A sensação de alívio deveria ser imediata, como se o peso tivesse sido tirado dos meus ombros. Mas, enquanto vejo a viatura levando David, o que sinto não é só alívio. Também é medo.
— Vamos para casa — James diz, sua voz carregada de preocupação.
Ethan finalmente parece perceber a presença dele e solta meus braços, permitindo que meu pai me abrace. Ficamos assim por alguns segundos, como se ambos precisassem disso para confirmar que tudo realmente acabou.
— Preciso ir à delegacia resolver algumas coisas — meu pai diz ao me soltar. — Mas não acho que seja bom que Mia vá comigo.
— Eu a levo para casa — Ethan se oferece. — Pode ficar tranquilo.
James assente, passando a mão pelo rosto num gesto cansado. Seus olhos encontram os meus e ele tenta sorrir, embora o gesto seja fraco.
— Tudo bem para você, filha?
— Sim. Não quero… encontrar David novamente.
Ele me abraça uma última vez antes de caminhar em direção ao detetive, enquanto Ethan coloca a mão nas minhas costas e me conduz para seu carro.
O trajeto até em casa é silencioso. Mas minha mente não para de reviver os últimos momentos. Por mais que eu tente me concentrar na paisagem noturna que passa pela janela, as memórias continuam voltando.
Não apenas de hoje. De todas as vezes.
A primeira garrafa de bebida. A primeira vez que David levantou a mão para mim. Como o medo se tornou meu companheiro constante.
— Mia? — A voz de Ethan me traz de volta ao presente, e só então percebo que já estamos parados em casa. — Onde você estava?
— No passado — murmuro, tentando sorrir. — Mas não quero mais voltar para lá.
Ele estende a mão, tocando meu rosto. Depois, solta um suspiro pesado e posso ver o alívio e a preocupação se entrelaçando dentro dele. Ethan ouviu o que David disse e, com certeza, sente a mesma insegurança que eu.
Com cuidado, ele me ajuda a sair do carro e juntos seguimos para dentro de casa. O ambiente está silencioso, com poucas luzes acesas. Subimos as escadas e logo estamos no meu quarto.
— Quer que eu fique? — Ethan pergunta, entrelaçando seus dedos nos meus quando nos sentamos na beira da cama.
Quero dizer que sim. Que preciso dele aqui. Que o som da sua respiração é a única coisa que me impede de surtar completamente. Mas sei que não posso.
— Não sabemos que hora meu pai vai voltar — murmuro, odiando ter que ser tão racional.
— Posso inventar uma desculpa. Dizer que estou preocupado demais para te deixar sozinha — ele diz, acariciando meu rosto com a mão livre.
— E qual seria sua explicação para estar no meu quarto às… — olho para o relógio — onze da noite? Ou pior, e se acabamos dormindo e ele nos flagra?
— Então, James se juntará a David, porque ele certamente vai me matar por isso — murmura, me fazendo rir pela primeira vez desde que tudo aconteceu.
No entanto, o som parece errado aos meus ouvidos. Como se eu não devesse rir depois de tudo. Como se ainda devesse estar com medo.
Talvez eu esteja.
Quinze minutos depois, saio do banheiro e me enfio debaixo das cobertas.
Os últimos meses passam como um filme em minha mente: a morte da minha mãe, as surras, a fuga, o encontro com Ethan, reencontrar meu pai... todos os momentos bons e ruins que me trouxeram até aqui.
— Mia? — A voz do meu pai ecoa pelo corredor alguns minutos depois. — Ainda acordada?
— Pode entrar.
James abre a porta devagar, como se estivesse com medo de me assustar. Seus olhos estão vermelhos.
— Conseguiu resolver tudo? — pergunto enquanto ele se senta na beira da cama.
— Sim. Ele não vai sair tão cedo. — Ele passa a mão pelo rosto, cansado. — Você está bem?
— Vou ficar.
Ele assente, entendendo o que não digo. Que ainda tenho medo, que vai demorar para me sentir completamente segura. Mas que, pela primeira vez, acredito que posso superar isso.
— Pai? — chamo baixinho. — Obrigada por não desistir de mim.
James segura minha mão, seus olhos marejados.
— Nunca — meu pai promete.

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