Sinto meu sangue gelar. A ameaça, dita de forma tão fria e calculada, parece congelar o ar ao nosso redor.
— Pai — minha voz sai trêmula —, não foi assim…
— Não? — ele se vira para mim. A dor em seus olhos é devastadora. — Se ele não sabia quem você era, é impossível que tenha decidido agir sem…
— Mil dólares — Ethan o interrompe, finalmente admitindo a verdade. — Foi o valor que deixei.
O som que escapa da garganta do meu pai é quase animal. Suas mãos se fecham em punhos novamente, e instintivamente dou um passo em sua direção, temendo que ele parta para cima de Ethan outra vez.
Mas, por um momento, ele não se move. O que é pior. Porque consigo ver em seus olhos algo se quebrando.
A confiança, o respeito, anos de amizade… tudo reduzido a cinzas.
Então, num movimento tão rápido que mal consigo acompanhar, meu pai avança e empurra Ethan contra a parede com tanta força que o quadro atrás dele treme.
Ele levanta seu punho novamente, e sei que dessa vez ele não vai parar. Não até cumprir o que prometeu há pouco.
— Se não fosse aquele dinheiro, eu teria ficado na rua! — grito, minha voz embargada. James finalmente congela.
— O quê? — ele se vira para mim, sem soltar Ethan.
— Eu não tinha para onde ir — as palavras saem tremidas. — Você estava viajando, eu não podia voltar para Portland… Mesmo sem saber, Ethan me ajudou ao deixar aquele dinheiro, me ajudou a te esperar.
— Então eu deveria agradecer? — Meu pai solta uma risada seca. — Obrigado, meu grande amigo, por ter tratado minha filha como uma prostituta. Muito gentil da sua parte ter dado dinheiro suficiente para ela me esperar.
— Aquilo foi um erro — Ethan responde, abaixando o olhar. — O maior erro da minha vida.
— Um erro? — Meu pai pressiona com mais força. — Mesmo que Mia insista em ver algo bom nisso, você a humilhou!
— Sim — ele concorda, sem desviar o olhar. — E vou passar o resto da vida tentando me redimir por isso.
— O resto da vida? — James solta outra risada amarga. — Você realmente acha que vou deixar você chegar perto da minha filha depois disso?
— Pai — tento intervir novamente —, por favor…
— Não, Mia — ele me corta. — Essa porra absurda acabou aqui.
— Não acabou. Você não pode decidir isso por mim.
— Não posso? — ele finalmente solta Ethan, se virando para me encarar. — Sou seu pai.
— Sei disso, mas ainda assim, não vou deixar que decida isso por mim — digo, sentindo minha voz mais firme do que imaginei ser capaz. — Amo o Ethan e não vou me afastar dele.
Meu pai solta uma risada amarga, me encarando como se o que ouvisse fosse um absurdo ainda maior.
— Posso pedir demissão — digo rapidamente. — Se esse é o problema…
— Você acha que esse é o único problema? São vários! — Meu pai solta outra risada, sem humor. — Mas o principal problema é que vocês mentiram. Me enganaram. Por meses. Acham mesmo que vou confiar em vocês depois disso?
— Não confiamos em nós mesmos no começo — murmuro, quase num sussurro. — Por isso mentimos.
— Depois, confiaram tanto que decidiram continuar me enganando — meu pai diz. — Me enganaram quando fingiram se odiar, quando continuaram se envolvendo debaixo do meu nariz… — ele pausa, balança a cabeça e desvia o olhar para Ethan. — Até mesmo quando sugeriu que Mia se mudasse para cá.
— Não sugeri só por isso — Ethan tenta explicar. — Eu realmente me preocupei com a segurança dela depois que…
— Depois que David apareceu? — Meu pai o corta num tom amargo, invalidando qualquer outra possibilidade. — Claro. Muito conveniente.
— Pai… por favor, tente entender nossos…
— Chega, Mia — meu pai me interrompe, erguendo a mão. — Já ouvi o suficiente.
Ele caminha até a porta, então para. Quando se vira, seu rosto não demonstra mais raiva, apenas… decepção.
— Vocês são perfeitos um para o outro. Os dois sabem exatamente como destruir quem confia em vocês — diz, alternando o olhar entre nós. — Espero que valha a pena enfrentar tudo o que virá. E isso começa por mim.
Sem esperar resposta, ele sai, batendo a porta atrás de si. O silêncio que fica é ensurdecedor.

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