Por Você romance Capítulo 17

— Bom dia, senhor Luís! Podemos conferir a sua agenda do dia? — Fechei minha cara ao ouvir o som doce da sua voz. Sem falar que me irrita saber que esse som consegue rasurar a escuridão dentro de mim e isso me deixa com medo, acuado.

— Bom dia! Primeiro, preciso do meu café. — Lhe respondi da maneira mais profissional e o tom mais seco possível. Mas a sua resposta profissional me fez parar no meio da minha sala e eu encarei a xícara descansando sobre o pires. Um café quente, forte e puro, como eu gosto. Um ponto para você, senhorita Ana Júlia! Pontualidade, dois pontos. Talvez você tenha algum futuro por aqui… por enquanto. Repassamos toda a agenda do dia, e não sei o porquê, mas acabei por levá-la comigo à reunião com Bartolomeu e às inspeções dos hotéis do litoral, algo totalmente desnecessário, já que os próprios gerentes resolvem tudo isso sozinhos. Quando terminamos enfim as inspeções, almoçamos em um dos restaurantes do hotel. Como um cavalheiro, puxei uma cadeira para que ela se acomodasse, coisa que não tinha o prazer de fazer há muito tempo. Ana se sentou e imediatamente olhou pela janela, então aproveitei o momento para olhá-la sem ser pego em flagrante. Ela é tão linda! Sussurrei em pensamentos e me inquietei com o seu silêncio. Chamei a sua atenção para mim, para escolhermos algo do cardápio e seus olhos lindos acompanharam o seu lindo sorriso. Ela escolheu uma água, enquanto tomei um vinho tinto.

— No que está pensando? — perguntei ao percebê-la calada demais. Ela lançou-me um olhar receoso, mas decidiu me contar sobre a sua mãe. O assunto fez o seu sorriso desaparecer do seu rosto e seu olhar ficou triste. Respirei fundo, de maneira bem sutil. Não sei o porquê, mas tive vontade de abraçá-la, de lhe dar conforto e dizer que tudo iria ficar bem. Caralho, isso não dará certo! Respirei fundo mais uma vez e resolvi mudar de assunto definitivamente. Queria ver o seu sorriso de volta ao seu lindo rosto, queria que ela se sentisse à vontade comigo. Eu não devia, mas queria muito isso. Conversamos sobre amenidades. Sobre sua Universidade. Ana falou com muito entusiasmo o quanto ama a medicina, que mora com uma amiga, mas que arrendará um apartamento para ela. Fiquei fascinado apenas a ouvindo falar de si. Não conseguia parar de olhar o seu rosto e os seus gestos.

Isso não dará certo! Repeti.

Terminamos o nosso almoço e fomos para o carro. No ambiente pequeno e apertado senti o seu perfume suave de rosas me invadir, pegando-me de surpresa e me fazendo sentir coisas que eu não deveria sentir, que eu não queria sentir. Eu não entendo por que ela mexe tanto comigo. Havia prometido a mim mesmo que nunca mais me envolveria com mulher alguma, pelo menos não no sentido amoroso, de ter relacionamentos. Não quero isso para mim, não mais. Mas sentia que de alguma forma, a Ana me envolvia, mesmo sem perceber. Nos simples gestos, com a sua fala suave, com esse cheiro gostoso. Tudo nela chama a minha atenção. Fiquei puto ao perceber isso. Irritado por me deixar levar.

Ana Júlia não é mulher para mim! Repeti durante todo o trajeto. Isso me deixou com muita raiva de mim. Do mundo. De tudo. Preciso me afastar dela. Pensei. Não posso me envolver de novo, não dessa maneira. Engoli em seco, me sentindo incomodado. Eu não suportaria passar por tudo aquilo outra vez. Deus, eu não suportaria! Depois de Camilly, aprendi que não dá para confiar em sentimentos como o amor. Assim que chegamos na empresa, fechei-me em meu escritório e pedi para não ser incomodado por ninguém. Aproveitei para ligar para minha mãe e desculpei-me por desmarcar o nosso almoço. Para recompensá-la, acabei combinando um jantar logo mais à noite com ela e papai e já podia até ver a situação. Será um jantar e tanto!

Você está mais magro, filho!

Você parece triste, precisa sair mais!

Você precisa arrumar uma namorada!

Entreguei-me ao trabalho para aplacar os meus pensamentos e passei o resto da tarde lendo documentos e relatórios da semana, e quando terminei, já eram oito da noite. Decidi ser hora de ir para casa e de lá, para a casa dos meus pais. Abri a porta do meu escritório e parei surpreso ao ver que Ana ainda estava lá, junto à sua mesa, totalmente absorta, olhando a tela do computador.

— Ainda está aqui? — perguntei. O som da minha voz soou mais ríspido do que deveria e Ana se assustou, levantando-se da sua cadeira abruptamente. Cacete! Não acredito nisso! Ela não sabia dos seus horários? Não entendia estar tarde e poderia ser perigoso pegar condução a essa hora?

Observei a garota balbuciar um pedido de desculpas, enquanto arrumava as suas coisas dentro da sua bolsa. Ela tentava se explicar, e sem paciência passei seus horários, para que isso não se repetisse. Resolvi levá-la para casa, e ali estava eu, novamente me vendo envolvido pelo seu perfume inebriante. Ela agradeceu ao chegarmos, mas a minha paciência já estava no limite, impedindo-me de ser agradável. Abri a porta para ela sair e quando ela saiu, ficou ainda mais perto de mim. Minha vontade foi de puxá-la para os meus braços e de beijá-la como se não houvesse amanhã. O que essa garota está fazendo comigo? Fechei os meus olhos para conter os meus impulsos. O que está acontecendo com você, cara? Ana se afastou e eu agradeci aos céus por isso. Entrei no meu carro o mais rápido possível, mas não fui embora, simplesmente não consegui. Fiquei olhando-a caminhar até a porta de sua casa, me perdendo naquela simples visão e só quando a porta se abriu e ela entrou, eu liguei o carro e fui embora. Como esperado, o jantar na casa dos meus pais foi regado a muitas críticas — segundo eles, construtivas — em relação à minha vida. Essa história de que eu preciso de uma mulher para melhorar a minha vida e o meu mau-humor é contraditória. A prova disso é que investi em um grande amor, entreguei-me de corpo e alma, mergulhei de cabeça na relação, para depois me ver destruído e jogado em um buraco escuro e frio, desprotegido e com o coração esmagado. Agora estou em minha cama, deitado e encarando o teto. Já são quase vinte e duas horas e desde que voltei da casa dos meus pais, estou remoendo o meu passado e essa insistência dos meus amigos e dos meus amigos em dizer que preciso de alguém na minha vida. Meu celular começa a vibrar em cima da mesa de cabeceira, me despertando. Olho a tela piscando e não acredito no que vejo: é uma mensagem da Ana. Não sei o porquê, mas me vi ansioso ao ver o seu nome na tela. Abri a mensagem em um misto de incredulidade e de felicidade.

Ana Júlia Falcão.

Assunto: Cassandra.

Secretária e assistente do Doutor L. R. Alcântara.

Boa noite, senhor Luís! Desculpe o incômodo, mas recebi uma mensagem da Cassandra.

Observo a tela do celular, aguardando que continue.

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