demais.
Evaporando como fumaça, não havia nenhum sinal de Fabricio ou Alessia por perto. Ela vistoriou o lugar com o olhar e, depois de não encontrar nada, caminhou por quase toda a fábrica.
Não demorou muito até ela encontrar Fabrício vindo em sua direção. Do outro lado da fábrica, no segundo andar, Alessia franziu o rosto ao olhar para Antonela, que a avistou logo em seguida. Ela estava na ala de dormitório dos antigos funcionários, que havia sido desativado muitos anos atrás.
— O que a Alessia faz aqui? – percebendo que Alessia saíra de frente da janela, Antonela desviou o olhar até Fabrício.
Fabricio olhou para o local e seu semblante transformou-se em uma espécie de tristeza. Depois olhou para ela novamente.
— Seu pai ordenou que eu a trouxesse para a fábrica – ele encurtou a conversa – ele a expulsou de casa.
Apreensiva, Antonela arregalou os olhos e sentiu a boca ficar seca.
— Por que ele fez isso? – ela ergueu a sobrancelha, mas Fabricio deu de ombros.
— Eu não faço a menor ideia – ele lamentou não poder ajudá-la – eu a encontrei em frente à empresa do senhor Benjamim, descalça e vestindo uma camisola. Seu pai sentiu-se certamente ressentido por deixá-la na rua.
Antonela desviou o olhar e ficou pensando que talvez conhecesse os motivos de Henrico por fazer aquilo. Alessia havia roubado o dinheiro da fábrica, ela estava ali para pagar o que devia.
Ainda assim, considerou uma péssima ideia ter que conviver com ela, embora o setor onde estavam fosse um distante do outro, arriscavam se encontrar e gerar mais confusões, a qual ela queria evitar.
Sabendo que Fabrício não podia fornecer muitas informações, Antonela se silenciou e decidiu voltar ao trabalho, quando viu Henrico chegar à fábrica.
Ela se apressou para alcançá-lo, ainda que fosse uma péssima ideia questioná-lo sobre suas decisões. Antonela precisava entender os motivos de Henrico em expulsar Alessia de casa.
Ela não faria o papel de advogada do diabo para defender Alessia, ao contrário estava convicta de que a irmã mais nova merecia muito mais do que essa punição. Antonela apenas se certificaria que a presença de Alessia não atrapalharia seu trabalho na fábrica.
— Espere, pai – ela corria e precisou recuperar o folego para conseguir continuar a conversa.
Henrico não parou para falar com ela. Prosseguiu para dentro da fábrica com os ouvidos atentos para o que Antonela dizia.
— Já contratou os novos funcionários? – ele subia as escadas com Antonela logo atrás – precisamos fazer as máquinas voltarem a funcionar.
Ela não conseguiu evitar um sorriso amargo. Embora aquele fosse um forte indício de que Benjamim estava sendo sincero quando lhe dissera estar arrependido por deixá-la partir pela primeira vez.
Sentiu que ele queria comprá-la.
Enquanto era afogada pela confusão dos seus sentimentos, viu Henrico tirar do bolso uma boa quantia e oferecer a ela.
— Pegue. Esse é o seu primeiro pagamento – Antonela balançou a cabeça confusa – compre roupas e brinquedos para o Adam ou qualquer coisa que ele precisa. Pode voltar para casa, eu resolvo as coisas por aqui.
— Eu não posso aceitar – ela gaguejou – eu mal comecei a trabalhar e, se esse dinheiro veio do Benjamim, eu não aceito.
— Não questione minhas ordens – ele segurou o braço dela e depositou o dinheiro na palma de sua mão, virando as costas em seguida – há coisas na fábrica que só eu poderei resolver hoje. Amanhã você volta. Vá cuidar do seu filho.
O tom de voz com que ele disse isso provou para Antonela que Henrico não aceitaria um não como resposta. Ela ficou o observando em silêncio, enquanto Henrico mexia em documentos e analisava suas pendências.
Ficou imaginando o quanto Benjamim havia dado a ele. Havia muita esperança no olhar de Henrico, de que em breve tudo se resolveria. Voltando a olhar para o dinheiro em sua mão, ela percebeu que aquilo era o suficiente para pagar suas contas e fazer bem mais por Adam do que Henrico havia sugerido.
Ela fechou a mão e caminhou até a mesa. Colocou a quantia na bolsa e se preparou para partir. Um dia ao lado de Adam faria bem a ela e Antonela planejava como seria divertido estar na companhia do filho.
— Nos vemos amanhã – ela disse, e saiu diante do silêncio dele.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O filho secreto do bilionário