Por Você romance Capítulo 102

Ana Júlia

Às vezes eu penso que tudo isso não passou de um grande sonho e que a qualquer momento eu vou acordar e ver que nada disso realmente aconteceu. Estou na casa da dona Joana, minha futura sogra, mais precisamente no quarto de Lilian, minha futura cunhada. E como havíamos combinado durante a nossa adolescência, minha melhor amiga fez a minha maquiagem, mas foi Lilian quem cuidou dos meus cabelos. Ela fez lindos cachos d'água e os adornou com uma linda e delicada coroa, cravejada com minúsculas pedrinhas de brilhantes e um véu fino e rendado, caía em cascatas por minhas costas, até se espalhar pelo chão. Confesso que estou muito nervosa e ansiosa também, mas acho que não sou a única agitada por aqui, pois em minha barriga está acontecendo um reboliço animado. É como se os bebês soubessem o que está acontecendo, em sua festa particular, eles param um só minuto.

— Pronto. — Lilian diz se afastando um pouco e tanto ela, quanto a Mônica sorriem para o resultado final. Ponho-me de pé e olho-me no enorme espelho à minha frente, prendendo o ar diante da imagem da linda que se reflete na minha frente. Sorri emocionada. Sinto-me como uma cinderela contemporânea, que do dia para a noite deixou de ser a simples gata borralheira para se tornar a mais bela princesa. Meus olhos desceram vagarosamente pelo vestido longo com uma cauda imensa e rendada. E assim como o véu que tem minúsculas pérolas que completam o seu adorno. As costas são nuas até a metade e a renda francesa se enrama por meus braços desprovido do tecido branco e pelo meu busto de meia taça. Esse detalhe realça os meus seios, já fartos por conta da gravidez. Desperto da minha observação minuciosa, quando a porta do quarto se abre e dona Joana entra no cômodo, levando as mãos à sua boca, em um gesto de extrema surpresa.

— Nossa, você está tão linda, minha filha! — sussurra. Não consigo não abrir um sorriso, a olhando através do espelho. Eu me viro de frente para ela e recebo um abraço demorado e caloroso, seguido de um beijo carinhoso.

— Obrigada, dona Joana! — sibilo assim que me afasto e ela me lança um olhar deslumbrado.

— Sou eu que agradece, querida! Obrigada por trazer a felicidade do meu filho de volta! E por recuperá-lo para mim! — Noto os seus olhos se encherem de lágrimas não derramadas e logo abraçada outra vez.

— Amiga, agora que você já está pronta, tenho que ir ocupar meu lugar na igreja — Mônica fala e dona Joana se afasta. Minha amiga se aproxima para um abraço apertado e me beija no rosto em seguida e quando ela se afasta, me olha dentro dos olhos e continua. — Minha querida irmã, você está linda! Estou muito feliz por você! — fala baixinho e com um tom meigo.

— Obrigada, por tudo, amiga! Por estar aqui comigo, pelo seu apoio. Eu te amo muito, sabia? — sussurro, sentindo meus olhos lacrimejarem. Ela respira fundo e de um jeito exasperado, ergue suas mãos para o alto em protesto.

— Pode parar por aí! O quê que é isso? Tá querendo me fazer chorar, é isso? Nem vem, dona Ana, tenho que ser a madrinha mais linda desse casamento! — reclama me fazendo soltar uma risada alta.

— Você é demais, sabia?

— Eu sei, acredite! — Ela pisca um olho para mim. — Fui! Quem tem que chegar atrasada aqui é você e não eu! — Ela caminha para a porta e para abruptamente antes de abri-la. — Aaah! Vê se se atrasa bastante, viu? Adoro ver o chefinho nervoso! — fala e dá mais uma piscadela, saindo do quarto em seguida. Ainda olhando a saída, meneio a cabeça em gesto negativo, rindo das suas sandices.

— Vem cá, quero te mostrar uma coisa. — Acompanho-a até o seu quarto e uma caixa grande e branca chama a minha atenção. Rose abriu a sua tampa e um lindo vestido de noiva surgiu bem diante dos meus olhos. Ele é simplesmente encantador! Pensei deslumbrada com aquela imagem.

— Ela o trouxe na noite passada. Disse que queria fazer alguns apliques nas mangas — explicou. Ela tirou o vestido lá de dentro e o segurou e o pôs na frente do meu corpo. Automaticamente segurei o vestido na altura do meu busto e me olhei no espelho.

— O seu dia chegará, filha e você será como uma linda princesa. E onde quer que eu esteja, acredite, eu estarei lá para te ver realizar esse sonho. Puxei a respiração e tentei não chorar diante dessa lembrança. Olhei ao meu redor e me perguntei se, de onde está, poderia realmente me ver? Alguém bateu na porta, me trazendo de volta ao meu presente. Através do espelho, olhei para a porta, no mesmo instante em que ela se abriu e o senhor Alfredo surgiu no seu espaldar. Ele permaneceu em pé ali e tinha um olhar preocupado fixo em mim. Era incrível a semelhança entre o pai e filho! Os cabelos agora grisalhos têm o mesmo modelo e corte dos de Luís. Mas a barba cheia, o cavanhaque, a altura e o porte eram o mesmo.

— Você está se sentindo bem, Ana? — A preocupação em sua voz era palpável. Acho que devo estar com o semblante triste e os olhos marejados. Viro-me para ele, abrindo um sorriso triste e respondo à sua pergunta.

— Sim, estou bem! Só estava perdida em minhas lembranças. — Ele assente sutilmente.