“Alguns minutos antes. Ethan Hayes”
Observo Mia sair da minha sala, resistindo à vontade de esquecer a razão e relembrar o que fizemos ontem. É impossível ignorar as lembranças de seus cabelos presos entre meus dedos e, ao tocá-los novamente para soltá-los, foi difícil lembrar onde estamos.
— Mas que porra! — resmungo ao ouvir o som da porta se fechando. — Só posso estar enlouquecendo.
Esfrego o rosto com as mãos, tentando retomar o controle dos meus pensamentos. Afrouxo um pouco a gravata, mas ainda assim me sinto sufocado. Preciso me concentrar. Reuniões, relatórios, qualquer coisa que não envolva o perfume dela impregnado no ar.
Levanto para guardar uma pasta na prateleira ao lado quando a porta se abre. Não preciso olhar para saber quem é.
— Já estava sentindo falta dessas invasões — digo, voltando ao meu lugar e encarando-o.
— Se não tivesse me abandonado ontem, não estaria com saudades — James retruca, num tom tão irônico quanto o meu, sentando-se à minha frente. — Como foi com o Williams? Fiquei surpreso quando você me avisou sobre o almoço.
Respiro fundo, me preparando mentalmente para essa conversa. Quando James me ligou ontem, perguntando qual era o compromisso tão urgente que me fez largar a Nexus, Williams foi o primeiro nome que me veio à cabeça.
Um investidor que James insistia para eu considerar há meses, mas ambicioso demais para eu sequer cogitar fechar qualquer contrato. Até ontem.
— Melhor do que esperávamos — respondo, abrindo alguns botões da camisa. — O velho é foda nas negociações, mas depois da terceira taça de vinho, começou a ceder.
— Então admite que minha sugestão realmente foi boa? — James pergunta, com um sorriso convencido.
— Sim, admito — confirmo, lembrando da longa conversa que tive com Williams ontem, quando Mia e eu voltamos à empresa. — Ele queria quinze por cento de participação nos lucros do projeto. Consegui baixar para doze após mencionar a possibilidade de a Chen Technology entrar como parceira.
— Mas a Chen nem demonstrou interesse ainda — ele pergunta, confuso. Dou de ombros, sorrindo.
— Williams não precisa saber disso. O importante é que ele mordeu a isca — explico, girando na cadeira. — E depois que citei os números projetados para o próximo trimestre, ele praticamente implorou para assinar o contrato.
— Filho da mãe — James ri, balançando a cabeça. — Por isso que você cuida dessa parte. Eu não tenho paciência para esse joguinho todo.
— Por isso que você ficou no jurídico. Você é ótimo em amedrontar pessoas com processos, mas péssimo em convencê-las a assinar contratos milionários.
— Ei, ajudei a fundar essa empresa tanto quanto você — protesta, num tom falsamente indignado.
— E me deixou responsável pela parte chata — rebato, jogando a gravata em cima da mesa, finalmente conseguindo relaxar.
— Você? Conhecendo alguém para… namorar? Conta outra, Ethan. — Ele se inclina na cadeira, ainda rindo. — Me diga, quem é a azarada que vai ter que lidar com você?
— Qual seria o problema em eu namorar sério? Sou um homem tão desprezível assim? — pergunto, num tom que faz seu riso morrer instantaneamente. Ele limpa a garganta, meio sem jeito.
— Não me leve a mal, Ethan — ele diz, agora sério. — Somos amigos há anos, mas seu histórico com mulheres me faz duvidar de você em um relacionamento realmente sério. Miranda está aí de prova. Bastou ela te cobrar um pouco mais para você pular fora.
— Não sou perfeito, James, mas isso não significa que não possa mudar e tentar algo diferente.
— Sei disso, meu amigo. Só estou dizendo que você não é exatamente o sonho de genro para nenhum pai. Por exemplo… — Ele faz uma pausa, me encarando com um sorriso de canto. — Eu nunca permitiria que você namorasse minha filha.
A frase me incomoda, e nem entendo por quê. É tão direta, tão… verdadeira. Mas, antes que eu possa pensar em uma resposta, o som de algo caindo no corredor interrompe a conversa.
James se levanta no mesmo instante, e eu o sigo, agradecendo pela distração. Quando saímos da sala, vejo Mia no chão, cercada por papéis espalhados. Seu rosto está pálido, e seu olhar assustado se fixa em mim imediatamente.
Merda.
Não sei o quanto ela ouviu. Mas, se Mia interpretou errado e decidir abrir a boca agora… tudo vira um inferno.
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