— Você não devia desistir assim. — aconselhou Kane, usando um binóculos enquanto vigiamos o topo da casa. — Sore simplesmente disse que ele estava fora. Eu sei, ele jogou pros dois lados, mas ele não vacilou quando você entrou na jogada. Você viu, ele ia fazer suas correções sozinho.
Queimamos os corpos, missão concluída com o caralho do êxito. Mas, ainda tinha a pior parte. No final das contas, o contra-ataque pode ser pior. Uma última investida, movida ao desespero. Sore sabe dirigir uma máfia, mas eu só faço o serviço pesado. E esse é meu último trabalho. Sim, o último. Eu prometi a Sore que a faria livre e ela escolheu Kane, e é nas mãos dele que eu vou deixar a baixinha rabugenta. No entanto, nessa brincadeira de tentar fugir com a cadela, Dominic deixou brechas fodidas e abertas, agora estamos limpando a merda e colocando as coisas no lugar.
— Eu não estou nem aí. — cuspi irritado, arrumei o rifle de longo alcance e calibrei o manuseio da arma do terraço, apenas deixando possíveis pontos estratégicos na mira. Nem mesmo me livrei do uniforme, ainda estava todo cagado de roxo, hematoma e sangue, e Kane me dava apoio. Do outro lado, em outro ponto alto estratégico, um sinal de reflexo foi enviado. — Na mira.
— Você devia tirar Pray daqui.
— O problema é que eu teria que levar a cadela junto. — contra argumentei — Eu tenho tesão naquela fodida amamentando, não é boa ideia. — Kane sorriu, mostrou os dentes brancos, puxou a luneta agarrada no bolso do uniforme e retrucou o sinal de reflexo. — Você ri… E não esquenta, onde Pray estiver, eu vou estar também.
Íamos continuar o assunto, mas o barulho da escadaria chamou a atenção, a porta do terraço foi aberta bruscamente e a cadela apareceu, tinha os olhos marejados, um ruivo de cara fechada atrás e Pray nos braços.
— Kane! — ela gritou, abriu um sorriso e ele retribuiu, mesmo de um jeito chorão.
Desviei meus olhos para o ruivo, ele notou que estávamos executando um plano sem ele e moveu o peso do corpo e uma perna para outra. Dei as costas, abri a parafernalha no chão, me abaixei enquanto evitava ver o processo de reencontro e separava munição de reserva, com carga pré pronta para injetar no engate do projétil.
— Poxa, que pena, eu não posso segurar ela. Estou fedido e sujo! Mas, ela é linda. Claramente puxou a mãe! — ouvi uma parte da conversa, até que o truculento ruivo se abaixou ao meu lado e colocou a mão na frente do processo, me impedindo de continuar.
— Eu sou canhoto, as balas de recarga tem que ficar do lado esquerdo. — retrucou, eu respirei fundo, soquei minha paciência garganta abaixo e olhei pro cuzão. — Não pode me chutar da irmandade por causa de uma mulher. — comentou baixo, evitando que a cadela o ouvisse.
— Você não estava tentando ir embora? — resmunguei, sério e fodido, com a velha vontade de socar a cara dele.
— É, eu estava. E visivelmente fodi com tudo.
— Fodeu. Vacilão. Estamos limpando o reboco de merda que você tacou nas paredes. E as munições de recarga ficam do lado direito, porque o cara que vai ficar aqui, bate punheta com a mão direita. — eu ia me levantar, ele segurou meu uniforme e manteve a carranca dura, como se eu fosse o respeitar por aquilo. — Tira a mão, ou a gente desce daqui comigo socando meus punhos no teu cú canhoto.
— Vocês estão bem? — perguntou Érina, mas eu não tive o trabalho de olhar pra cadela, mas ele teve. Soltou minha camisa e assentiu silencioso.
— Me fala — Eu já estava com o inferno no meio da minha bunda, o resto que se dane. —, qual a foi a sensação de ter seu ovo esquerdo massageado enquanto ela chorava por minha causa? Onde estava o caralho do seu orgulho?
— Ela já sacou a parada. — retrucou baixo, olhou pra mim e foi direto — Você venceu, ela socou o pé na minha bunda.
— Vai chorar? — murmurei me levantando, mexi a sujeira da bagunça com o pé e a vi segurando Pray com uma fralda de sol a cobrindo, enquanto ela olhava com atenção pra cena. Ela viu as marcas no canto do meu rosto, o uniforme sujo e pareceu preocupada. Já eu, estava meio que na defensiva. — Desce. — ordenei.
— Você está bem?
— Desce.
Virei as costas, Dominic se levantou e passou por ela, tentando puxar a mulher para dentro. Ela estava fodidamente bonita, com os lábios úmidos e inchados, os olhos azuis molhados de choro e as pernas de fora no short curto. E dois quilos de peito, com as alças do sutiã em amostra, me lembrando que eu já bati punheta só de ver ela amamentando.
— Precisamos conversar. — Eu olhei para trás, vi o ruivo endurecer os músculos das costas de raiva e percebi o orgulho dele indo pra merda. Aquilo foi um chute no saco dele e eu fico pensando: que porra ela tem na cabeça? Vai brincar com os dois, assim?
— Desce. — fingi que não entendi a porra do recado, vi Dominic tocar nela e instingar uma saída, mesmo contra a vontade dela. Foi quase um alívio quando eles sumiram.
— Tenso. — comentou Kane — Vocês precisam se bater, depois que eliminar a tensão, fica tudo certo. — ele sorriu — Me senti bem melhor quando atirei no Ron.
— É, mas eu não vou atirar no Dom. — ele se calou, eu olhei pro horizonte da cidade colorida, cheio de chicos de merda e vi meu sonho indo por água abaixo.
Eu achei, só achei, que ia ter paz em algum lugar e uma porra de família no caralho da tranquilidade. Grande engano…
(...)
Eu puxava a linha de costura na pele, fui atingido no beiral da coxa e estanquei o sangramento na hora, mas agora precisava fechar. Tinha acabado de tomar um banho, mas teria que tomar outro. Usava apenas a toalha, o pau estava dobrado pra baixo e eu fechava os dentes enquanto furava a pele e tentava costurar o ferimento.
Quando fui atingido naquela porra de prédio, quase morto pelo Jhon, Kane usou as mesmas táticas que aplicou no próprio corpo. O soro que ele vinha mantendo escondido do exército. Eu estava morrendo e, desesperadamente, ele descarregou alguns frascos no meu sangue. Todas as vezes que eu me aproximava da morte, ele e a Sore injetava um pouco mais. O resultado foi uma massa muscular mais grossa, quase atrofiando os nervos e uma falta de sensibilidade nas pancadas, de um jeito fodido. Eu estava me costurando, e a dor era mínima.
— O que você está fazendo? — olhei para trás, vi Érina fechar a porta e avançar com passos cuidadosos até a mesa ao meu lado, pegar algodão, virar o frasco amarelo no pano branco e tomar a tesoura da minha mão.
— Bate na porra da porta, cadela. — resmunguei e tentei pegar a tesoura de ponta torta de volta — O que pensa que vai fazer?
— Cuidei de algumas coisas quando Dominic voltava dos trabalhos. — confessou, se ajoelhou ao lado da minha perna, passou o algodão molhado e eu virei a cara sentindo um pouco do ardido — Isso aqui tá fundo, não devia estar fazendo isso assim.
— Ele te ensinava a costurar carne humana enquanto massageava as bolas na tua boceta? — reclamei, achando incrível a mão pesada mexendo no fio da coxa. Doeu! Estiquei a mão pra frente e segurei no cabelo solto, fechando meus dedos e obrigando ela a afastar as mãos com o puxão grotesco. — Fode com carinho, cadela. Eu não vou te chamar de gracinha se não aliviar o caralho da mão. Não me confunde com o paspalho do ruivo!
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