Perigoso (Letal - Vol.2) romance Capítulo 19

— Chorando? — Sore estava dentro do quarto, aconchegada na poltrona de amamentação e casualmente folheando uma revista de artigos infantis. Ela fez um bico ao notar meu desconforto, levantou a revista e a jogou de lado sobre o criado mudo — Tudo muito rosa…

Eu fechei a porta segurando a bebê, ajustei ela em meus braços e tentei limpar as lágrimas de um jeito torto, enquanto a mulher de vestido colado e pérolas no pescoço se colocava de pé e apontava um cabide sobre a cama. Uma proteção plástica acompanhava o detalhe, mostrando alguma peça guardada dentro do plástico preto e um sorriso cuidadoso na face dela.

— Vamos aos clichês do baile. — anunciou.

— Iron foi atacado ainda hoje e você vai fazer um baile? — ela revirou os olhos, bufou impaciente e sorriu debochada.

— Deixa eu te explicar como funciona o processo. Quando você tem aliados, gente forte e um sistema maior que o seu inimigo, você começa a ocupar o seu posto. — explicou, dando passos devagar ao meu redor, ainda sorrindo — Enquanto você brincava de casinha com o soldado laranja, o soldado vermelho levantou muros. Serviço sujo, sabe. Aquela coisa que você vivia reclamando… — respirei fundo e entendi onde ela queria chegar — Enfim, essa é a parte em que a gente sai da correnteza do rio e entra no oceano. Bailes. Negócios. Gente importante…

— Então o baile faz parte do processo?

— Tipo um lance inicial. — complementou — Vai vestir isso. Pray fica sob a supervisão de uma enfermeira e você sobe apenas quando precisar. Sorria, beba e…

— Eu não posso beber.

— Ah, põe suco na taça! — reclamou levantando a mão e ajustando o channel de forma irritada — Vem cá, transar com o ruivo deixa todo mundo idiota desse jeito? Preciso de uma sessão… Coloca o vestido e desce. Duas horas. Sorria, engole o choro e tente parecer menos perdida.

Ela virou as costas, foi até a porta e eu respirei fundo evitando chorar de novo. Eles tinham razão, eu não era a mesma… Não tinha como ser, tinha?

[...]

Quando saí pela porta eu não esperava dar justamente de cara com ele. Não depois daquela conversa, não depois dele ter aberto a porta e… Esquece. Eu simplesmente não conseguia piscar, vendo o topo da gravata borboleta, a camisa branca de tecido grosso com gola de asa, os botões do smoking de cauda curta, vestindo um soldado gigante. Aquilo foi feito sob medida, já que eu não imagino nenhum lugar vendendo um adereço grande como aquele. Nunca vi Iron vestido em trajes de gala. A cicatriz rígida e o corte penteado levemente para o lado, deixava ele durão e… gostoso. Era um triângulo bem vestido de virilha grossa e o social da calça fina demarcava demais, eu estava perdida…

— O que está fazendo aqui na porta? — perguntei, depois de muita análise e seu olhar cuidadoso, pensando em algo que eu não sabia decifrar.

— Esperando. — respondeu dando um passo à frente, passando por mim e adentrando o quarto, fechando a porta como se fosse preciso ver sua filha sem a presença da mãe.

Orgulho ferido? Desprezo? O que eu deveria sentir mesmo…?

[...]

Sore sabia como organizar um baile. Não era muito comum de se ver, já que os convidados tinham uma certa extravagância, com muito exibicionismo, ouro e jóias, dentre outras coisas caras… Eu estava parada no topo da escada, um olhar ou outro me notava até que me encontrei com os olhos de Dom, esperando no baixo da escada e com uma sobrancelha arqueada. Enquanto descia os degraus, notava o terno engravatado no ruivo grosso. Um pinguim vermelho, uma graça. Caia muito bem, mas eu confesso que ainda estava muito mais surpresa com a visão de Iron.

— Você está uma gracinha… — sorriu de lado, me entregou seu braço e eu tentei olhar adiante.

Melhorei meu humor de imediato ao encontrar Sarah vestindo suas curvas num vestido dourado, segurando uma taça e pegando outra no trajeto do garçom, enquanto conseguia me cumprimentar.

— Uau… — ela sorriu — Ser uma das poderosas te fez bem! Achei que ia demorar um pouco mais pra gente se ver. — ela cumprimentou Dom e começou a me puxar sutilmente enquanto Mars e outros rapazes se colocavam a conversar — Como está a Pray?

— Ótima, recebi muita atenção. Ela é um bebê calmo, até. Chora, mas nada que fugisse do que me dizem ser normal. E a Thayla? — perguntei, ainda sem beber a taça que ela me entregou.

— Bem, como toda adolescente reclamona, entrou no mundo dos jogos. Mars é um bom irmão, ela reconhece isso. — ela suspirou, olhou para o topo da escada e levantou as sobrancelhas — Seu ex é muito bonito, cá entre nós aquela cicatriz não é nada. Mars tem um filete nas costas e eu só acho ele mais sexy. Homem gostoso é aquele que bate na parede, quebra ela e ainda sai inteiro.

Eu dei uma risada, tentei não me concentrar na palavra “ex”, subi o olhar e vi ele descer as escadas com a companhia de uma nanica que eu conhecia bem, Brianna. O que ela estaria fazendo com ele? Ela nem faz o tipo dele! A baixinha, que conseguia ser menor que eu, segurava no antebraço dele e caminhava com graça, expondo os cachos armados para cima, num amarelo que expunha demais as curvas dos seios. Iron apertou a mão de muita gente, recebeu um pouco de atenção de pessoas que eu não fazia ideia de quem era, e a baixinha sorriu quando nos viu.

— Olha só, como está linda! — elogiou sorridente — Érina, sua bebê é uma graça! — ela sorriu com sua taça na mão e beijou o rosto de Sarah num cumprimento educado — É uma bonequinha miúda e cheirosa.

— Viu a Pray? — perguntei, tentando esconder minha incomodação.

— Acabei de ver, Pryme é tão babão… Nem parece!

— Não mesmo. — concordou Sarah, enquanto eu só estava olhando, sem reação alguma — Olha o tamanho daquele cara. É mais a cara do Dom sorrir e fazer caretas, enquanto segura uma criança no colo.

— Dominic deve estar babando. — Brianna continuou o assunto — Você é uma mulher de sorte…

— Põe sorte nisso! — respondeu Sarah elevando os risinhos entre as duas.

— Achei que era uma espiã do time adversário, não estava vigiando e passando informação pro inimigo? — cutuque a baixinha, vendo ela se calar e Sara me olhar confusa.

— Ah, entendi. — ela voltou a sorrir depois de um pouco pensar — Eu não trabalho pro Espano, eu trabalho pra irmandade. Pra ele. — ela apontou Iron e aí foi minha vez de ficar confusa — De certa forma estávamos do outro lado, mas pelo menos do lado certo. Sinto muito se atrapalhei alguma coisa entre você e o Dom, mas achei que você sabia.

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