Coloquei uma calça legging e uma blusa larguinha de meia manga que ia até metade dos meus joelhos. Coloquei também uma jaqueta e uma bota. Tinha molhado os meus cachos e eles caíam em cascata pelos meus ombros ganhando volume gradativamente. Quando decidi que estava ao menos aceitável para não ter julgamentos sai e encontrei Seth, como sempre, parado me esperando.
Acho que ele sempre era mais que pontual. Eu tinha terminado de me arrumar cinco minutos mais cedo, mas lá estava ele, já me esperando. Dessa vez, ele não se importava em estar com keffiyeh na cabeça, de cor marrom e uma blusa branca três quartos. Usava calças que eram de um tecido que lembrava algodão e sapatos fechados. Não menos bonito, claro. Seth não conseguia ser feio nunca.
Prontamente passamos a jantar em silêncio. O clima estava ameno e a conversa não se perdurava. Ambos estavam morrendo de fome, essa era a verdade. Ao redor, famílias conversavam alto, diferente de como avistara em Zurique e havia muitas pessoas, risonhas, sorridentes, falando e conversando entre si. Me senti, por um momento, numa lembrança do Brasil.
Parecia que já havia tanto tempo que eu tinha saído de lá... A saudade bateu forte...
– O que pensas, Ag? – Perguntou-me Seth quebrando o silêncio.
– No Brasil. – Comentei saudosa.
– Sentes saudades? – Pergunta-me Seth enfiando um pedaço de vegetais na boca. Por algum motivo que não tinha compreendido ainda, ele não havia pedido, nesse caso, um prato com carnes.
– Muita. – Confessei. Lembrei-me de Fernanda, Sophia, minha mãe. Meu coração se apertou mediante a saudade e eu senti meus olhos encherem-se de lágrimas. Havia pouco tempo, mas meu coração só conseguia pensar em como queria abraça-los forte.
– Só fui uma vez lá. – Começou Seth. – E era muito pequeno. Uns sete anos, mais ou menos. Não tenho muitas lembranças de lá. – Terminou enfiando outra garfada na boca.
– O Brasil é o Brasil... A gente sente falta quando não está mais lá. – Comentei rindo porque estava morrendo de saudades da família. Terminei de enfiar a última garfada na boca e olhei ao redor. As pessoas sorriam. Seth pareceu ter uma ideia, me tirando do torpor dos pensamentos saudosos.
– Gostas de jogar, Ag? – O olhei, os olhinhos brilhando com a ideia.
– É óbvio! – Comentei sorrindo abertamente. Eu era uma adepta genuína de jogos! E muito competitiva, diga-se de passagem! Seth parecia também o ser, já que se levantou num pulo e me chamou:
– Então vamos jogar, Ag. Quero ver se você consegue ser melhor que eu. – E seguimos, então, para uma área do hotel que parecia ser destinada a jogos.
Começamos no tênis de mesa, mas como tínhamos que ficar dividindo toda hora com as pessoas à medida que perdíamos, mudamos de jogo. Fomos para o menos escolhido. Parecia um futebol de mesa. Havia uma bolinha que parecia de rock e duas entradas, uma para cada, onde devíamos fazer gol. Tínhamos cada um o que parecia um apagador na mão e devíamos empurrar a bolinha até fazermos dez pontos. Quem chegasse primeiro ganhava.
Começamos então. Primeiro começamos de brincadeira, tentando compreender como se jogava sem quebrar a mão um do outro. Depois, à medida que aprendíamos, passamos a levar mais a sério. Principalmente porque não havia outras pessoas querendo dividir conosco.
– Eu acho melhor você já desistir, Agnes. Tenho certeza que vou ganhar de você. Não vai ficar chorando como uma menininha depois, vai? – Perguntou-me um Seth brincalhão e eu revirei os olhos tentando não rir da sua tentativa de provocação.
– Acho melhor você comprar uns óculos, Sr. Seth, alguém não está vendo quem está na primeira posição. – E dito isso faço o ponto sete, que me coloca um ponto na frente de Seth, quando antes estávamos empatados. Seth gargalha.
– Que inocente. – Ele comenta e faz o próximo gol.
Continuamos o jogo calmamente. O primeiro round sou eu que ganho, mas o segundo já é a vez de Seth. E mesmo quando um perde e o outro ganha, ficamos inquirindo o outro a continuar para que nenhum dos dois acabe sem que o outro esteja ainda perdendo. Talvez, esperando o empate, que, mesmo vindo, a gente continua a jogar como duas crianças que ainda não cresceram. Estamos felizes e rindo e, o clima que outrora estava estranho, está subitamente mutável entre nós.
Dado algum momento, que não percebemos de imediato, o salão de jogos acaba se esvaziando e poucos são os que continuam jogando. Depois de mais uma hora de jogo, até as pessoas que estavam jogando baralho, parecem sair do local. Não ligamos, continuamos o jogo tranquilamente sem nos importar com a hora. Acabamos só parando quando um senhor vem até a gente e nos informa gentilmente:
– Tenho que fechar o salão de jogos hoje, mas amanhã, a partir das seis da manhã, ele já está aberto. – Diz em alemão e eu e Seth parecemos duas crianças desapontadas porque temos que parar de jogar e só dá amanhã. O senhor parece perceber isso, pois ainda continua: – Se quiserem deixo amanhã, a partir das seis da manhã, reservado para vocês jogarem. – Sou eu que nego e respondo:
– Não precisa, senhor. – Seth arqueia uma sobrancelha. Parece ainda não acreditar que eu que estou respondendo e que sei falar alemão. Na certa achou que eu era uma mentirosa. Quase dei língua para ele e disse “eu te avisei”, mas controlei o meu lado criança e continuei a falar com o homem. – Muito obrigada, mesmo assim, por hoje. – E o homem dá um sorriso leve.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O Sheikh e Eu(Completo)
adorei a historia......