No dia seguinte fui prestar depoimento na respeito do Martíni e descobri que o Sebastian também assumiu a culpa pela morte do Omar, tive esperanças de ver o Sebastian, porém não pude. Isso é o que mais machuca em toda essa situação.
Os agentes foram buscar Marília dois dias depois, ela acreditava que eu havia morrido, mas hoje seria nosso reencontro e o momento em que deixaríamos tudo às claras. Estava ansiosa para ver um rosto familiar e alguém que pudesse confiar.
Ethan disse que no dia seguinte teríamos que fazer algumas mudanças no nosso visual e receber nossos novos documentos, durante esse tempo fiquei em um hotel modesto, pago pelo FBI. Ethan dormia aqui, mas em cama separada.
A cada passo que dava me sentia ainda mais ansiosa.
Vi o momento em que um carro preto parou em frente ao prédio, por conta da faixada não pude ver quem havia saído de dentro.
Sentei no sofá sentindo meu coração palpitar.
Ouvi passos no corredor e por fim a porta do meu quarto ser destrancada, um dos agentes trazia Marília junto consigo, fiquei algum tempo apenas observando seu olhar curioso, pude ver a sua clera avermelhada e os cabelos ainda mais brancos de preocupação.
Não hesitei, corri para seus braços, Marília a princípio ficou parada absolvendo tudo o que estava acontecendo.
— Meu deus, estou sonhando? Você realmente está viva? — Perguntou ela, assustada.
— Em carne e osso.
— Pelos céus! — Ela me abraça com força. — Minha menina, você está aqui.
Não controlei minhas lágrimas, estava com saudades de seu rosto maduro e o cheiro de eucalipto que ela exalava. Marília também não segurou as lágrimas, posso jurar ter visto seus olhos cintilando.
Larguei de seus braços, olhando para o agente que esperava eu contar a notícia.
— Como isso pode ter acontecido? — Perguntou ela com uma entoação de felicidade.
— É uma longa história, mas eu prometo que teremos tempo para conversar sobre. Antes de tudo, gostaria de avisá-la algo. — Ela franze o cenho. — Entrei para o programa de proteção a testemunhas, e agora você também.
Ela arregalou os olhos, com os lábios semiabertos.
— Mas claro, preciso que você esteja a favor disto.
— Você sempre é uma caixinha de surpresas. — A expressão de espanto sumiu de seu rosto — mas é claro que estou, já disse certa vez que não a abandonaria e continuo com essa promessa.
Volto a abraçá-la.
— Ah, Marília, senti tanto sua falta.
Contei a Marília tudo o que passei nos últimos dias, quando mencionei sobre Sebastian e Martíni pude ver preocupação em seus olhos.
— Não consigo imaginar o quão doloroso esteja sendo para ele, Sebastian teve que enfrentar algo muito difícil do seu passado. — Marília diz.
— Foi terrível.
Relembro de ver sua mão tremendo ao pegar no revólver e como ele acabou com todas as munições deixando o rosto do Martíni irreconhecível, suas roupas com gotículas de sangue.
Meu estômago revira.
— Os empregados foram demitidos, aparentemente todos da família estão atordoados. — Ela me tira do meu devaneio.
— Sinto em não poder nem me despedir de Amélia.
Ela segura minhas mãos.
— É por algo que está além do seu controle, não se culpe por isso. — Os cantos de seus lábios se contraem. — Fico feliz que esteja bem, fiquei tão preocupada. Você é quase uma filha para mim.
Sorri em meio às lágrimas.
Marília era o que eu tinha mais próximo de uma mãe, ouvir as palavras dela trouxeram algum conforto ao meu coração. Eu estava certa, me sentiria melhor e mais confiante ao seu lado, desse modo sentia como se pudesse enfrentar o que viria pela frente com mais garra.
[...]
Fomos levadas a um salão particular, lá mudaram nossos visuais. Dei tchau aos meu cabelo preto que deu lugar a um loiro dourado, cortaram o comprimento e uma franja espessa caída sobre minha testa, enquanto os cabelos brancos de Marília ganharam um tom de chocolate que deram ainda mais ênfase aos seus olhos azuis como o oceano. Mudaram nossas roupas também, agora eu tinha algumas opções entre um estilo com roupas simples e Marília usava roupas mais casuais, bem distante de suas saias lápis e camisas com babados nas golas.
Gostei do resultado, mas sentia como se estivesse roubando aquela personalidade de outra pessoa.
— Você agora de chama Michelle Dowson — um dos agentes diz entregando uma pasta contendo os novos documentos de Marília, em seguida ele estende outra na minha direção —, e você se chamará Amanda Dowson, vocês serão tia e sobrinha vindas de algum lugar da Europa tentando uma vida nova nos Estados Unidos.
Olho ligeiramente para Ethan que acompanhava tudo do outro lado da sala, com os braços cruzados.
— Serão mandadas para uma cidade pacada em Ligonier Pennsylvania, em uma casa simples alugada. — Avisou ele. — Tentem se misturar e não causar problemas, estaremos sempre de olho em vocês.
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