Resumo do capítulo Poesia de O pecado original
Neste capítulo de destaque do romance Erótico O pecado original, L.E. Soares apresenta novos desafios, emoções intensas e avanços na história que prendem o leitor do início ao fim.
No dia seguinte, durante o breve horário de visitas, após Ricardo, Helena e seus filhos deixarem o quarto para o qual Jonathan havia sido transferido, Eva pôde entrar para visita-lo. Ao percorrer o corredor, sentiu seu coração sair de compasso, ansiosa. Estava a quase uma semana sem vê-lo ou falar com ele e, às portas de um reencontro, mesmo que com um Jonathan desacordado, Eva se sentia nervosa.
A porta estava fechada e, ao tocar a maçaneta, ela se sentiu ainda pior. Havia, praticamente todos os dias, tido pesadelos com um Jonathan ensanguentado ou entristecido demais. Temia que aquele fosse outro daqueles pesadelos ou, pior, temia estar acordada e o encontrar daquele mesmo jeito.
Ela suspirou profundamente antes de empurrar a folha de madeira.
Os apitos curtos e ritmados do monitor cardíaco davam um tom de desespero contido que a remetia algo entre a claustrofobia, a monotonia e a urgência. Seu olhar foi atraído instantaneamente para um dos leitos, dentre tantos outros.
Uma bolsa de soro gotejava lentamente, enviando alguma medicação em sua veia e um tubo saía de seu nariz enquanto outro drenava constantemente a saliva pelo canto de sua boca. Seu braço esquerdo jazia, engessado, ao lado do corpo e o alto da cabeça estava enrolado em ataduras.
Eva se sentiu soluçar, involuntariamente. Por um breve momento, antes de chegar ali, tivera a esperança de encontrá-lo acordado, sorrindo e admitindo que tudo aquilo havia sido apenas uma brincadeira. Mas lá estava Jonathan. O seu Jonathan. Portador do olhar que a fazia voar até as nuvens e que também tinha o poder de fazê-la se submeter a qualquer demanda. As mãos, antes tão fortes e firmes, mas tão carinhosas, jaziam ao lado do corpo, então, impotentes. A boca, dona de seus melhores beijos e provedora das palavras mais gentis, entreaberta para comportar o dreno. Não, não era uma visão bonita como os filmes queriam fazer acreditar. Não havia, ali, poesia. Apenas uma pessoa incapaz, vulnerável e desprovida de cor.
— Oh, Jonathan. – Ouviu-se clamar baixinho, se aproximando até ele.
As lágrimas corriam em uma torrente silenciosa. O nariz já se encontrava esfolado de tanto ser assoado. Às vezes, ela se perguntava quantas lágrimas um ser humano seria capaz de produzir em um único dia, sentindo-se apta a chorar um oceano delas.
Havia outras pessoas ali, aproveitando do horário de visitas para encontrar com algum ente desacordado. Eva não se acanhou com sua presença.
Eva levou a mão até a de Jonathan, segurando seus dedos grossos e sentindo a pele do rapaz causar nela o exato mesmo arrepio o qual causaria se ele estivesse acordado.
— Você precisa voltar logo. – Ela sussurrou, acariciando o rosto apático. – Precisa me exigir que seja apenas sua. Preciso que ouça o que tenho a dizer. Preciso que saiba.
Ela torcia para que o monitor cardíaco mostrasse, por mais leve que fosse, uma vibração diferente. Nada. Não havia, ali, poesia. Apenas uma pessoa incapaz, vulnerável e desprovida de cor.
— Eu te amo tanto, Jonathan. – A voz quase não lhe saiu.
Uma nuvem branca de condensação deixou sua boca, indicando que o ar ao seu redor ficava ainda mais frio, fazendo com que todos os pelos de seu corpo se eriçassem.
Eva sentiu uma mão de dedos grandes e grossos se pousar no seu ombro, trazendo-lhe um acalento familiar. Um calor que emanava aconchegante e se irradiava do ombro para o resto de seu corpo. E depois de um longo e aliviado suspiro, o desespero foi embora.
Eva levou a mãozinha ao ombro, esperando encontrar os dedos mornos de quem quer que fosse que a havia acalmado daquela maneira. Não se surpreendeu ao não encontrar mão alguma ali. Apenas o próprio ombro. E ali, naquele breve momento, a encontrou. Ali, havia poesia.
A porta do leito se abriu de maneira abrupta, por onde entraram duas enfermeiras e uma terceira pessoa.
— Ali está ele. – Disse a voz feminina da doutora que vinha da porta. – Vamos prepara-lo para a transferência.
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