“Ethan Hayes”
O som de passos lentos, calculados, ecoa pela casa, quebrando o último vestígio de leveza da manhã.
Não preciso virar o rosto para saber que é ele. É como se meu corpo entrasse em alerta, sempre se preparando para o próximo embate.
O silêncio que se instala diz tudo. Minha mãe para de mexer a xícara. Meus tios interrompem a conversa. Mia, ao meu lado, fica tensa.
E então, ele aparece.
Cinco anos.
Cinco anos e ele continua o mesmo.
O mesmo olhar frio. O mesmo terno impecável. A mesma energia de alguém que mede tudo ao redor para garantir que nada esteja fora do lugar.
E a primeira coisa que ele faz não é me encarar.
Seu olhar percorre a mesa primeiro, como se avaliasse quem está presente. Como se essa fosse a prioridade.
Até que, finalmente, seus olhos recaem sobre mim.
Um segundo. Dois. Três.
— Então, decidiu aparecer — diz, sem qualquer traço de emoção. Como se tivéssemos nos visto ontem e não há cinco anos.
Não reajo imediatamente, e isso parece chamar a atenção da maioria. Antes, eu rebateria. Responderia à altura de sua indiferença. Agora, ao lado de alguém que já enfrentou emoções suficientes nos últimos meses, evito um confronto desnecessário.
Mesmo sabendo que, mais cedo ou mais tarde, minha paciência vai se esvair de vez.
— Bom dia para o senhor também — digo, levando a xícara à boca sem desviar o olhar.
Meu pai me observa por um instante, como se analisasse cada detalhe da minha presença, provavelmente procurando algo para criticar.
Então, ele solta um suspiro curto e caminha até a cadeira na cabeceira da mesa, puxando-a com calma.
— Bom dia, Catherine — diz, dando um beijo na minha mãe antes de se sentar.
Minha mãe retribui o cumprimento e se apressa em servir seu café antes que qualquer outra palavra seja dita, como se sua maior preocupação fosse evitar que a tensão dominasse a mesa.
— Aqui está, querido. Está quente, cuidado.
Ele murmura um agradecimento, e o silêncio que se instala por um breve momento é tão pesado que quase posso sentir sua densidade.
— Bom, já que a educação passou longe desse café da manhã — Lauren quebra o silêncio — acho que eu mesma deveria apresentar vocês direito.
Ela se inclina levemente para frente e gesticula em direção a Mia.
— Papai, essa é Mia, namorada do Ethan.
O olhar do meu pai finalmente encontra o de Mia. Não há hostilidade aberta, mas também não há nenhum traço de receptividade.
— É um prazer conhecê-lo, Sr. Hayes — Mia o cumprimenta com um sorriso educado, tentando manter a voz firme, mas percebo seu nervosismo evidente.
— Bem-vinda — diz simplesmente, então se vira para minha mãe. — William me disse que estaria aqui.
— Ele e Evelyn foram levar Lily ao aeroporto. Parece que houve um imprevisto no projeto de Vancouver.
— Um desastre — confesso, passando a mão pelos cabelos. — Provavelmente teríamos gritado antes mesmo dele se sentar.
— Viu? Um grande progresso.
— Ou talvez eu só esteja tentando te poupar do espetáculo completo da família Hayes.
— Eu não me importaria — ela responde com uma sinceridade que me desarma. — Estou aqui para qualquer versão sua, Ethan.
Por um momento, me permito apenas a observar, me perguntando em que momento ela conseguiu se tornar tão fundamental.
Talvez tenha sido desde aquela noite.
— Algo errado? — pergunta ao notar meu silêncio.
— Tenho medo de que isso se torne pior — confesso finalmente. — Cinco anos e nada mudou. Ele ainda me olha como se eu fosse uma decepção ambulante.
— Você construiu algo incrível, meu bem — diz, segurando meu rosto entre as mãos. — Com ou sem a aprovação dele, a Nexus é uma das melhores do país.
— Eu sei — suspiro. — Mas por que ainda dói tanto?
— Porque você é humano. — Ela beija minha testa suavemente. — E porque, no fundo, todo filho quer o orgulho do pai.
Fico em silêncio, processando suas palavras. Talvez Mia esteja certa.
Porque mesmo após todos esses anos, mesmo após ter conquistado o que ele me disse que eu não seria capaz, parte de mim ainda queria ouvir um simples elogio do meu pai.
— Vem — Mia diz, me puxando pelo pulso. — Tive uma ótima ideia para te relaxar.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Proibida Para o CEO