Sentiu o corpo espasmar por conta dos soluços que a atingiam. Os prantos vinham descontrolados, mas, daquela vez, ao contrário das outras, movidos por uma alegria gostosa que parecia pintar seu mundo das cores mais diversas. O cinza triste havia sido, repentinamente, substituído pelas mais vivas cores e, o amargo monótono que lhe tomava a língua nas últimas semanas, roubando o sabor de tudo aquilo que punha na boca, se transformado em uma miríade pungente dos sabores mais diversos e adocicados.
Eva colou os lábios nos de Jonathan por longos segundos, os quais desejava prolongar por uma eternidade. Os bipes no monitor se aceleravam enquanto os dedos grossos, consideravelmente mais fracos do que costumavam ser, apertavam a mãozinha de Eva entre eles.
Ele levou, com alguma dificuldade, a mão ao rosto pequeno e encharcado de lágrimas, afastando-a devagar para que pudesse olhar para ela. Eva se deixou envolver pelo carinho sonolento que ele carregava nos olhos, entregando-se completamente àquele momento.
— Eu... quero... – A voz saía em um sussurro quase inaudível, exigindo um esforço exagerado por conta da cânula em sua traqueia. – ... que seja...
— Sua. Apenas sua. – Eva completou, anuindo freneticamente. – Eu sei. Eu sou apenas sua. Eu te amo, Jonathan.
Ela finalmente havia confessado, aos prantos apaixonados, tendo os olhos verdes e profundos de seu amado como testemunhas.
– Eu menti quando disse que não correspondia aos seus sentimentos. Não sabe o quanto me doeu não me declarar de volta. Não sabe o quanto isso pressionava meu peito, implorando para sair. Não me deixa mais desse jeito, por favor. – Ela suspirava entre cada soluço. — Eu não sei mais viver sem você.
Ela deixou um longo lamento escapar de sua boca, contendo sentimentos infinitos ou grandes demais para serem mensurados. Sentia-se transbordar, aliviada, como se antes, estivesse à ponto de explodir. Jonathan sorriu com os olhos, como se não compreendesse exatamente o que estava acontecendo, mas, de alguma forma, abraçasse aquilo que o momento trazia. A boca se abriu, como se se preparasse para falar alguma coisa, mas o esforço foi tamanho que apenas apertou a mão de Eva entre os dedos e sorriu, satisfeito.
A porta se abriu, de repente, por onde o intensivista entrou, acompanhado por dois enfermeiros. Eva, que segurava firmemente a mão de Jonathan, foi afastada de maneira gentil por um dos enfermeiros, que a tratava quase como uma criança que não concebia ser afastada do colo da mãe.
— Ele está acordado. – Constatou o médico. – Cheque os sinais, vamos deixá-lo em observação para realizar alguns exames.
— Pode aguardar na sala de espera. – O enfermeiro indicou, guiando-a até a porta. – Avisaremos assim que puder vê-lo novamente.
Vencida, Eva seguiu até a sala de espera, onde se sentou em um dos sofás, percebendo, apenas então, o quão egoísta estava sendo. Levou a mão à bolsa, de onde tirou seu celular. Havia mais pessoas que precisavam saber.
*
Dez dias haviam se passado quando Jonathan, finalmente, recebeu alta, podendo deixar o hospital.
Ele havia perdido muito de sua musculatura, apesar das infindáveis sessões de fisioterapia e, como tudo era mais conveniente daquela maneira, ele permaneceria na cidade para os posteriores exames e terapias. Tudo seria, sem exceção, custeado pelo próprio senhor Gama.
Thomas havia sido contundente sobre o pai lhe ter garantido uma posição de gerenciamento na área de produção, mesmo tendo Jonathan sido sincero sobre seus planos de não seguir carreira. O rapaz lhe era agradecido ao extremo, chegando, até mesmo a deixá-lo, por vezes, desconfortável.
— Como quer aproveitar o resto do domingo? – Eva perguntou, enquanto caminhava ao seu lado, grudada em seu braço.
Ele precisou levar um dedo até o pescoço para tampar a válvula que cobria o furo deixado pela traqueostomia.
— Com você. – A voz era rouca e arranhada por conta de um ferimento nas cordas vocais.
Eva riu, contente. Pela primeira vez em muito tempo, tudo parecia estar se encaixando.
— Acho que deveríamos ir para casa e pedir algo para comer. – Eva sugeriu.
Jonathan a encarou, lhe lançando um olhar sedutor, tentando adivinhar suas intenções.
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