Perigoso (Letal - Vol.2) romance Capítulo 20

O silêncio que se estendeu entre nós foi absurdamente constrangedor. Ele desceu os olhos, viu que eu ainda ajustava o vestido nas coxas e depois subiu a visão para parar no meu cabelo bagunçado. Onde eu enfiava a minha cara?

— Então você pode transar, é…? — ele suspirou, olhou para o lado e se manteve pensativo — A enfermeira mandou chamar.

Eu aproveitei a brecha, não sabia nem mesmo o que dizer ao homem e dei um passo adiante, disposta a encontrar meus sapatos e subir. Ele não me deixou passar, me segurou pelo braço, me fez olhá-lo e permaneceu com o rosto perto demais.

— Não foge não, gracinha… — ele tinha raiva nos olhos, cerrou a mandíbula e tinha o aperto da mão forte — E quero socar a cara dele, tanto… Eu quero te foder, até te fazer esquecer aquela a vida que teve antes, até te trazer de volta pra mim.

Eu puxei o braço, criei coragem e sorri. Eu não esqueci dos motivos que me fizeram sair do salão, eu estava mesmo com ciúmes do Iron, mas já não era a primeira vez que eu tinha que me dar com um sentimento confuso se tratando do Dom.

— Você vai tentar isso mentindo pra mim? — ele se manteve firme, disposto a me escutar — Você me avisou que a Brianna estava do outro lado, não avisou? Mas eu acho que se esqueceu propositalmente de me falar que lado era este. — Ele não respondeu, nem se moveu. — Dom, você sabia que ele estava vivo?

Ele me soltou, meu olho estava cheio de água, porque era meio óbvio, não é? As peças estavam ligadas, o desespero de ir embora… Ele só abaixou o rosto, enfiou as mãos no bolso e desistiu daquela conversa. Eu saí, encontrei meus sapatos próximos ao chafariz, os peguei e fui descalça mesmo para o retorno do salão. Não me importei com os olhares que foram direcionados a mim quando subi as escadas descalça, adentrei o corredor e encontrei a porta do quarto.

— Desculpe, espero que ela não esteja lhe dando tanto trabalho — eu fechei a porta, olhei para o canto e vi a enfermeira sorrindo com ela nos braços.

Não justifiquei meus cabelos desgrenhados, só tentei pegar a Pray e não pensar em nada no momento. Ele sabia. Eu ouvi o barulho distante da música, acho que a Sore fez um discurso e acho que ouvi uma salva de palmas. Estava tudo na minha cara, durante todo esse tempo, e Dom mentiu pra mim.

A luz da janela grande refletia no quarto escuro, o vento soprava as cortinas pra dentro, eu estava torta sobre a cama, com Pray grudada em meu peito. Tudo o que fiz foi alisar sua testa, deixei algumas lágrimas escapar. Eu nem mesmo posso culpar ele, porque eu menti pra mim mesmo quando achei que estava seguindo em frente…

(...)

— Não, eu não acho que você tinha que fazer essa merda. — era a voz de Sore, e eu me perguntava o que ela estava fazendo acordada tão cedo depois da festa — Recaídas, Iron? Olha o teu tamanho!

— Vai se foder… — era voz dele, resmungona e preguiçosa.

Pensei em dar um passo adiante, mas por pura curiosidade eu fiquei ali, aproveitei a quietude da Pray e não desci as escadas, ainda encostada na parede como um espiã, sem saber o que eu podia ouvir.

— Você é quem vai se foder, de novo, se continuar nessa palhaçada! Sua filha, foca nela! É a única mulher que não vai te passar a perna até virar uma adolecnete.

— Eu já te disse, se você não puxar o gatilho, eu vou puxar! — Sore estava gritando, histérica, muito além de um ódio explicável — O filho do Espano tá vivo, o Dominic fez o trabalho e você está protegendo aquele imbecil… Vai se ferrar! O gangster que quer a nossa cabeça está vivo!

— Cala a boca. — pediu ele, ouvi o barulho de alguma coisa quebrando, um surto e uma tensão horrível no ar — Sore!

— Eu te odeio! — ela berrou — Eu odeio esse senso familiar que você tem! Eu odeio essa regra maldita que você impôs, eu…!

— Chega! — ele gritou.

— Não, aquela vagabunda precisa saber que eu quase te matei tentando te salvar! Você fez aquele plano por causa dela, você confiou no Dominic e… O Kane!

— Sore…

Eu surgi no começo da escada, só então percebi que a escada de acesso ao hall de passagem estava bagunçado, Sore estava com a maquiagem borrada e Iron ainda vestia o terno, já bagunçado. Eles não foram dormir. Ela estava bêbada, fazia uma careta e tinha o rosto borrado de preto enquanto puxava a fumaça do cigarro pelo canutilho prolongador.

— Atrapalho? — perguntei, segurando a bebê, enquanto a via revirar os olhos.

— O que acha? Fodeu com o Iron e ficou mais sonsa? — ela basicamente cuspiu.

— Eu ouvi parte da conversa.

— E daí? — ela resmungou — Acha que alguém aqui vai bancar o cínico? Espero que tenha ouvido a parte em que a cabeça do Dominic já era pra ter rolado há um bom tempo. E vê se pára de foder com o Iron, eu odeio esse modo sensível dele. Aquele filho da puta desviou dinheiro da gente, ele fez trabalhos pro Espano e pra gente ao mesmo tempo. Aquele mercenário fodido não tem lei, cagou pra irmandade dele e você é a vadia que está intermediando essa merda. — Iron simplesmente ficou na dele — Você curte um pau perigoso, né? Cuidado, muito cuidado. Quem fica em cima do muro, leva tiro dos dois lados.

Ela saiu da sala enquanto eu tentava assimilar o que foi que acabou de acontecer. Um empregado colhia as coisas silenciosamente, Iron permanecia com as mãos no bolso e desceu os olhos para Pray, ela estava quieta e aninhada em meus braços.

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