Os Irmãos Cavalcanti: Rendida romance Capítulo 12

Gabriela

- Vamos Gabi, não fique assim. - Priscilla tenta mais uma vez. - Olha estamos quase chegando a casa e você vai ver que vão se encontrar amiga, nada irá adiantar você ficar aí se lamentando sempre meu amor. Energias positivas, só isso!

- Eu sei Cilla, mas ainda assim, não consigo parar de pensar que talvez tudo que vivemos ficou em Nova Iorque! Que droga de destino! - me viro para a janela do avião e pisco várias vezes, para impedir que as lágrimas caiam.

- Eu entendo Gabi, eu juro! Logo você que sempre se guardou e nunca se apaixonou assim por ninguém, mas olha, tudo vai se resolver! Eu prometo, sim? Agora se acalme. - beijou minha testa. - Falou com seu pai?

- Não, tentei ontem mas não atendeu. Deve estar ocupado com a empresa, como sempre. Tentarei assim que chegarmos. - minha amiga assentiu com a cabeça e ficámos em um silêncio confortável.

Embora minha cabeça doía e só conseguia pensar em Davi, tentei puxar assunto e acabar com o silêncio.

Sabia que estava preocupada, ainda mais por ter me alertado tanto.

Apesar de não jogar na minha cara que ela avisou, conheço bem a minha amiga e sei que além de preocupada, está chateada! Porque já previa isso e ainda assim fiz o que fiz e agora quem tem que aturar minhas lamentações é ela.

Não demorou para que chegássemos a casa.

Assim que pisei o solo brasileiro me peguei pensando " estou em casa! Quando me procurará? " mas tentei afastar o pensamento.

O motorista de Priscilla já estava a nossa espera e então seguimos o trajeto para casa.

- Imagino que esteja aborrecida por ter que ir pra casa não é? - minha amiga perguntou, me fazendo fita-la.

- É. Não é algo que se diga mas estou desgostosa de voltar para a casa da minha mãe. - respondo, já pensando no quanto terei que aturar.

- Sabe que pode sempre ficar lá em casa, não é? - sorriu para mim.

- Sei, Priscilla, mas é melhor não. Você sabe porquê. - devolvi o sorriso.

- Ah miga, sério? Isso foi há muito tempo atrás e você sabe que ele não está aqui.

- Ainda assim, Cilla. - sorri amplamente para ela.

Não seria nada engraçado ficar tanto tempo em sua casa sendo que eu namorei com seu irmão por algum tempo. Éramos bastante amigos e acabámos namorando, foi o sentimento de amizade que foi confundido por amor mas não deu certo. Ele era apaixonado por mim mas eu não era por ele. Ficámos por uns seis meses até que não deu mais. Foi o segundo namorado que tive na vida. Ambos não passaram de seis meses e nada mais que beijos. Sendo que o primeiro namorado que tive sequer durou três meses!

Thiago - irmão da Cilla - está vivendo em Portugal devido ao trabalho, mas ainda assim, está sempre por cá e por isso não fico tanto tempo em sua casa.

Não há ressentimentos ou rancor guardado. Somos amigos, conversamos, mas nada demais pois ainda sinto qualquer coisa vindo dele que passa longe de amizade.

Assim que chegamos a minha casa, suspirei com pesar. Não que eu não gostasse da minha mãe e da minha irmã, muito pelo contrário. Apenas temos ideias muito diferentes do que é uma vida boa e saudável, sem contar que era visto de longe que o que eu sentia por elas não era recíproco.

Seu Alexandre, motorista da minha amiga, tirou minhas malas do carro e ajudou a colocar dentro de casa. Deixou tudo no meu quarto e agradeci ao senhor de 58 anos com um abraço. É um amor de senhor, sempre sorridente e bastante humilde! Se tinha alguém que guardava nossos segredos no coração e dava os melhores conselhos, era ele! Uma vez que nos levava para todos cantos e ouvia tudo e ainda era sempre convidado a participar da conversa.

Perguntei sobre sua mulher e filhos e depois ele saiu.

- Tchau amigo, depois a gente se fala. - abracei a minha melhor amiga e beijei sua face.

- Se cuida hein! Vou ligar para você. - devolveu o beijo e se foi. - Vish com esse calor Seu Alexandre, que tu acha da gente passar para tomar um açaizinho? Nem adianta dizer que com a idade não pode alguns doces! - ouvi minha amiga reclamar animada ainda no quintal da minha casa.

Tadinho do Seu Alexandre, quando Cilla encasqueta ninguém tira!

Sento na minha cama e dou graças a Deus por não ter ninguém em casa!

São 4 horas da tarde e decido tomar um banho antes de mais nada.

Depois de limpa e com a alma renovada, me visto de short preto e um top branco.

Já ia pegar no celular quando entrou uma chamada.

Era Otávio.

| chamada on |

- Oi Gabi. Já está em casa não é?

- Sim Otávio, claro! Cilla me deixou directo em casa. Está tudo bem? Não consigo falar com meu pai.

- Está sim, menina. Olha, estou indo aí, tudo bem?

- Tudo! - respondo sem entender. - Estou esperando então.

- Até já menina.

| chamada off |

Alguma coisa está acontecendo! Esse tom de Otávio não me agrada.

Ele é tipo os dois braços do meu pai. O direito e o esquerdo!

Cresci com ele também, pois onde o meu pai estava, ele também estava. Tinha trabalhado para o estado durante muito tempo. Serviço militar, inteligência, é excepcional nesse tipo de coisa e apesar de trabalhar como motorista/segurança do meu pai diariamente, na direção da empresa Cavalcanti tem uma cadeira dele, pois participa nas decisões.

Não demorou muito para que ele chegasse e abri a porta com um aperto no peito.

- O que foi Otávio, me diga agora! - exijo assim que ele entra.

- Seu pai está no hospital, é melhor que venha comigo. - responde.

- O quê? Porquê não me ligaram? Desde quando? - perguntei com as lágrimas caindo feito uma cachoeira.

- Porque você voltava logo no dia seguinte e não quis preocupar você. É uma menina tão doce e esforçada, merecia aproveitar suas férias até o fim, perdão Gabi. - me abraçou. - Foi um acidente de helicóptero mas ele ficará bem. Está se estabilizando e não tarda nada sairá daquela cama, acredite.

Não falei nada, apenas chorei.

No automático, mudei para a primeira calça de jeans que encontrei e calcei meus ténis all star. Peguei no celular e entrei no carro.

O caminho para o hospital pareceu longo demais, e eu só pedia a Deus que não tirasse mais um pai de mim.

Ao chegarmos, nos dirigimos directo para a sala em que o meu pai estava.

Foi horrível vê-lo deitado, sem expressão e com tubos ligados ao corpo. Um homem que sempre fora tão forte, com uma expressão tão dominante apesar de ser tão carinhoso, agora ali, naquela cama, tao indefeso quanto nunca, me partia o coração.

Amo tanto esse homem, não seria nada se não fosse ele.

Me curvei sobre a cama e chorei alto.

- Shhh, se acalme Gabi. - senti as mãos de Otávio nos meus ombros. - Ele vai ficar bem, vamos, se acalme.

Me afastei e tentei limpar o rosto com as mãos, mas as lágrimas caíram ainda mais ao ver seus olhos cheios de água..

Estava acordado e me olhava fixamente.

- Eu.. es..tou.. a..qui. - conseguiu dizer com dificuldade. Me fazendo chorar ainda mais. - Te..a..mo..fi..lha. - sussurrou com dificuldade, com expressão de dor.

- Ohh papai eu também te amo por favor não me deixe! - abracei seu corpo com cuidado e beijei seu rosto.

Me sentei na poltrona que tinha no quarto e fiquei falando com Otávio e meu pai. Contando sobre as férias - ou melhor - parte delas.

Eles ouviam e riam, embora meu pai as vezes esboçava alguma expressão de dor.

Imaginei que estivesse sentindo bastante, mas como sempre não queria deixar evidente.

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