Sal, Pimenta e Amor(Completo) romance Capítulo 48

Não sei há quanto tempo estou suja, imunda, esperando alguma notícia de Ale no hospital. Aninha parece agora melhor do que eu, ou pelo menos não está aparentando tanto sofrimento, muito embora ela me deixe em paz na minha dor.

A única coisa que ela me obrigou foi beber um pouco de água, mas eu não me importei o fazendo mecanicamente. Conforme o tempo passava, nenhuma notícia chegava. Aninha então decidiu falar:

– Eu não sei o que deu em mim quando eu ataquei aquela mulher. Acho que foi o medo, a adrenalina. Ainda bem que eu já tinha feito algumas aulas de defesa pessoal. O instrutor disse que eu tinha muita força. Eu pensei que poderia aproveitar disso para nos salvar. Só não queria que Ale recebesse um tiro para isso. – Disse Aninha sincera e eu voltei minha atenção para ela percebendo que os olhos dela também estavam cheios de lágrimas, correndo neles o medo de tudo o que tinha acontecido.

– Muito obrigada, Aninha. – Digo me aproximando dela e tomando suas mãos nas minhas. As delas estão mais quentes que a minha, geladas pelo medo de abandono. – Você nos salvou. De verdade. – E eu sou sincera ao dizer isso olhando nos olhos de Aninha. Eu realmente não sabia onde estaríamos se ela não tivesse se mexido na mesma hora que Ale havia se mexido. De qualquer forma, não há como ficar cogitando o que aconteceria.

Aninha suspira.

– Vovó queria falar com você, Sara. Você aguenta? – Pergunta Aninha tirando o celular do bolso, o mesmo tocando efusivamente com uma foto de vovó. Suspiro. Não havia muito o que eu fazer, havia? Tinha que esperar e aproveitaria isso para deixar minha família em um pouco de paz.

– Alo? – Pergunto ao atender e só consigo ouvir primeiro minha mãe chorando, seguido dela falando:

– Sara, você está bem, querida? Sara, você se machucou? Céus, como está o meu genro? O que houve? – Perguntou minha Mãe aflita e não era para menos. Tínhamos acabado de sofrer um atentado feio e realmente achamos que íamos morrer depois dessa.

– Estou bem, mãe. – Digo entre lágrimas. – Ale está numa cirurgia. – Seguro a dor que sinto de dizer que estou com medo de perde-lo, embora isso pareça perceptível na minha voz. Para minha surpresa, mamãe tem o telefone tomado pela minha vó e eu logo ouço a voz dela se fazendo no telefone:

– Sara, graças a Deus você está bem. Ai meu Deus, eu e sua mãe tivemos tanto medo de te perder. Alguma notícia de Ale? Céus, você deve estar um caco, Sarinha. – Diz minha vó e eu só consigo cair novamente no choro, porque ninguém me dá uma notícia sequer de Ale!

– Eu estou com medo de perde-lo, vovó. – Admito para ela. Ela parece entender o que eu digo. Ao menos depois da nossa conversa no quarto, é o que acho que ela entende. Ela fica um tempo em silencio do outro lado do telefone e eu emendo. – Vovó, porque a gente tem que passar por isso? – E vovó parece estar mais muda do que eu.

– Eu vou orar por ele, querida. Vocês são os opostos mais atraídos que eu conheço. Ele não vai morrer, querida. – Minha vó afirma. – O amor de vocês é muito forte para que isso aconteça. – E eu já não sei se minha vó está dizendo isso para me deixar forte ou se é o medo dela de que eu não aguente.

Por que ela não é dona da verdade para saber do destino de Ale, muito embora eu quisesse que ela estivesse certa.

– Eu espero que não. – Digo entre lágrimas. E espero que o destino não seja tão malvado comigo como anda sendo. Maltratando o meu pobre coração até que não haja um pedaço dele.

*

Quando pensamos no tempo parece que ele tende a demorar cada vez mais por conta disso. Analiso o relógio vendo a hora passando tão lentamente que parece machucar-me cada vez mais. Aninha teve que sair novamente para dar depoimento para a polícia. Ana está presa. De qualquer forma, eu não tenho condições para dizer qualquer coisa que seja e Aninha pareceu convencer a polícia a esperar pelo meu depoimento.

Algumas coisas acontecem na nossa vida e acho que é para a gente saber dar o devido valor. No meu caso, o valor ao sentimento. Ainda assim, Ale e eu tínhamos tão pouco tempo juntos, mas parecíamos nos conhecer há tanto tempo. Ao menos intimamente, já que eu não poderia dizer o mesmo sobre conhece-lo pessoalmente. Eu não sabia um monte de coisas de Ale. Embora agora soubesse mais uma coisa.

Ale gostava de mim. E eu nutria o mesmo por ele.

Não sei quanto tempo fiquei esperando, o dia amanhecendo. Não conseguia sair da cadeira dura de jeito nenhum e ouvi Aninha mencionar que mamãe e vovó viriam para a cidade naquele dia, mas eu não entendi nada direito. Na verdade, parecia um zumbido chato no meu ouvido, já que minha única atenção e preocupação era com a hora passando e eu sem nenhuma notícia maldita sobre Ale.

Por quanto tempo ficariam me enrolando? Céus, Ale estaria bem, ou não? A família dele, será que já sabia de algo do tipo? Pois ninguém tinha aparecido ainda. E meu coração se apertava sempre que eu via um médico e ninguém parecia se preocupar em vir na sala de espera pedir por alguém acompanhando Ale para falar alguma notícia. Qualquer uma que fosse. Qual era o problema deles em não dar nenhuma notícia?

– Graças a Deus. Como faço para ter notícias de Alexander, meu filho? – Pergunta Matilde. Percebo que ela está perguntando para a mulher do balcão que parece arregalar os olhos sem saber como fugir das garras de uma mãe furiosa, já que ela não tinha notícia alguma. Suspiro. Decido salvá-la.

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