Os Irmãos Cavalcanti: Rendida romance Capítulo 25

Davi

Chego a casa e sirvo meu copo de whiskey.

Me sento no sofá e fecho os olhos.

Eu a amo.

E me sinto tão fraco.

Fui um babaca, mas eu tinha medo.

Sei que ela não é nada do que eu tinha pensado.

Encontrei vários diários do meu pai. Falava dela.

Muito bem dela.

Era como uma filha pra ele!

A experiência de Nova Iorque foi curta, mas muito intensa.

Fiquei surpreso com a sua entrega.

Era uma moça virgem, e não fugiu de mim.

Se deu e ficou.

Acho que a amei ali..

Quando voltei correndo por causa do acidente do meu pai, não tive tempo para entrar em contacto com ela.

Pensava nela dia e noite.

Mas eu precisava me desdobrar para manter as coisas na empresa, uma vez que meu pai estava debilitado.

Foi um espanto enorme, primeiro saber que meu pai tinha incluído uma mulher no testamento..

E depois, descobrir que essa mulher era ela.

Fiquei fora de mim.

A parte má de ser muito rico, é que você quase nunca sabe exactamente o que as pessoas querem com você.

Você não sabe se a amizade é de verdade.

Não sabe se o amor é de verdade.

Fiquei louco de raiva.

Para mim, tudo que tinha imaginado na minha cabeça.. tudo que pensava que fosse lhe dizer quando saísse do tribunal e ligaria para ela, tudo que talvez poderíamos viver, foi por água abaixo.

Fiquei possesso.. imaginei que tudo fosse pelo dinheiro.

Não conseguia enxergar..

Meus irmãos falavam comigo e eu não via.

Estava cego de raiva.

Me irritava tanto olhar para ela e sentir borboletas no estômago.

Ficar embasbacado com a sua beleza.

Eu, um homem feito, não conseguia me ver tão louco de amor por ela, mas acreditando que era uma interesseira.

E tenho noção de que a magoei bastante.. e me arrependo muito.

É apenas uma menina.. que se tornou mulher recentemente.

21 anos.

Talvez devesse lutar comigo mesmo e deixar ela em paz..

Deve estar feliz com Theodoro..

Mas como fazer isso? Se eu a vejo e quero puxar para os meus braços.

Acordo a noite procurando seu corpo e seu cheiro..

Sonho acordado e dormindo, em ter ela comigo.

Quero gritar para o mundo inteiro que ela é minha e que eu sou dela.

Eu a amo.

E não irei desistir.

********

Gabi

Passei o final de semana para baixo.

Estou dando o melhor de mim, mas é difícil.

Cada vez que o mando embora, cada vez que olho para o seu rosto..

Priscilla conversava comigo e dizia que não posso continuar assim.

Até Theo esteve aqui e conversou comigo o tempo todo também.

Na segunda feira, era como se não tivesse chorado horrores durante o final de semana.

Cheguei cedo ao trabalho, pois não conseguia dormir.

Na minha mesa tinha um arranjo de flores enorme, muito lindo.

Sorri, melhorando meu humor.

Sentei na minha cadeira e cheirei as rosas.

Tinha um cartão entre elas.

" o arrependimento tem sido o foco da minha vida recentemente.

Por favor, me perdoe.

Davi. "

Guardei o cartão entre as rosas e suspirei de cansaço.

Pousei o arranjo na pequena mesa decorativa no canto da sala.

Era exaustivo..

Procurei me distrair e mergulhar no trabalho, mas minha atenção se voltava para as rosas o tempo inteiro.

O dia passou arrastando.

Não saí da minha sala para nada, mergulhara no trabalho.

Só me dei conta de quanto tempo tinha passado quando meu estômago reclamou de fome.

Já era fim do expediente e decidi encerrar por hoje.

Estava faminta!

Peguei nas minhas coisas e saí.

Pedi comida pelo aplicativo pois estava com muita vontade de comer hambúrguer.

Sabe aquele todo suculento escorrendo molho?

Cheguei a casa e tomei meu banho.

Logo depois o homem das entregas chegou e o meu estômago agradeceu.

Só quando coloquei a comida toda na mesa, é que percebi que tinha comido com os olhos mesmo.

Era muita coisa.

Mas estava tão faminta que ataquei.

Abria o pacotinho do hambúrguer quando Priscilla entrou em casa.

- Nossa, tudo isso? - exclamou, já largando sua bolsa, tirando os saltos e pegando para ela também.

Não demorámos para ser atendidas quando fomos, pois Priscilla marcou logo que a gente estava saindo e por sorte o médico tinha tempo agora.

Ele perguntou o que eu estava sentindo, há quanto tempo, se era muito frequente e se estava passando por algum estresse.

- Eu acho que ela está grávida, doutor. - Priscilla se pronunciou quando terminei de explicar ao doutor como me sentia.

- Pois eu também desconfio. - respondeu sorrindo. - Quando foi a sua última menstruação?

Tentei pensar e percebi que estava atrasada um dia.

- Está um dia atrasada mas é normal, uma vez que é meio irregular. E da última vez que eu transei sem camisinha eu tomei remédio logo a seguir. Não é possível. - expliquei.

- Bem, nenhum remédio é 100% garantido. Vou marcar um exame de gravidez, pode ir tirar sangue agora mesmo. Se não for, a gente testa outras teorias. - sorriu simpático.

Eu tenho a certeza que não estou grávida, pois não era a primeira vez que atrasava e eu passava por situações de estresse. Afinal eu vivia com a minha mãe e depois que Emílio morreu, a minha vida se resume a isso.

Estresse.

No entanto fiz como pediu e tirei sangue.

Pedi que enviassem o resultado para a empresa e passei o endereço, pois precisava voltar ao trabalho.

- Amiga não está com medo? - Priscilla perguntou.

- Amiga, não é a primeira vez que atrasa e nem é a primeira vez que passo por situações estressantes. Acredite em mim, não é nada. - sorri para ela.

Eu me dirigi para o meu trabalho e ela para o dela.

Cheguei e me debrucei no trabalho, praticamente esquecendo desse episódio.

Só fui me lembrar quando bateram a porta do meu escritório e entregaram um envelope lacrado, endereçado a mim.

Agradeci o rapaz e o abri.

Procurei imediatamente pelo resultado e estanquei ao ler, em letras em negrito, positivo.

- Não é possível! - me olhei no espelho, e me senti entrar em pânico.

Estou grávida?

Não posso acreditar.

Nossa, que má altura meu filho. Pensei com carinho.

Teria um bebê com o homem que eu amo mas que era um amor impossível.

E para piorar, ele entra na minha sala, sem nem bater a porta.

- Não sabe bater? - perguntei, me virando para ele.

- Perdão. Sabia que estava aqui e sozinha. Precisava falar com você. Eu tenho ligado para você, fui várias vezes no seu apartamento e você não responde. Aqui não era o meu lugar mas eu precisava falar. - deu uma puxada de ar. - Eu te amo Gabi. Te amei desde o início. Eu voltei e não telefonei porque não tinha vida própria, estava vivendo pela empresa e pelo meu pai debilitado naquele hospital. E no dia em que decido ligar e colocar tudo na mesa, você aparece naquele tribunal. Não sabia o que pensar, estava descontrolado, furioso, cego. Não quis ouvir, nem a você e nem os meus irmãos. Fui a porra de um animal e não sabe como me arrependo de tudo que eu fiz. Você é sem dúvidas a melhor coisa que podia ter acontecido comigo. E eu te amo, Gabriela.

Apertei o pedaço de papel contra o meu corpo e não pude evitar que ele percebesse.

Me abraçou, pediu que lhe perdoasse e repetia que me amava.

Eu ainda digeria suas palavras e a novidade da gravidez.

Estava sendo demais para mim.

Recuei e passei as mãos no rosto.

O papel caiu e ele se agachou para apanhar.

Vi seu olhar para mim, provavelmente depois de ter lido o papel.

- Você está grávida? - perguntou e voltou a ler o resultado. - Meu Deus, está grávida! - exclamou com um sorriso no rosto. - Eu te amo tanto! Não acredito! Gabriela diz que me perdoa por favor, eu prometo dar o melhor de mim para apagar tudo que eu fiz. - as lágrimas já caíam livremente no meu rosto.

Meu peito apertava de dor, pelo que me dizia e pelo que eu diria a seguir.

- Estou grávida do Theodoro, Davi. - observei seu sorriso morrer no mesmo instante e congelou no lugar.

- É mentira. - falou baixo.

- Não é. Estou grávida de três semanas. - menti. - O bebê é dele. - prendi o choro.

Me olhou magoado, perplexo, chateado. E saiu da sala. Deixando o resultado em um pequeno sofá ali ao lado.