Algumas coisas acontecem na nossa vida e a gente não consegue sequer entender o motivo. Parece que as coisas estavam saindo do rumo, que tudo está acontecendo do jeito que a gente não quer e, quando percebemos, tudo parece estar dando errado.
Ao menos para nós.
No entanto, acredito que o destino sempre tem uma carta na manga para nós. Sempre planeja algo que entenderemos somente no futuro e, mesmo que o mundo pareça desabar agora mesmo na cabeça, sempre há alguma coisa para tirar de tudo e, no fim, as coisas tendem a dar certo. Na melhor maneira possível.
Eu ainda não estava acreditando que iria casar, essa é a verdade. Um sonho que parecia impossível de compreender, se é que havia compreensão. Se tivessem me perguntado alguns meses atrás se eu achava que poderia encontrar o par da minha vida, que eu me imaginaria casando. Enfim, nada disso passaria pela minha cabeça. Afinal, eu sempre fui muito ligada no trabalho. Sempre ligada nos meus objetivos, mesmo que para isso precisasse trocar minha vida pessoal para tanto.
Não, eu nunca ia imaginar isso. Na verdade, quase tinha certo que morreria solteira com milhares de gatos e cozinhando até mesmo velhinha. Nunca se passaria na minha cabeça que eu poderia casar com um homem como Alexander. Não mesmo. Fora de cogitação.
Mas Ale tinha entrado na minha vida de uma maneira que eu já não sabia mais quem eu era antes dele. Se é que havia existido uma Sara antes de Ale. E em tão pouco tempo a gente tinha passado por tanto juntos...
– Minha Sarinha está tão linda... – Ouvi mamãe dizer.
– Mãe, o que combinamos sobre Sarinha? – Perguntei tentando esconder as lágrimas que se ajuntavam nos meus olhos e que também pareciam existir nos olhos da minha mãe, tão sensitiva quanto eu.
– Eu sei, eu Sei. – Minha mãe fungou. – Mas é que... – E ela pausou tentando segurar a vontade de chorar. – Seu pai estaria orgulhoso de você. Ele ia querer estar aqui. – Mamãe disse sentida.
– E ele está, minha filha. – Disse vovó adentrando o quarto. Ela parecia pensativa também o que me fez ficar a pensar naquela situação toda e o que eu tinha passado até então para ter chegado até ali.
Não foi fácil casar. Essa é a verdade. Mas eu e Ale conseguimos arrumar tudo na medida do possível. Ale repassou algumas lojas para o nome de Melissa e algumas para o nome do pai dele. Vendemos o meu restaurante e mais umas redes que Ale ficou com ele e ficamos apenas com uma das redes conosco. O dinheiro que ganhamos com tudo isso aproveitamos para investir numa casa para ajudar outras mulheres a conseguirem mudar de vida e Aninha se prontificou a cuidar da mesma, do jeito que ela sabia muito bem se comunicar com todos. Murilo fez questão de fazer uma nota no jornal sobre a casa, de forma que mais pessoas tivessem contato e soubessem. Tudo foi se ajeitando como possível, embora não tudo.
Mulher Decidida, o nome que a Ong de ajuda ganhou foi rapidamente inalgurada e Aninha vem dando bastante conta convidando outras mulheres a mostrarem como podem ser independentes. A casa recebe mulheres que comprovem que estão estudando e trabalhando para se tornarem independentes e elas doam apenas 5 por cento da renda que ganham para a ONG de forma que quando conseguirem se manter e se formarem, essa renda possa ajudar a manter a casa para que outras mulheres possam fazer o mesmo que ela. E a casa vem seguindo, recebendo mulheres do Brasil todo que estejam estudando e trabalhando na Grande São Paulo.
Matilde não gostou nem um pouco disso. Na verdade, ela já tinha deixado bem claro que não gostava do meu relacionamento com Ale e ficou possessa ao saber que Ale tinha vendido algumas redes apenas para isso, como ela mesma se referiu a esse grande projeto. Ela falou tanto no ouvido do pai de Ale, que vem passando pelos problemas de saúde que o pai dele teve outro ataque e Ale quase recaiu em depressão ao saber que o pai dele estava em coma e com riscos de não voltar por conta do seu caso sério.
Matilde então se calou, sentida com o caso de Frederico, mas sempre que visitava Ale e eu estava lá, tascava-me palavras ácidas, como é típico dela. Eu não ligo. Já meio que me acostumei com o ódio dela. De qualquer forma, estou namorando Ale e não a mãe dele e ele realmente não quis que a mãe dele aparecesse no casamento, visto que ela só iria mesmo para ficar falando mal de mim. Acabou que ela mesma disse que não iria.
Mas, mesmo diante da tristeza do quadro do pai de Ale, as coisas deram certo para nós. O restaurante nosso continua fazendo muito sucesso e a gente continua se dando muito bem... Até demais da conta... Ale... Hm... Digamos... Vem treinando a arte de me deixar louca digamos assim.
– Ele está aqui sim. – Respondo por fim. Acredito que seja de onde meu pai esteja, ele está me olhando sim. Está vendo o casamento, tudo. Pode não estar presente fisicamente, mas tenho certeza que ele está velando por mim.
Pensar nisso faz meus olhos encherem-se de lágrimas, pois papai foi muito especial para mim. Não tenho muitas lembranças dele, mas vejo o quanto minha mãe tem carinho por ele. Não somente ela, mas vovó também.
– Minha filha, tem como você ver se está tudo certinho com a música e tudo mais? Acho que a Sara já está pronta. – Disse vovó fazendo mamãe que quase caia em lágrimas concordar meneando a cabeça e concordando saindo rapidamente do quarto. Na verdade, vovó estava sendo esperta. Eu sabia que se mamãe continuasse me olhando com um vestido de noiva na frente dela por mais tempo ela ia pirar e chorar ainda mais por meu pai não poder estar vendo isso e era melhor que ela se ocupasse em fazer outra coisa a fazer uma coisa dessas. Vovó era esperta.
– Sara, sente-se rapidinho por favor. – Disse vovó sentando-se na beirada da cama. Franzi o cenho achando estranho que ela pedisse isso e antes de fazer o que ela pedia decidi pirar um pouquinho enquanto hiperventilava:
– Ale não desistiu, não é mesmo Vovó? E Melissa? O tio conseguiu busca-la? Ai meu Deus, acho melhor eu tirar esse vestido... – Comecei fazendo vovó rir enquanto me repreendia:
– Pare de falar asneiras, Sara! Ora essa, está querendo fazer um agouro na sua vida? Já não basta aquela mulher víbora ter aparecido? – Disse vovó e isso me fez arregalar os olhos sem acreditar enquanto eu voltava a hiperventilar.
– Matilde está aí? – Perguntei atônita e vovó suspirou.
Eu e Ale já estávamos há quase uma semana na fazenda terminando de dar os últimos retoques na fazenda. Ale insistiu para que casássemos aqui e eu concordei sem pestanejar, pois tinha lembranças muito boas com ele do momento que ficamos aqui. E seria um momento mágico a guardar sempre na memória, pois se tratando da roça, toda a família aparecia. Aparentemente, até mesmo minha sogra.
– Sim, veio com um homem na cadeira de rodas. Mas ela não abriu a boca uma vez que fosse. Não se preocupe com isso, Sara. Eu preciso falar com você e você está me enrolando. – Concordei balançando a cabeça e vovó então suspirou enquanto começava a falar.
– Querida, eu estou muito orgulhosa de você. Você finalmente mostrou o seu potencial e eu tenho muita felicidade em tê-la como neta. O que quero dizer no fim, é que um relacionamento é feito de erros e acertos e eu sabia que você e Ale estavam em muitos erros quando conheci vocês. Na verdade, era quase perceptível que parecia que era tudo de mentirinha.
– Mas não era vovó... – Tentei, pois até então eu e Ale tínhamos combinado que ninguém mais ia ficar sabendo disso e que isso ficaria para o nosso passado remoto como uma história interna de nós dois mesmos. Ver vovó mencionar uma coisa dessas só me fez ficar com as orelhas levantadas, esperando o pior para desmenti-la.
O pior veio com muita risada.
– Você não me engana, Sara. Onde já se viu. Querendo enganar a mais mentirosa do mundo? Eu disse para mamãe que seu avô tinha me deflorado para casar com ele. Eu estava prometida a outro. – Comentou vovó o que fez meus olhos se arregalarem, pois vovó nunca tinha contato essa história para a família. Ninguém sabia disso. Para confirmar o que dizia, vovó ainda piscou para mim, enquanto eu continuava com a minha cara de tonta sem acreditar no que eu ouvia, pois parecia muita loucura.
– Como... O que... Pra que? – Perguntei e acabei rindo da minha confusão. Vovó riu também.
– Esse é o nosso segredinho, Sara. – Ela disse e eu concordei ainda vermelha pela história da vovó e por perceber que vovó sabia da loucura que eu e Ale tínhamos passado. Como ela tinha descoberto? Isso também era um grande mistério para mim, para falar a verdade.
– Eu só quero Sara que você não deixe ninguém decidir por vocês, como casal. Que ninguém meta o dedo onde não foi chamado. Como disse, eu estava prometida a outro e não deixei que isso ultrapassasse o sentimento que eu e seu avô tínhamos um pelo outro. E ninguém pode decidir o seu futuro que não seja você mesma, querida. Eu fico feliz que Ale tenha te ensinado a se impor mais na vida, pois está certo. Você teve aprender a saber agir melhor, a seguir da maneira que quer. Mas nunca se esqueça do que essa sua vó louca está dizendo. O destino de vocês só diz respeito a vocês e mais ninguém e eu estou muito feliz que você tenha encontrado alguém que entenda a sua loucura, tal como seu avô entendeu a minha. – Disse vovó com lágrimas nos olhos, emendando: – E como eu aconselhei a sua mãe e ela fez questão de seguir com empenho as minhas palavras. Seu pai era maravilhoso, Sara. – E eu concordei com as palavras da vó, tentando esconder as lágrimas que queriam se avolumar nos cantos dos meus olhos para molhar a maquiagem ao pensar em tudo o que vovó me dizia e que era lindo.
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