O sorriso de James diminui ao notar minha expressão séria. Ele se ajeita melhor para me encarar, franzindo a testa.
— O que foi, filha?
As palavras parecem presas em minha garganta. Como contar que, por minha culpa, ela morreu? Como admitir que minha desobediência custou a vida dela?
— É sobre a minha mãe — minha voz sai tremida. Fecho os olhos com força, tentando conter as lágrimas. — Sobre… como aconteceu.
James aperta minhas mãos de leve, me dando espaço para continuar. O gesto, tão gentil, só faz minha culpa aumentar. Ele não faria isso se soubesse a verdade.
— Tudo começou… — digo, focando meu olhar em nossas mãos unidas. — Com uma festa de despedida… Meus amigos estavam indo para a universidade, seria a nossa última festa juntos pelos próximos anos.
Paro por um momento, tentando organizar meus pensamentos. As memórias daquela noite invadem minha mente sem permissão: a chuva forte enquanto a esperava, o som do meu celular tocando, o choro de David do outro lado da linha…
— David tinha me proibido de ir — continuo. — Ele sempre dizia que festas não eram lugares para meninas decentes, que eu deveria ficar em casa. Mas… daquela vez… eu não ouvi. Achei que, por uma única vez, não faria mal quebrar as regras.
Sinto as lágrimas voltarem a cair, mas não tenho forças para secá-las. Respiro fundo, tentando encontrar um pouco de coragem para continuar.
— Então saí escondida. Achei que conseguiria voltar antes que alguém acordasse. Mas minha mãe… — Minha voz falha pelos soluços. — Ela descobriu, claro. Me ligou dizendo que estava indo me buscar, que precisávamos chegar em casa antes que David acordasse.
James permanece em silêncio, apertando minhas mãos levemente enquanto ouve atentamente.
— Mas estava chovendo muito naquela noite — o nó em minha garganta se aperta ainda mais, mas é tarde demais para parar de falar. — O policial disse que… a pista estava escorregadia. Um motorista perdeu o controle do caminhão e minha mãe estava fazendo a curva…
Não consigo continuar. As lágrimas caem com mais força, e todo o meu corpo treme sem que eu tenha controle. As lembranças das horas na sala de espera voltam, intensificando o choro, se é que isso ainda é possível.
“Fizemos tudo que estava ao nosso alcance”, o médico disse, com um olhar carregado de pena. “Mas Sarah Mitchell não resistiu aos ferimentos. Sinto muito.”
Mal tive tempo de digerir a notícia. Algumas horas depois, enquanto estávamos em casa separando tudo para a funerária, veio a primeira acusação de David, seguida de um tapa na cara.
Segundo ele, eu pagaria o preço pela minha desobediência. Naquela noite, eu não fazia ideia do quanto ele falava sério. Não imaginava o que viria depois.
— Mia… — James tenta falar, mas balanço a cabeça, fazendo-o se calar.
— Foi minha culpa — sussurro. — Se eu tivesse obedecido… se não tivesse sido tão egoísta… ela estaria viva. Ela morreu porque estava indo me buscar. Morreu por minha causa!
O silêncio que segue é quebrado apenas pelo som do meu choro. James solta minhas mãos, e por um momento penso que é isso. Ele finalmente percebeu que tipo de pessoa eu sou. Mas, então, seus braços me envolvem, me puxando para outro abraço apertado.
— Não foi sua culpa — ele sussurra contra meu cabelo.
— Foi sim — insisto, tentando me afastar. — David disse…
— Obrigada — sussurro quando finalmente me acalmo.
— Pelo quê?
— Por não me odiar.
— Nunca — James diz, firme, afastando-se apenas o suficiente para olhar em meus olhos. — Nunca poderia te odiar, filha.
Um silêncio confortável se instala entre nós, quebrado apenas pelo tic-tac do relógio na parede.
— Mia, foi por isso que você veio para Chicago? — ele pergunta suavemente. — Para fugir da culpa?
— Após tudo isso… — Engulo em seco, sentindo meu corpo tenso novamente. — David… ou. Ele me culpou pela morte dela, começou a beber… Primeiro foram só as acusações, os xingamentos… Depois vieram as surras.
— Ele te machucou? — Sua voz sai controlada, mas posso sentir a raiva por trás dela. Faço que sim com a cabeça, sem conseguir encará-lo.
— A última vez foi… a pior — sussurro. — Então decidi vir para o último lugar onde ele me procuraria.
— Você está segura agora — ele murmura, me puxando para seus braços novamente. — Prometo.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Proibida Para o CEO