A voz de Ethan chega até mim, distante e, ao mesmo tempo, clara. Tento focar no rosto dele tão perto do meu, seus olhos brilham com lágrimas contidas.
Quero responder, dizer que sim, voltei por ele, por nós, como minha mãe me instruiu. Mas meu corpo não coopera. Sinto apenas meus lábios formando um sorriso fraco antes que a escuridão me envolva novamente.
Tento abrir os olhos outra vez, mas eles se recusam a responder.
Entre a consciência e a inconsciência, ouço vozes familiares, o toque de mãos, o bip constante…
Não sei quanto tempo se passa assim, nesse ciclo interminável. Minutos, horas, talvez dias. Até que, finalmente, consigo retomar o controle dos meus olhos, encontrando um teto branco sobre mim.
Tentar respirar profundamente é um erro que percebo imediatamente. Uma dor aguda atravessa meu peito, me fazendo engasgar e forçando minha respiração a se tornar superficial.
Movo meus dedos, testando cada parte do meu corpo. Tudo parece conectado e funcionando, embora cada movimento provoque algum nível de dor.
— Você acordou novamente.
Uma enfermeira de meia-idade, com um sorriso gentil, entra e checa os monitores ao meu lado. Seu crachá diz “Nancy”.
— Ethan — testo minha voz, sentindo minha garganta arder imediatamente.
— Seu namorado finalmente concordou em ir tomar um café decente na cafeteria. — Ela sorri, ajustando meu travesseiro com delicadeza. — Ele não saiu do seu lado nesses últimos três dias. Seu pai teve que trazer roupas para ele.
Três dias. A realidade da situação começa a se estabelecer. Três dias perdidos, apagados da minha vida como se nunca tivessem existido.
— Água — peço.
— Vamos começar com alguns cubos de gelo, ok? Você ficou um tempo no ventilador, então precisamos ir com calma.
Assinto, observando-a se afastar por um momento antes de voltar com um copo. Nancy se aproxima e delicadamente coloca um cubo de gelo na minha boca.
O frio e a umidade são um alívio imediato para minha garganta castigada.
— Todos ficarão felizes em ver que você está mais acordada agora — Nancy comenta alguns minutos depois, enquanto verifica meus sinais vitais. — Você teve alguns momentos de consciência antes, mas não parecia totalmente presente.
Antes que eu possa responder, ouço passos apressados no corredor. Ethan logo abre a porta, como se tivesse sentido que estou acordada. Um sorriso surge em seu rosto quando me olha.
— Você está aqui novamente — diz, se aproximando rapidamente da cama.
— Parece que sim — respondo, tentando sorrir, apesar da dor que persiste em cada centímetro do meu corpo.
— Vou deixá-los a sós por um momento — a enfermeira diz, sorrindo. — Não a canse muito, ok?
Ethan assente, sem desviar o olhar de mim. Quando ficamos sozinhos, ele se inclina, beijando minha testa com cuidado, como se eu pudesse quebrar a qualquer momento.
— Estava morrendo de saudade da sua voz — ele murmura, aliviado.
Tento me inclinar para me aproximar dele, mas faço uma careta quando minhas costas protestam de dor.
— Devagar — Ethan diz, tocando meu ombro. — Você levou um tiro, lembra?
— Difícil esquecer essa parte — murmuro, tentando encontrar uma posição confortável.
— Como você está, meu amor?
— Não quero que pense neles agora — Ethan diz, segurando minha mão.
— Também não quero. Só quero… sair daqui.
— Sempre tão impaciente — brinca, acariciando meus cabelos.
— Quanto tempo até eu poder ir para casa? Sabe?
— O médico disse pelo menos mais sete a dez dias. E depois, semanas de recuperação em casa.
Dez dias. A notícia de que ficarei presa nesta cama, cercada por máquinas barulhentas, dependente de estranhos para as necessidades mais básicas, é quase tão dolorosa quanto o tiro.
— Não se preocupe com nada agora — ele diz, como se lesse meus pensamentos. — Um dia de cada vez, meu amor.
Abro a boca para retrucar, expor minha frustração, mas um cansaço me atinge, tão forte e súbito que não consigo sequer continuar pensando.
— Você precisa descansar — ele diz, notando meu esforço para manter os olhos abertos.
— Acabei de acordar.
— E seu corpo passou por um trauma imenso. Sono é parte da cura.
— Fica comigo, por favor — peço, enquanto meus olhos já começam a se fechar contra minha vontade.
— Sempre, meu amor — promete, e então apago.

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