Os Irmãos Cavalcanti: Rendida romance Capítulo 26

Gabi

Me escorrei na parede e chorei.

Chorei sem barreiras, gemendo de dor.

Uma dor que me rasgava por dentro.

Mas eu não podia recuar. Não podia falar a verdade, estava muito magoada, e não seria o bebê a apagar o que aconteceu.

Entrei no banheiro e passei água pelo rosto, mas as lágrimas não paravam de cair.

- Gabi o que aconteceu? Davi saiu partindo tudo que estava na sala dele e foi embora. - Theo perguntou ao entrar na sala.

Saí do banheiro e o abracei, chorando ainda mais.

- Eu estou grávida, Theo. - consegui falar.

- Está chorando por isso? E porquê ele está chateado com isso? - perguntou e me fitou. - O que você fez Gabi? - tínhamos nos tornado muito próximos e ele já me conhecia muito bem.

- Eu falei que o bebê era seu. - desviei o olhar. - Desculpa, eu falei no calor da emoção, não precisa compactuar com a minha mentira. - me expliquei.

Ele pediu que fôssemos para casa pois eu não estava bem. Aceitei de bom grado.

Fui no seu carro e ele pediu que um dos motoristas da empresa levasse o meu.

Eu chorava sem parar.

Chegamos em minha casa e para a minha surpresa encontrei Priscilla.

- O que aconteceu com você Gabi? Está tudo bem? - me abraçou preocupada. - Gabi o que você tem?

- Estou grávida Priscilla. E eu falei para o Davi que o bebê era do Theodoro. - falei entre o choro.

- O quê? Você enlouqueceu Gabi? Meu Deus, e você concordou com isso Theo? - perguntou perplexa.

- Fiquei sabendo agora Priscilla.. - comentou. - Vamos, vá tomar um banho Gabi, e a gente conversa quando você estiver mais calma.

Priscilla foi comigo ao banheiro, tomei meu banho e me vesti rapidamente.

Voltamos a sala e Theo estava sentado no sofá vendo qualquer coisa.

Me sentei do seu lado e o olhei.

- Desculpa. - pedi, as lágrimas caindo outra vez.

- Não precisamos falar sobre isso agora, você precisa se acalmar. - afagou meus cabelos.

- Toma. - Priscilla me entregou um comprimido e copo com água.

- Não vai fazer mal ao bebê? - perguntei.

- Não amor, tome. - sorriu calorosa. - Você precisa comer. Não comeu quase nada ao almoço. - reclamou.

- Não tenho fome, amiga. - neguei e ela me olhou em reprovação.

- Pensa no bebê, amiga. Coma, só um pouco. Eu fiz empadão de frango, não quer um pouco?

- Tudo bem. - concordei, pensando no meu filho.

Que estranho. Ainda hoje de manhã era só eu.

Agora eu sei que tenho alguém crescendo dentro de mim.

- Tem que comer mesmo. Agora não é só você. - Theo sorriu para mim.

Nos sentamos os três e comemos em um silêncio confortável.

Depois, Theo se despediu e foi embora.

- Vem aqui. - minha amiga abriu os braços para mim e me puxou para ela. - Não fique triste. Tudo vai se ajeitar. - afagou meus cabelos.

- Você acha que sim? - perguntei, as lágrimas caindo novamente.

- Claro que sim. Você vai ver. - me abraçou apertado. - Meu Deus nem acredito que serei titia! Meu Deus Gabi. - sorriu, emocionada.

- Eu não consigo acreditar que serei mãe. - sorri com carinho.

Fiquei conversando com a minha amiga até pegar no sono. Repetindo para mim mesma que tudo ficaria bem.

********

Davi

Estava quebrado.

Cheguei a casa e olhei para o nada.

Eu a perdi.

A perdi porque fui um babaca inconsequente.

Fui injusto.

Fui estúpido.

Fui um miserável.

Concordei e peguei um pedaço de bolo e comi.

- Podemos falar agora? - pedi pra ele. Precisava me desculpar.

- Antes de mais nada, quero dizer que não concordo com o que está fazendo. Sendo um babaca ou não, Davi deve saber que vai ser pai. É um papel que ninguém irá roubar dele e ele está no direito! Mas como seu amigo, eu estarei sempre do seu lado. Não aprovo o que está fazendo, mas serei pai do seu bebê, se você quiser.

Nossa, não sabia que era possível sair tantas lágrimas de alguém. Lá estava eu chorando outra vez.

- Obrigada Theo! Obrigada! Eu sei que não é correcto, porém eu não posso me aproximar dele.. - não expliquei muito. - E obrigada mesmo.

- Já sabe como será complicado manter essa mentira, não sabe?

- Eu sei. Mas ao mesmo tempo acho que não será tão difícil.. somos amigos, teremos um filho e mantemos uma boa amizade. Não precisamos nos casar, nem morar juntos. Somos dois adultos! E não precisará registar o bebê, ninguém verá mesmo. - expliquei o que tinha pensado.

Ele concordou.

- Nem acredito que terá um bebê. Quer dizer, que teremos. - ele emendou sorrindo e eu não pude deixar de rir também.

Depois de satisfeito com o que me viu comendo, ele foi trabalhar.

Eu tentei fazer o mesmo, porém sem muito sucesso.

Saí da minha sala e fiquei vagando pela empresa.. talvez no fundo tivesse esperanças de cruzar com Davi. Mas nem sinal dele..

Mas era melhor assim.. não podia vê-lo.

Recebi uma chamada de Priscilla, querendo saber como eu estava, se eu comi, se não estava passando mal. Eu sorri com a sua preocupação. E no fim perguntou se eu já tinha marcado a consulta para saber se estava tudo bem e tudo mais. Agradeci por ter me lembrado e depois liguei para o hospital e marquei uma consulta que seria daqui a 3 dias.

**

Durante o resto da semana, nem sinal de Davi pela empresa.

Era sexta feira, lá para as 9h da manhã quando Lucas e Gustavo entraram na sala.

- Nossa, confesso que estou magoado. Fiquei sabendo de Davi que você está grávida. - reclamou por não ter contado nada.

Como poderia contar? Se eu falasse com algum dos dois nos primeiros dias, eles veriam logo que estava mentindo. Preferi não arriscar.

Me parabenizaram e estavam felizes, embora estivessem tristes pelo irmão.

Gustavo confessou que achava que eu e Davi ficaríamos juntos e não imaginava que me veria com outro, ainda mais grávida, mas que estava muito feliz por saber que seria tio.

Agradeci os dois, pois estavam sendo sinceros.

Não perguntei sobre Davi, senão choraria na frente deles.

Eles também não tocaram no assunto e eu agradeci por isso.