“Mia Bennett”
Tudo aqui é tão claro. Tão vívido, limpo. Perfeito.
A luz não incomoda meus olhos, mas parece reacender cada detalhe ao meu redor.
As flores silvestres balançam suavemente, o céu é absurdamente azul, e a grama acaricia meus pés descalços.
Não sinto dor. Meu peito não arde enquanto respiro… Meu corpo parece leve, como se pudesse flutuar a qualquer momento.
Olho ao redor enquanto caminho pelo campo de flores, deslizando as mãos pelas pétalas. As cores são mais vivas, as fragrâncias mais intensas.
Não sei há quanto tempo ando por esse paraíso que parece não ter fim, mas quando vejo um banco de madeira sob uma árvore enorme, decido me sentar.
Observo as borboletas dançando ao meu redor e sinto uma paz indescritível.
— É lindo, não é?
A voz que vem por trás de mim faz meu coração parar. Conheço essa voz.
Conheço tão bem que, mesmo após meses sem a ouvir, reconheceria em qualquer lugar.
Me viro lentamente, quase com medo de que ela desapareça se eu me mover muito rápido.
E então, a vejo. Em pé, vestindo um vestido tão branco quanto o meu.
Seus cabelos castanhos ondulados balançam com o vento, e aquele sorriso… aquele sorriso que sempre me fazia sentir que tudo ficaria bem, não importa o quão terrível o mundo parecesse, continua o mesmo.
— Mãe? — pergunto, quase num sussurro.
Ela sorri ainda mais, abrindo os braços.
Não hesito nem por um segundo. Me levanto e corro até ela, me jogando em seus braços como fazia quando era criança.
— Minha menina — ela murmura contra meus cabelos, acariciando minhas costas. — Minha corajosa, teimosa e maravilhosa menina.
— Senti tanto a sua falta — consigo finalmente dizer, pressionando o rosto contra seu ombro.
— Eu sei, meu amor — ela responde, afastando-se o suficiente para segurar meu rosto entre as mãos. — Também senti sua falta.
— Como… isso é possível? — pergunto, olhando ao redor, para o campo de flores que se estende até o horizonte. — Onde estamos?
— Um lugar intermediário. — Ela sorri e seus olhos brilham. — Nem lá, nem cá.
Franzo as sobrancelhas, sentindo algo me inquietar.
Não sei como cheguei aqui.
Minha última memória é um emaranhado confuso de dor, sangue e desespero.
— Eu estou… — Não consigo completar a frase.
— Não, querida — minha mãe diz suavemente. — Ainda não. É por isso que estou aqui. Para conversar com você.
Ela pega minha mão e começamos a caminhar pelo campo florido, lado a lado.
— Você tem passado por tantas coisas, filha — ela diz, num tom carregado de compreensão. — Mais do que alguém tão jovem deveria enfrentar.
— Às vezes sinto que estou sempre lutando, mãe. — Suspiro. — Tem sido exaustivo.
— Eu sei. — Sua voz carrega uma ternura infinita. — E estou tão orgulhosa da sua força, Mia.
Chegamos a um pequeno riacho, com a água tão cristalina que posso ver cada pedra no fundo. Nos sentamos em uma rocha à margem, brincando com os pés descalços na água fresca.
— Conheci meu pai — digo de repente. — Me desculpe, mas precisei procurá-lo, mãe.
— Estou com medo. — A sensação de paz começa a se dissipar, e com ela, um frio estranho me envolve.
— Você é mais forte do que qualquer coisa que tentaram fazer com você. — Minha mãe segura minhas mãos com firmeza. — E você não está sozinha. Nunca esteve, mesmo quando parecia estar.
O céu começa a escurecer, não de forma ameaçadora, mas como se o dia estivesse gentilmente se despedindo.
— Eu te amo, mãe. — Consigo dizer uma última vez.
— Eu também te amo, minha menina corajosa. Estarei sempre com você.
Seu rosto é a última coisa que vejo antes que tudo desapareça.
E então… dor.
Dor em cada respiração, em cada batida do coração, me puxando de volta para a realidade.
Abro os olhos lentamente, piscando contra a luz fluorescente.
O bipe constante do monitor cardíaco substituiu o som calmo do riacho. O cheiro de antisséptico tomou o lugar das flores.
Mas não estou sozinha.
Ethan dorme na poltrona ao meu lado, o rosto ainda marcado pela preocupação, mesmo adormecido.
Estendo a mão, sentindo meus dedos tremerem com o esforço, e toco levemente seu braço.
Seus olhos se abrem instantaneamente, fixando-se nos meus.
O alívio que vejo neles vale cada pontada de dor.
— Você voltou, meu amor. — Ele se levanta rapidamente, segurando minha mão. — Voltou para mim. Para nós.

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