“Ethan Hayes”
A noite chegou, a casa está silenciosa, mas minha mente está longe disso.
Sentado na cama, passo a mão pelo rosto, sentindo a dor dos machucados. O corte no supercílio arde, meu lábio lateja, mas a dor na pele é quase bem-vinda. Distrai um pouco da outra, aquela que parece rasgar meu peito toda vez que lembro do olhar do meu melhor amigo.
Ex-melhor amigo.
Solto um suspiro pesado e apoio os cotovelos nos joelhos, enterrando o rosto nas mãos. Por mais que eu acredite que o que Mia e eu temos vale cada risco, não posso negar que dói saber que destruí a confiança do homem que esteve ao meu lado por anos.
O que me assusta é não saber se há conserto para isso.
Um gemido baixo me traz de volta à realidade. Levanto a cabeça e olho para o lado. Mia se mexe inquieta, o rosto marcado pelo cansaço e pelo inchaço das lágrimas.
Foram mais de duas horas de choro até ela finalmente adormecer. Duas horas em que tudo o que pude fazer foi engolir o que sentia para não tornar tudo ainda mais pesado para ela.
Desvio o olhar para o relógio: quase sete da noite. Nenhum de nós comeu nada o dia todo. Na verdade, a ideia de comida me dá náusea, mas Mia precisa se alimentar quando acordar.
Me levanto lentamente e sigo para a cozinha. Talvez consiga preparar algo leve para ela.
Com a mente ainda a mil, abro a geladeira e analiso as opções por um instante antes de decidir preparar uma salada de frutas — algo que sei que Mia ama.
O único som no ambiente é o ritmo da faca contra a tábua de corte. Corto pedaços de frutas sem realmente prestar atenção, minha mente sempre volta para o mesmo ponto: James.
Embora imaginasse que ele reagiria mal, que tudo poderia desmoronar, nada me preparou para a forma como me olhou.
Como se eu fosse uma traição personificada.
Solto um suspiro pesado e coloco as frutas em uma tigela, tentando afastar os pensamentos. Mia precisa comer quando acordar. Depois do dia de merda que tivemos, precisa comer algo que goste.
Não posso resolver tudo por ela, mas posso garantir que se alimente.
— O que você está fazendo? — A voz dela me tira do transe.
Me viro e a encontro encostada no batente da porta, os cabelos bagunçados e um sorriso forçado. Mas há algo a mais. Talvez cansaço, talvez alívio por me ver. Ou talvez só um reflexo do que eu mesmo sinto.
— Estava preparando uma salada de frutas — respondo, levantando a tigela. — Você precisa comer alguma coisa.
Ela assente e caminha até o balcão, sentando-se em um dos bancos. Seu olhar se perde e, por um instante, penso que vai desabar de novo.
Mas, em vez disso, ela levanta a cabeça e me encara, esboçando um sorriso fraco.
— Nunca pensei que te ver na cozinha pudesse ser tão… esquisito — comenta quando coloco a tigela à sua frente.
— Não acho que isso seja possível — comenta, com um toque de ironia, deixando o garfo de lado. — Mesmo que ninguém na empresa comente, meu pai não vai simplesmente fingir que nada aconteceu.
— Não vai. Muita coisa mudou hoje — admito. — Mas não posso deixar que James dite cada aspecto da nossa vida, Mia. Ele está magoado, mas somos adultos e podemos tomar nossas próprias decisões, não acha?
— Sim, mas isso não significa que ele não vá dificultar as coisas para nós na Nexus, principalmente para você.
Solto um suspiro, passando a mão pelos cabelos. James não vai facilitar, e sei disso melhor do que ninguém.
— Eu já esperava isso, Mia. Me preparei para ter opções caso James saísse… ou caso eu precisasse sair. Mas, como tudo precisou ser adiantado por causa da Miranda, ainda não tive o retorno esperado. Por enquanto, deixar a Nexus não é viável.
— Mas… ele pode te afastar?
— Ele pode tentar, mas não é tão simples. Minha participação não depende da aprovação dele. Mas, no fim, a Nexus é só uma parte da minha vida. Você é a outra — digo, segurando sua mão. — E essa é a que não vou perder.
— E nem vai — responde, se aproximando para me beijar. Quando se afasta, abre um sorriso fraco, mas sincero. — Pelo menos agora não precisamos mais nos esconder.
A ironia em sua voz me faz sorrir também, mesmo que com um certo peso. Após semanas tentando organizar tudo para facilitar as coisas, tudo desmoronou da pior maneira possível.
— É, acho que podemos riscar “contar para James” da nossa lista — brinco, tentando aliviar o clima.

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