Dirigi-me mais uma vez para o salão. Parecia igual como antes. As mesmas meninas sentadas e conversando em voz baixa. Quando entrei nem pareceram perceber minha presença. Eu era um fantasma no meio delas.
Continuei esperando com elas. O Senhor Fahir voltou com um papel. Parecia o mesmo que Seth segurava. Talvez fosse para que eliminasse algumas garotas dali. Certamente era. Esperei que me chamassem. Eu torcia para que me chamassem. Assim, a competição toda acabava e eu ia para casa para ouvir um “eu te avisei” da minha mãe.
– Aquelas que eu chamarem, ficarão. As outras, por favor, peço para que saiam. Tudo bem? – As garotas concordaram com sorrisinhos confiantes. Revirei os olhos. Era óbvio que elas tinham feito um bom trabalho cuidando de Seth para estarem imunes à eliminação.
O senhor Fahir começou a falar. E não parava de falar. Falar. Falar. Chamou meu nome e, ainda completamente desesperançosa, fui até onde estavam muitas garotas. Não gostava de continuar na competição. Bufei. No fim, Seth só eliminou três de uma nuvem de garotas. Revirei os olhos. Caberia a Senhora Zilena e ao Senhor Sheikh Rashid a eliminação verdadeira.
Voltamos aos nossos locais. Novamente a confusão de risinhos e conversas enquanto o Senhor Fahir chamava alguns nomes. Mais espera. Nesse ritmo, a entrevista deveria durar o dia inteiro. À medida que elas iam sendo chamadas, algumas já voltavam chorando, pegando suas bolsas ou outras coisas que tinham deixado no salão e saindo. Pelo visto a Senhora Zilena dava a resposta na hora. De todas que tinham ido, só tinham retornado dez. Engoli em seco. Eu era a última. A próxima.
Levantei-me quando o Senhor Fahir me chamou. Dirigi-me com calma até a porta da Senhora Zilena. Esperava que eu não fosse um desgosto para ela. Agora que só tinham sobrado dez, alguma coisa dentro de mim pedia para que eu fosse escolhida. Acho que era esperança de lidar com uma pessoa justa que tinha olhado bem para as meninas barbies peitudas e visto uma possível oferenda de sexo ao seu marido. Engoli em seco. Bati à porta e ouvi a voz séria e feminina de Zilena dizer:
– Pode entrar. – Adentrei o espaço que também era pequeno. Era idêntico ao que Seth estava, com a diferença de que a janela estava fechada com persianas brancas. Sentei-me à frente de Zilena que me olhou por inteiro.
Zilena usava o que parecia uma abaya preta e um hijab na cabeça de cor azul-escuro, que parecia mesclar com um azul-claro. Era uma mulher muito bonita. Não conseguia ver a cor do seu cabelo, mas os olhos eram de um castanho avelã lindíssimo, marcado com maquiagem escura e bem delineada que parecia deixar seus olhos ainda mais atraentes. Os lábios estavam pintados de rosa claro e ela parecia uma princesa com pulseiras grandes pelo braço e anéis.
Sentei-me a frente dela esperando que ela começasse a entrevista. Percebi que ela deu um meio sorriso. Acho que consegui a aprovação dela no quesito roupas. Não estava parecendo uma mulher de roupas vulgares.
– Chamo-me Zilena. – Começou a senhora. – A senhorita chama-se Agnes Valença? – Concordei meneando a cabeça. Ela concordou e voltou a falar: – Quais são suas qualidades para que você se ache merecedora de trabalhar na minha casa, senhorita? – Bem, eu não esperava uma pergunta tão direta assim.
– Conheço um pouco da sua cultura e da sua religião, senhora. O bastante, acredito eu, para saber me vestir sem fazê-la sentir ódio de mim, entender seus horários e um pouco dos seus alimentos, como a alimentação sem suínos. Acredito que sei falar o básico de árabe quando for necessário e sou fluente em inglês. Também possuo o básico em alemão e sou formada em administração. Acho, portanto, que seria uma possível candidata como sua governanta, Senhora Zilena.
Zilena deu um meio sorriso. Durou pouco, mas foi suficiente para me animar um pouco. Acho que chamei a atenção dela. Ela viu em mim uma possível governanta. Menos mal. Acho que a minha escolha em roupas ajudou.
– Bom, pelo menos a senhorita não foi tão enfadonha como as outras garotas que passaram por aqui. Elas diziam que eram lindas e seriam elogiadas pelas outras madames que eu recebesse em casa por causa da beleza delas. Elas nem se deram ao trabalho de pesquisar! Não quero uma moça bonita em casa, que possa atrair os olhares do meu marido e do meu filho. Quero uma moça que me sirva sem chamar a atenção. – Desabafou Zilena e eu concordei não deixando de esconder um meio sorriso. Eu concordava plenamente com ela. Fiquei feliz que ela tivesse percebido isso.
– Em Omã as mulheres não elogiam as outras porque tem governantas bonitas. Não que eu vá pedir para a senhorita andar com um hijab como eu por lá. Você não é da minha religião e reconheço caso não queira usar. Contudo, não precisa ficar mostrando seus seios para meus visitantes, nem colocando as pernas de fora. Tampouco estando com o cabelo solto. Maquiagem, eu até suporto, porque também as uso com frequência, mas nudez, isso é inapropriado na minha casa.
– Imaginei isso, Senhora Zilena. – Zilena meneou a cabeça ajeitando-se na cadeira. Ela era uma mulher imponente. Duvido que quando ela entrasse numa sala, não fosse chamar a atenção. Não seria os cabelos ou a nudeza que a fariam ser reconhecida. Nunca achei que uma pessoa tivesse presença o suficiente para ser reconhecida por isso: pela sua personalidade. Zilena parecia ser uma mulher de palavras comedidas, mas fortes. De uma opinião voraz e de um olhar crítico e imponente, sem, no entanto, ser arrogante, capaz de deixar mulheres do ocidente loucas para aprender como ela era capaz disso.
– Sim. Bom. Seu currículo muito me impressionou. Acredito que o seu e o da Senhorita Desirèe. Provavelmente, serão as minhas favoritas, caso Rashid deixe uma das duas entre as três de sua preferência. Muito obrigada pela entrevista, Senhorita Agnes. – Sorri.
– Eu que lhe agradeço, Senhora Zilena. – Disse e fiz uma pequena vênia, mesmo não sabendo se a devia cumprimentar assim. Mesmo assim, não ia tentar apertar sua mão e provocar uma possível ofensa. Eu estava tentando ser o mais comedida possível.
Quando sai e fui ao salão, não pude deixar de sorrir, um pouco mais aliviada. Parecia que um peso tinha saído dos meus ombros, mesmo que ainda não tivéssemos acabado a entrevista. Ainda faltava o senhor Rashid. O tão falado Sheikh Senhor Rashid que eu não conhecia. E agora, éramos apenas onze. Onze meninas esperando a chance.
Tentei olhar para todas a fim de identificar a possível Desirèe. Das onze, a maioria estava com o cabelo solto e muito cheio, mas bom o suficiente para esconder as orelhas. Pensei se eu não deveria ter feito o mesmo, mas a senhora Zilena disse que o cabelo preso dava um ar de que a pessoa não se preocupava com o cabelo. Todas ali estavam com roupas comportáveis, mas apenas uma, fora eu, estava com o cabelo preso e, achei, em algum lugar dentro de mim, que aquela fosse a tal da Desirèe.
Ela tinha os cabelos loiros bem claros e muito bonitos presos num coque baixo. Parecia combinar perfeitamente com ela. Era um pouco mais alta do que eu e tinha a pele bem translúcida e os olhos bem azuis. Não usava maquiagem, além do que parecia brilho labial, talvez, para manter os lábios menos ressecados. Era bem magra e bastante séria. Eu ainda usava um brinco pequeno na orelha em formato de golfinhos – como eu amava golfinhos! – Mas Desirèe não usava brinco algum. Droga. Eu não tinha a percebido no meio das outras. Ela conseguia ser mais certinha do que eu. Seria aparência? Por que não acredito que Seth deixou ela passar como eu por ser certinha. Mesmo assim, ela parecia ser mais rígida do que eu.
Acabei frustrando um pouco. Ela certamente deveria ter um currículo melhor do que o meu, bem como, ao que pude perceber, mais conhecimento também. Eu não tinha me ligado a alguns detalhes, mas ela…. Ela tinha pensado em tudo! Era uma exímia competidora. Uma que, certamente, deveria ser a mais difícil de combater. Eu estava ferrada.
Tentei não pensar nisso enquanto, novamente, o Senhor Fahir começava a chamar as meninas. Fiquei ali, parada, vendo todas retornarem a seu lugar. Diferente da Senhora Zilena, o Senhor Rashid não parecia dizer logo de cara de quem ele tinha gostado. Acho que ele queria ver todas as opções primeiro.
O Senhor Fahir me chamou. Levantei-me, cambaleante e segui para a última etapa da minha entrevista. O senhor Rashid. Como seria ele? Que perguntas me faria? Senti minhas mãos tremerem e tentei escondê-las atrás das costas enquanto o Senhor Fahir abria a porta para mim. Adentrei a sala e ele logo fechou-a também. Foi então quando olhei.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O Sheikh e Eu(Completo)
adorei a historia......