Enquanto dirijo em silêncio pelas ruas de Chicago, percebo que o olhar de Mia vagueia pela cidade sem realmente enxergar nada. Suas mãos estão entrelaçadas no colo, e os dedos inquietos denunciam sua apreensão.
— Tem certeza de que quer entrar comigo? — pergunto ao ver o prédio da Nexus se aproximando. — Posso te deixar na entrada lateral.
— Não — responde com uma firmeza que me surpreende. — Se vamos enfrentar isso, vamos enfrentar juntos. Desde o início.
Entro na garagem do prédio, sentindo um misto de orgulho e apreensão. Desligo o carro e me viro para ela.
— Lembra do que combinamos? — indago, acariciando seu joelho.
— Sim. Agir normalmente. Manter a rotina — Mia responde, ajeitando a bolsa no ombro. — E ignorar qualquer possível comentário ou olhar estranho.
— Amor, se seu pai…
— Se meu pai aparecer, não vou insistir nem o provocar ainda mais — ela me interrompe, respirando fundo. — Não quero piorar as coisas, Ethan.
— Você é incrível — digo, me aproximando para beijá-la. Apesar da pouca idade, Mia continua me surpreendendo com sua maturidade.
Descemos do carro e, instintivamente, olhamos ao redor. A garagem está relativamente vazia, como de costume nesse horário. Mas hoje, o silêncio parece diferente, quase opressivo.
Seguimos para o elevador privativo. Quando entramos, Mia aperta o botão com um pouco mais de força do que o necessário e se encosta na parede espelhada, soltando um suspiro pesado.
— Sabe o que é mais estranho? — diz de repente. — Essa sensação de que tudo mudou, mas, ao mesmo tempo, nada mudou. Como se estivéssemos vivendo em dois mundos paralelos.
Observo nosso reflexo no espelho do elevador. Mia em seu vestido cinza, eu em meu terno azul. A imagem da profissionalidade. Ninguém que nos visse agora imaginaria o caos que nos envolve.
— É assim que grandes mudanças acontecem — respondo. — O mundo continua girando, mesmo quando parece que o nosso parou.
O elevador diminui a velocidade, chegando ao nosso andar. Antes que as portas se abram, Mia se afasta da parede e endireita os ombros.
— Pronta? — pergunto, ajeitando a gravata num gesto automático.
— Com você, sempre, meu amor — murmura, sem hesitar.
As portas se abrem, e ela me olha por cima do ombro antes de sair. Seu queixo erguido demonstra uma determinação que contrasta com o tremor quase imperceptível de suas mãos.
— Te amo, perdição — sussurro antes de nos separarmos.
Mia esboça um sorriso bobo enquanto sigo para minha sala. Assim que entro, solto um suspiro e visto a máscara do homem que todos esperam que eu seja aqui dentro.
O tempo passa lentamente, ou talvez eu esteja apreensivo demais com o que o dia nos reserva.
Quando finalmente consigo me desligar por um momento e me concentrar em alguns e-mails, ouço batidas na porta.
— Não é um caso — corto, mais ríspido do que pretendia. — E se as coisas chegaram a esse ponto, você sabe que não é apenas isso.
— Então me explica o que é. Porque ontem passei horas ouvindo James, e ele está… — Alec balança a cabeça, suspirando. — Nunca o vi assim, Ethan.
— Sei disso. Acredite, sei exatamente como ele está. Mas isso não muda o que sinto por ela.
— Ela tem dezoito anos, cara. Filha do…
— Por favor, não comece com esse discurso porque já estou cansado dele — interrompo, passando a mão pelos cabelos, exausto. — Não foi planejado. Não acordei um dia e decidi que ia me apaixonar pela filha do meu melhor amigo.
Alec ergue as sobrancelhas ao ouvir a palavra “apaixonar”, mas não comenta.
— Aconteceu — continuo. — E sim, lutei contra isso. Nós dois lutamos. Mas chegou um momento em que… — faço uma pausa, buscando as palavras. — Em que lutar contra o que sentíamos estava fazendo mais mal do que bem.
— Cara, sinceramente, não sei se te parabenizo por finalmente usar seu coração da maneira certa ou se dou meus pêsames pelo que vem por aí — comenta, inclinando-se para frente. — Mas e agora? Qual é o seu plano?
— Plano? — Solto uma risada sem humor. — Você acha mesmo que existe um plano para isso? James me odeia agora, Alec. Nada do que eu disser vai mudar isso.
— Então, se eu fosse você, começava a pensar em algo. Pelo menos em relação à Nexus — diz, num tom sério demais. — Porque James estava falando em usar sua influência no conselho. Ele quer forçar sua saída.

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