Respiro fundo antes de me virar lentamente, preparando mentalmente alguma desculpa para evitar o que quer que meu pai tenha planejado desta vez para me manter longe de Ethan.
Pearson me observa segurando uma pasta volumosa, com aquela expressão de tédio que já aprendi a detestar nesses dias no departamento jurídico.
— Na verdade, estava indo embora, Sr. Pearson. O expediente acabou.
— O expediente acabou para quem não tem responsabilidades urgentes. — Ele estende a pasta em minha direção. — Precisamos desses documentos revisados para a audiência de amanhã.
Olho para a pasta como se fosse uma cobra prestes a me dar um bote.
Isso não é coincidência. Nem um pouco.
Pearson poderia ter me dado isso há horas, quando voltou da audiência. Ou poderia simplesmente deixar para amanhã cedo.
Mas não. Tinha que ser agora. Exatamente quando estou saindo para encontrar Ethan.
— Agora? — Pergunto, tentando não soar tão irritada quanto estou. — São quase seis e dez.
— Seria bom demonstrar comprometimento, Srta. Bennett. Especialmente considerando suas… circunstâncias especiais aqui.
Tradução: Prove que não está aqui só porque é a filha do chefe.
Como se eu não soubesse.
Filho da mãe!
Pego a pasta com mais força do que o necessário, quase derrubando alguns papéis.
— Claro, Sr. Pearson. Vou começar imediatamente.
Ele acena com a cabeça, satisfeito consigo mesmo, e se afasta, provavelmente para arruinar a noite de outro funcionário antes de ir embora.
Solto um suspiro pesado ao voltar para minha mesa, jogando a bolsa na cadeira e abrindo a pasta.
Theo já foi embora, assim como a maioria do departamento. Só restam alguns advogados num canto e eu, presa neste círculo do inferno burocrático.
Pego o celular para avisar Ethan e encontro a resposta da minha mensagem anterior.
“Minha reunião atrasou. Te vejo em 15 min.”
Respondo rapidamente:
“Mudança de planos. Pearson jogou um processo na minha mesa no último segundo. Nos vemos na minha casa.”
Deixo o celular de lado e abro a pasta, soltando outro suspiro. Será que me levar à exaustão mental também faz parte dos planos do meu pai?
Viro a terceira página e, antes mesmo de olhar, sinto uma presença familiar. Levanto a cabeça e encontro Ethan se aproximando, o paletó pendurado no braço, a gravata frouxa.
Mesmo depois de um dia inteiro de trabalho, ele ainda parece saído de uma revista de moda.
— Trabalho de última hora? — pergunta, observando os documentos espalhados.
— Pearson e seu timing perfeito — respondo, revirando os olhos. — Preciso revisar todo esse processo para amanhã.
Ethan se inclina sobre mim, analisando os papéis por cima do meu ombro.
— Você precisa revisar esses documentos — diz, e por um segundo acho que ele vai me sugerir cancelar nossos planos. — Mas isso não significa que precisa ser aqui, nesse departamento que à noite parece cenário de filme de terror.
Meu namorado sorri um pouco mais, aproximando-se lentamente até se sentar ao meu lado. Ele puxa minhas pernas para seu colo e pega um dos documentos.
— Vamos ao trabalho — diz, recostando-se no sofá enquanto acaricia meu joelho com a mão livre. — Quanto mais cedo terminarmos, mais tempo terei com a minha namorada.
Nos concentramos nos documentos, trocando toques despretensiosos entre um parágrafo e outro.
Ethan aponta detalhes nos contratos que eu teria deixado passar. Questiona, analisa… É impressionante como, mesmo após anos longe dos tribunais, ainda mantém o olhar afiado, como se nunca tivesse saído de um.
— Essa cláusula está mal redigida — ele observa, sublinhando um parágrafo. — Deixa uma brecha enorme para contestação.
Concordo, observando suas marcações. Trabalhamos em um silêncio confortável até que, de repente, ele desvia o olhar dos papéis e me encara.
— Você tem pensado em Harvard?
Meu coração dá um pequeno salto. De todos os assuntos possíveis, esse não estava na minha lista de expectativas para esta noite.
— Harvard? — repito, tentando ganhar tempo, embora saiba exatamente do que ele está falando.
— O deferimento que você conseguiu depois que sua mãe faleceu. — Ele coloca os documentos na mesa e me puxa para o seu colo. — Sei que ainda tem tempo, mas… você já decidiu o que vai fazer?
Engulo em seco, sentindo um nó se formar na garganta. Esse é um assunto que venho evitando desde que as coisas entre nós ficaram sérias.
O sonho da minha vida de um lado, o homem da minha vida do outro.
A última vez que me vi nessa berlinda, perdi minha mãe semanas antes de partir. As coisas não terminaram nada bem.
E é impossível não sentir meu coração acelerar ao imaginar tudo desandando de novo se eu decidir ir para Harvard.

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